Data Zoom Amazônia: primeira plataforma de cruzamento de dados públicos da Amazônia Legal

Plataforma será lançada em evento online nesta quinta-feira (17/2)

por Cássia Christe

O projeto Amazônia 2030 realiza o lançamento do Data Zoom Amazônia, a primeira plataforma interativa de visualização e cruzamento de dados da Amazônia Legal, às 10h da próxima quinta-feira, dia 17 de fevereiro. Durante o evento será realizado um workshop online sobre a ferramenta para jornalistas e pesquisadores.

A ferramenta possibilitará ao usuário cruzar dados e compreender relações entre diferentes temas. “O nosso objetivo é que o usuário conte histórias com base nos dados. A ideia é estimular as pessoas a olharem uma série de bases e descobrir como elas podem se relacionar. Buscamos simplificar o acesso aos microdados da Amazônia Legal e desenvolver uma plataforma de visualização de dados que seja aberta, acessível, interativa e parametrizável”, afirmou Gustavo Gonzaga, coordenador do projeto Data Zoom.

O evento é online e gratuito.

Para participar se inscrever no workshop: clique aqui

Sobre o Amazônia 2030

Como desenvolver a Amazônia, aproveitando de forma sustentável os recursos naturais? Para responder a essa pergunta, quatro reconhecidas organizações de pesquisa brasileiras se juntaram para fazer o mais completo plano de ações para a Amazônia dar um salto de desenvolvimento humano e econômico preservando seus recursos naturais até 2030. Trata-se do projeto Amazônia 2030. O projeto é uma iniciativa conjunta do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e do Centro de Empreendedorismo da Amazônia, ambos situados em Belém, com a Climate Policy Initiative (CPI) e o Departamento de Economia da PUC-Rio, localizados no Rio de Janeiro. Pesquisadores tem gerado conhecimento a partir das experiências dos povos da floresta, empresários, empreendedores e agentes públicos. Esses documentos reunirão recomendações práticas, que poderão ser aplicadas por agentes privados e públicos.

As empresas devem entrar no debate sobre cidades sustentáveis na Amazônia

Para viabilizar as adaptações necessárias, setor precisa ouvir quem vive nos locais mais vulneráveis, como é o caso das cidades amazônicas

Não dá mais para negar. As mudanças climáticas deixaram de ser um alerta que parecia distante e estão aí. Mudanças nos padrões de chuva, seca e temperatura já fazem parte do nosso dia a dia e estamos sofrendo os impactos delas em todas as regiões. São Paulo passou por uma crise hídrica violenta em 2013 e agora está passando por outra. As chuvas de verão da última temporada provocaram inundações, desabamento, interdição de estradas, destruição de prédios históricos e mortes em Minas Gerais e na Bahia. Uma onda de calor fora do normal na região Sul já está perturbando a vida das pessoas gerando problemas de saúde ou, no mínimo, dependência de ar condicionado. A elevação do nível do mar também está causando problemas de salinização no maior rio do mundo, o Amazonas, deixando comunidades ribeirinhas do Amapá sem água potável.

Esses são só alguns exemplos, temos tantos que esse artigo poderia ser inteiro uma lista deles. Mas vamos tentar falar do que podemos fazer, além de mudar de adotar hábitos mais sustentáveis no nosso dia a dia e exigir políticas que mitiguem esses efeitos num futuro próximo. Vai ser preciso e urgente adaptar as cidades ao novo clima e também mudar suas dinâmicas para que elas também emitam menos, ou seja, para que a gente não fique enxugando gelo enquanto o calor aumenta cada vez mais. E essa adaptação vai gerar negócios.

Teremos muito trabalho pela frente. Vamos precisar melhorar os canais, criar parques, áreas verdes e outras soluções para reduzir a impermeabilização do solo, como telhados verdes ou jardins de inundação. Também vamos precisar investir em sistemas de uso mais eficiente de água e energia e em cidades mais preparadas para conviver com o calor, com mais arborização, prédios que esquentam menos e aproveitem, por exemplo, ventilação e luz natural, o que também ajuda a reduzir as emissões das cidades. Mesmo soluções mais simples, como reciclar o lixo e investir em ciclovias e transporte público, ainda não são realidade em muitas das nossas cidades, especialmente as fora do eixo sul-sudeste, mas precisam passar a ser. Isso sem falar no potencial criativo para novas soluções, que são muito bem-vindas.

Tudo isso gera negócios que, além de emergenciais e de extrema importância, serão bem pagos, justamente por isso. As empresas, que vão oferecer esses serviços e soluções precisam, além de boas ideias, participar das discussões sobre o assunto. Isso porque está cada vez mais claro que ideias pensadas em um escritório podem não ser as melhores saídas para quem, de fato, vive nas regiões onde elas serão aplicadas. É o caso dos municípios amazônicos, que possuem muitas especificidades que as tornam, inclusive, mais vulneráveis às mudanças climáticas, como o fato de serem banhadas por rios e a grande distância entre as cidades. E essa é uma região chave, na qual o planeta todo está de olho.

Já sabemos que para cuidar das florestas, precisamos cuidar das cidades, mas, para isso, precisamos conversar com quem vive nelas. As organizações da sociedade civil e lideranças locais são peça-chave nesse processo, pois sabem do que estão falando e conhecem mais do que ninguém soluções para os problemas que enfrentam. Isso quer dizer que o conhecimento das populações locais e comunidades tradicionais é fundamental para o planejamento de cidades sustentáveis. O que as empresas devem fazer então? Ouvir e, sem seguida, colocar a mão na massa.

Para Fábio Ferraz, economista e pesquisador da urbeOmnis, o debate sobre sustentabilidade urbana ou cidades sustentáveis tem de se dar de modo interinstitucional, o que inclui a participação ativa das empresas e da iniciativa privada em geral. “Se, por um lado, os cidadãos e consumidores tendem cada vez mais a optar por produtos e serviços que agreguem a responsabilidade socioambiental, por outro, os órgãos públicos também tendem a criar novas regulamentações que implicam em maior controle sobre os impactos das atividades econômicas, assim como priorizar fornecedores ‘mais sustentáveis’. Some a isso uma multiplicidade de oportunidade de negócios e lucros que estão surgindo com a economia circular, de baixo-carbono e tantas outras novas economias”, afirma.

Fábio é coordenador do projeto “Nós Fazemos a Cidade”, desenvolvido pelo GT Infraestrutura em parceria com Fundo Casa Socioambiental e Fundação Vitória Amazônica, que lançou um guia, um estudo técnico e uma série de vídeos sobre a adaptação das cidades amazônicas às mudanças climáticas. O material está disponível, gratuitamente, no site do GT Infraestrutura, e deixa claro que precisamos pensar em projetos que tenham o foco nas pessoas, pois a infraestrutura do concreto já provou que deve fazer parte do nosso passado, como bem ilustram os exemplos do início desse texto.

A Amazônia 2030, iniciativa de pesquisadores brasileiros para desenvolver um plano de desenvolvimento sustentável para a Amazônia brasileira, também tem as cidades no centro do debate. “Elas são o espaço onde tudo acontece, onde o trabalho se realiza, onde as pessoas se educam, se divertem. Para que haja sucesso no desenvolvimento da Amazônia Legal é preciso não apenas capital físico, recursos naturais que se transformam em matéria-prima, mas também capital humano, ou seja, pessoas qualificadas, e essas pessoas buscam associar ao trabalho, qualidade de vida”, explica Flavia Chein, pesquisadora do projeto e professora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

A especialista destaca que uma cidade sustentável também precisa ter bons indicadores de habitabilidade urbana, ou seja, a habitação tem que ser avaliada em seu sentido mais amplo, englobando o direito à cidade, ou seja, de estar inserida na malha urbana. “Nesse conceito a habitação tem relação com a rede de infraestrutura, possibilidade de acesso aos equipamentos públicos, pertencimento ao território urbano e inclusão, fatores que têm relação direta com a qualidade de vida encontrada nas cidades”, detalha. Ela também deixa claro que pensar a habitabilidade urbana não deve ser apenas um compromisso dos gestores públicos, mas também, inevitavelmente, um compromisso das empresas. “Uma cidade sustentável é capaz de atrair mais indivíduos qualificados, melhora as condições de saúde da população e, por consequência, aumenta sua produtividade. É urgente que se faça um pacto entre governo, setor privado e sociedade civil organizada para se incorporar ao desenho urbano das cidades da Amazônia Legal, o aproveitamento do seu ecossistema natural e o respeito às riquezas naturais da região”, completa Flavia Chein.

Este artigo foi escrito por Angélica Queiroz e Alexandre Mansur e publicado, originalmente, na coluna Ideias Renováveis, da Exame.

Foto: Vista aérea da cidade de Belém, no Pará (Alexandre Mansur/Reprodução)

GT Infra lança guia “Nós Fazemos a Cidade”

Material, desenvolvido em parceria com Fundo Casa Socioambiental e Fundação Vitória Amazônica, traz roteiro de atuação para ajudar as cidades amazônicas a se adaptarem às mudanças climáticas

Não dá mais para negar: as consequências das mudanças climáticas já estão sendo sentidas em todo o mundo. No Brasil não é diferente e várias cidades têm sofrido com o aumento dos eventos extremos, que a cada ano se mostram mais severos e impactantes. Exemplos são os crescentes níveis de temperatura, cheias, inundações, secas, desmatamento e queimadas, que não param de aparecer nos noticiários e alarmam populações e governos.

As cidades amazônicas merecem atenção especial nesse contexto, pois têm especificidades que as tornam mais vulneráveis a alguns desses eventos, além do fato de o que acontece no meio urbano impactar também na floresta. Cientes de que as mudanças climáticas e seus efeitos são inegáveis, essas cidades precisam se adaptar para se tornarem mais resilientes a esses eventos. Os governos têm papel importante e precisam se mobilizar, mas as organizações da sociedade civil também são fundamentais para que esses espaços consigam se adaptar a tempo de evitar consequências ainda mais catastróficas.

De olho nisso, o GT Infraestrutura acaba de lançar, em parceria com Fundo Casa Socioambiental e Fundação Vitória Amazônica, o guia “Nós Fazemos a Cidade”, uma cartilha que destaca o papel das organizações da sociedade civil de nível local — em especial aquelas sediadas na Amazônia — e apresenta um roteiro para planejamento, gestão e governança de políticas públicas para adaptação das cidades às mudanças climáticas.

O material está disponível, gratuitamente, aqui.

Como parte das estratégias de divulgação, O GT também realiza, nos próximos dias 18, 19 e 20 de janeiro de 2022, também realiza um ciclo de webinários para discutir alternativas para as cidades e dar visibilidade ao conteúdo do guia.

“É somente a ação local que pode dar celeridade às ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas sob pena de grandes perdas econômicas e preciosas vidas humanas”, afirma a introdução da cartilha. “E a ação local só pode se dar de modo perene se ocorrer com o apoio e engajamento da população por meio de organizações da sociedade civil que atuem participando em comunhão com a administração pública municipal”, completa o material.

GT Infraestrutura realiza ciclo de webinários sobre cidades amazônicas

Papel das organizações da sociedade civil em adaptação das cidades amazônicas às mudanças climáticas é o foco dos debates, que serão realizados nos dias 18, 19 e 20 de janeiro de 2022

Com o foco em apontar para o papel fundamental das organizações da sociedade civil locais na organização de ações de adaptação de cidades amazônicas às mudanças climáticas, o GT Infraestrutura realiza, nos dias 18, 19 e 20 de janeiro de 2022, o ciclo de webinários  “Nós Fazemos a Cidade”.

Serão três tardes de atividades, que abordarão os seguintes temas:

18/1 – Planejamento urbano e adaptação de cidades amazônicas às mudanças climáticas

19/1 – Organizações comunitárias, governança multinível e adaptação de cidades amazônicas às mudanças climáticas

20/ 1 – Desenvolvimento sustentável e adaptação de cidades amazônicas às mudanças climáticas

No primeiro webinário (18/1), o foco da discussão estará em discutir como o planejamento urbano e o estabelecimento de programas de gestão de resíduos e saneamento básico, de habitação, de arborização urbana, defesa civil etc.são fundamentais para definir ações para minimizar riscos associados a eventos como o calor excessivo, inundações, secas e incêndios florestais.

No segundo webinário (19/1), a ideia é discutir a necessidade de fortalecimento dessas instituições e do estabelecimento de um processo de governança multinível para complementar iniciativas de nível nacional e subnacional como a Política Nacional de Mudança do Clima e do Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima.

Já o terceiro webinário (20/1), vai abordar como o conceito e as práticas de desenvolvimento sustentável e a Agenda 2030 da ONU são, juntamente com os esforços de adaptação, ferramentas fundamentais para a construção de políticas públicas urbanas.

As inscrições para os três dias de debate estão abertas no link.

A transmissão será pelo Youtube do GT Infraestrutura.

As atividades são parte de um projeto maior, que também já lançou uma cartilha, em parceria como o Fundo Casa e com a Fundação Vitória Amazônia, como guia para as organizações sociais, material que está disponível no link.

2022 será ano dos negócios de impacto na Amazônia

O ano de 2022 traz um potencial crescente de apoio a negócios que têm em sua natureza a conservação da Amazônia e a inclusão e geração de renda

A Amazônia foi a bola da vez em 2021. Nunca se falou tanto sobre a maior floresta tropical do planeta. Os índices de desmatamento foram os mais alarmantes. Duas grandes conferências da ONU – da Diversidade Biológica e da Mudança Climática – reuniram líderes mundiais e trouxeram em seu centro a importância da Amazônia para a sobrevivência da humanidade no planeta.

Empresas, investidores e organismos nacionais e internacionais voltaram seus olhos para cá, revelando um grande potencial de investimento em iniciativas que geram impactos positivos para a floresta como forma de preservar a diversidade biológica e mitigar a emergência climática.

Exatamente por isso, o ano de 2022 traz um potencial crescente de apoio a negócios que têm em sua natureza a conservação da Amazônia e a inclusão e geração de renda e qualidade de vida para seus povos.

Construir um pipeline de negócios de impacto aptos a receber investimentos e a crescer é um dos desafios para esse caminho virtuoso, mas absolutamente necessário.

Esses negócios já existem. Em 2021, a AMAZ aceleradora de impacto realizou uma Chamada de Negócios, visando selecionar seis deles para aceleração e investimento em 2022. Recebeu 156 inscrições, originadas de vários estados brasileiros.

Os negócios selecionados – BrCarbon, Floresta S.A., Inocas, Mahta, Soul Brasil e Vivalá – geram impacto nos estados do Acre, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Roraima. E atuam com soluções inovadoras para o desenvolvimento de produtos e serviços em cadeias de valor estratégicas para a conservação da Amazônia em áreas como reflorestamento, projetos de carbono e conservação florestal, produção de óleos, alimentação e turismo de base comunitária.

Os seis passarão por um processo de aceleração em 2022 e receberão investimento inicial de R$ 200 mil, havendo possibilidade de reinvestimento (follow) de outros R$ 400 mil ao final do processo. Em 2022, a aceleradora fará nova Chamada de Negócios, e a expectativa é ampliar o portfólio de negócios acelerados e o pipeline.

Uma nova geração de empreendedoras e empreendedores, que vê o valor da floresta em pé e a importância de envolver as populações amazônidas nas cadeias produtivas que conservam a maior floresta tropical do planeta, vem crescendo na Amazônia.

A atuação em rede, envolvendo diferentes players, é essencial para acelerar esse novo modelo de desenvolvimento para a Amazônia. E a AMAZ parece ter isso bem claro em sua composição.

Coordenada pelo Idesam (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia), a aceleradora tem como fundadores e parceiros estratégicos Fundo Vale, Instituto humanize, ICS (Instituto Clima e Sociedade), Good Energies Foundation, Fundo JBS pela Amazônia e Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA). Conta também com uma ampla rede de parceiros como Move.Social, Sense-Lab,
Mercado Livre, ICE, Costa Brasil, Climate Ventures e investidores privados.

Esse arranjo possibilitou a criação de um fundo de investimento híbrido (blended finance) de R$ 25 milhões para investimento em negócios de impacto nos próximos cinco anos, o primeiro voltado exclusivamente para a região. Serão acelerados e investidos 30 negócios de impacto na Amazônia nos próximos cinco anos, além de garantir a gestão e o acompanhamento desses negócios pelos próximos dez anos.

O potencial de impacto aproximado dos negócios que serão acelerados em 2022, nos próximos cinco a dez anos, inclui mais de um milhão de hectares de florestas preservados, mais de 700 mil toneladas de CO2 de emissão de carbono evitadas anualmente, 3.700 hectares de florestas recuperadas, centenas de famílias beneficiadas e injeção de cerca de R$ 30 milhões em comunidades locais.

Se o pipeline desse tipo de negócio continuar a crescer nos próximos anos, o ecossistema de investimentos e negócios de impacto, que vai aos poucos se desenhando, tende a se tornar cada vez mais potente e ampliado, contribuindo fortemente para um novo desenvolvimento na Amazônia.

Imagem: Construir um pipeline de negócios de impacto aptos a receber investimentos e a crescer é um dos desafios para esse caminho virtuoso, mas absolutamente necessário (Rodrigo Duarte/AMAZ/Divulgação)

Este artigo foi escrito por Alexandre Mansur e Mônica Ribeiro e publicado, originalmente, na coluna Ideias Renováveis, da Exame.

Quais serão os corredores verdes para exportar nossa soja

O Brasil pode melhorar a infraestrutura logística para transportar grãos de forma mais econômica e com menos emissões

O Brasil tem dois grandes desafios para aumentar sua competitividade. O primeiro é modernizar a infraestrutura logística para a exportação de produtos agrícolas. Isso é fundamental no país, que possui um grande potencial para ser mais competitivo, mas sofre com uma logística de exportação ultrapassada. Essa logística é crucial para entrar no mercado com bom preço e segurança. O segundo grande desafio é reduzir a emissão de carbono nessa área. Isso é inescapável uma vez que, países e empresas estão assumindo o compromisso de reduzir as emissões de gases responsáveis pelas mudanças climáticas. Mas temos a oportunidade de atender esses dois desafios, criando boas rotas de exportação ao mesmo tempo eficientes, seguras e de baixa emissão. Esse foi o tema do seminário “Corredores verdes para a soja: a rota sustentável até a China”, realizado pelo Instituto O Mundo Que Queremos, com apoio da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), do Instituto Clima e Sociedade, do portal Um Só Planeta e da Convergência pelo Brasil, no dia 30 de novembro. (O vídeo completo pode ser assistido no link.)

Um exemplo de chance para melhorar nossa infraestrutura em todos esses aspectos é o novo porto que está em construção no Espírito Santo. Ele fica na cidade de Aracruz, e está previsto para ser inaugurado no final de 2023. Com o investimento de 2,8 bilhões, o novo porto tem potencial para receber navios de dimensões até então inéditas no Brasil. Esses navios gigantes são uma tendência no mercado global. Permitam transportar carga – especialmente grãos – gastando menos combustível por tonelada, o que significa uma menor pegada de carbono e um custo mais baixo. A vantagem é mais expressiva para mercados mais distantes. Isso é importante porque o Brasil é o país mais distante de nosso maior parceiro comercial: a China. “A perspectiva é de receber navios de 150 a 200 mil toneladas permitindo uma redução de 46% de emissões no trecho marítimo até a China”, diz Christine Samorini, presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes). Para o comandante Fernando Alberto Costa, oficial da reserva da Marinha do Brasil, “essa infraestrutura é extremamente importante e mais eficaz com menores custos e menores impactos para os estados”.

A ampliação da capacidade dos portos do litoral brasileiros incentiva também investimentos para melhorar a malha ferroviária que traz os grãos das áreas de produção. Isso é vital. “O produtor rural é extremamente eficiente e se torna menos competitivo quando entra no sistema de logística. A nossa logística ainda é bastante encolhida. Muito pequena para o sistema produtivo do nosso país”, afirma Fábio Meirelles Filho, presidente da Associação dos Produtores de Soja, Milho, Sorgo e Outros Grãos Agrícolas do Estado de Minas Gerais (Aprosoja-MG). A expectativa é que investimentos para melhorar a saída do Oeste para o Leste melhorem a situação. “O Brasil exporta metade do volume de soja que produz. Cerca de 90% disso vai para a China. A redução de custos logísticos aumenta o market share do país.”, afirma Thiago Péra, Coordenador do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Universidade de São Paulo (Esalq-Log). Essa modernização atende a uma grande necessidade do setor.

Os benefícios da redução das emissões do transporte virão em conjunto com a desvinculação total da agricultura brasileira de qualquer prática ou estímulo indireto ao desmatamento e à grilagem. Isso porque o desmatamento é a maior fonte de emissões do Brasil hoje. A maior parte desse desmatamento é ilegal e não contribui para aumento de renda nem de produção. Os agricultores são capazes de aumentar a produção e abastecer o mercado com desmatamento zero. Para Joaquim Levy, diretor de Estratégia Econômica do Banco Safra, “cada vez fica mais evidente que a gente tem a possibilidade de expandir a agricultura sem desmatar, inclusive pelo aproveitamento das pastagens degradadas”. Segundo levantamento da Embrapa, só na Amazônia já há área desmatada e abandonada do tamanho dos três estados do Sul do Brasil. A cobrança dos mercados importadores e os consumidores brasileiros nesse sentido vão crescer.“A questão da descarbonização ligada ao setor agro começou com os biocombustíveis e está migrando com muita rapidez para o mercado de alimentos”, afirma André Nassar, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).

Como o desmatamento importa, ele deve ser considerado quando se compara as opções logísticas. Principalmente se elas envolvem obras que irão gerar ou incentivar o desmatamento. Isso é especialmente crítico quando se fala de uma região sensível como a Amazônia. É ingênuo contabilizar apenas as árvores retiradas diretamente pela construção de uma ferrovia na Amazônia. O impacto vai muito além do canteiro de obras. A mera especulação sobre a construção de uma ferrovia na Amazônia já estimula o mercado de grilagem (invasão e roubo de terras públicas), principal fator de violência e desmatamento na região. Por isso, André Ferreira, Diretor do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), frisa que “a descarbonização não se dá apenas no modo de transporte, mas dependendo de onde você implanta essa infraestrutura ela tem um efeito de desmatamento indireto”. O processo de tomada de decisão precisa ser claro e oferecer opções com instâncias mais transparentes desde o início sobre os impactos econômicos, sociais e ambientais. Quanto mais o Brasil discutir francamente esse tema, consultando os diversos lados da questão, e principalmente comparando as alternativas de logística, mais preparados estaremos para tomar as melhores decisões.

Imagem: Um exemplo de chance para melhorar nossa infraestrutura em todos esses aspectos é o novo porto que está em construção no Espírito Santo (Imetame/Divulgação)

Este artigo foi escrito por Alexandre Mansur e Franciele Rodrigues e publicado, originalmente, na coluna Ideias Renováveis, da Exame.

Fundação Amazônia Sustentável é a melhor ONG de 2021

Veja também os nomes das organizações que se destacaram nas categorias especiais. Entre as novidades do ano estão a premiação por estados e a maior torcida de todas

A Fundação Amazônia Sustentável (FAS), que contribui para a conservação ambiental da floresta através da valorização da biodiversidade e da melhoria da qualidade de vida das comunidades ribeirinhas, é a melhor ONG do Brasil, título que acaba de ser anunciado pelo Prêmio Melhores ONGs, o maior do terceiro setor. Este ano, mais de mil organizações concorreram ao Prêmio, que já havia anunciado a lista das 100 melhores de 2021 no Dia de Doar.

“A Fundação Amazônia Sustentável tem como desafio fazer com que a floresta permaneça viva. Dependemos, todos, da floresta para  manter o planeta com a esperança de ter sucesso no enfrentamento das mudanças climáticas, que é o grande desafio da humanidade”, comemorou o superintendente geral da FAS, Virgílio Viana, em fala durante a cerimônia oficial, realizada nesta quinta-feira (9), online, com transmissão pelo Youtube do Futura (veja aqui).

Foram reconhecidas, pela primeira vez, as melhores organizações de cada estado e as que mais se destacaram em cada causa. Como surpresa para as ONGs, também foi anunciada uma plataforma por meio da qual é possível fazer doações diretas para todas que estão entre as 100. Mais uma vez, o Prêmio homenageou as 10 melhores de pequeno porte: o Instituto Chamaeleon, que transforma realidades atendendo crianças, adolescentes e mulheres vítimas de abuso sexual e suas famílias, foi destaque como a melhor entre as pequenas. A ONG que levou a maior torcida para a cerimônia também foi reconhecida: a Associação dos Deficientes Físicos de Poços de Caldas (ADEFIP) mostrou que, além de boas práticas de gestão e de fazer a diferença para a inclusão da pessoa com deficiência em sua cidade, tem muita gente engajada com o seu trabalho.

“Depois do primeiro ano, que premiou 100 ONGs inéditas, a média é de cerca de 40 novas ONGs por ano na lista dos destaques em boas práticas de gestão, o que mostra que, a cada edição, o páreo fica mais concorrido e conhecido no setor”, afirma Fernando Nogueira, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que coordena o processo de avaliação das concorrentes do Prêmio desde a primeira edição. “São organizações cada vez mais profissionais”, comemora, destacando que esse é um dos objetivos do Prêmio, que envia uma devolutiva detalhada a todas as que passaram para a segunda fase, justamente para que cheguem mais fortes à próxima edição.

As pentacampeãs

Este ano, o Prêmio Melhores ONGs completa cinco anos e dez organizações estão na lista das 100 desde a primeira edição. Veja quais são elas:

  • APAE Anápolis
  • Casa de Apoio à Criança com Câncer Durval Paiva
  • ChildFund Brasil
  • Instituto C – Criança, Cuidado, Cidadão
  • Instituto Fazendo História
  • Instituto Ramacrisma
  • Instituto Reciclar
  • Instituto Ronald McDonald
  • Santa Casa BH
  • Vocação

Melhores por estado

Esta foi a primeira vez que o Prêmio reconheceu a melhor de cada estado, mas, nas edições anteriores, 21 estados diferentes já tiveram ONGs entre as 100 melhores. A seguir, os destaques de 2021:

  • Acre: SOS Amazônia
  • Alagoas: Instituto Mandaver
  • Amazonas: Fundação Amazônia Sustentável
  • Bahia: Grupo de Apoio à Criança com Câncer da Bahia (GACC-BA)
  • Ceará: Instituto Nordeste Cidadania – INEC
  • Distrito Federal: Casa Azul Felipe Augusto
  • Espírito Santo: Instituto Ponte
  • Goiás: APAE Anápolis
  • Maranhão: Plan International Brasil
  • Mato Grosso do Sul: Instituto Moinho Cultural Sul-americano 
  • Minas Gerais: Providens – Ação Social Arquidiocesana
  • Paraná: Instituto Sivis
  • Paraíba: Centro de Educação Popular e Formação Social – CEPFS
  • Pernambuco: Associação Padre Enzo – Solidariedade pata Tamandaré
  • Piauí: Instituto Novo Sertão
  • Rio de Janeiro: NOSSAS
  • Rio Grande do Norte: Casa de Apoio à Criança com Câncer Durval Paiva
  • Rio Grande do Sul: Instituto do Câncer Infantil 
  • Santa Catarina: Bombeiros Voluntários de Joinville
  • São Paulo: Amigos do Bem
  • Sergipe: Associação dos Voluntários a Serviço da Oncologia em Sergipe (AVOSOS Sergipe) / Casa Tia Ruth de Apoio

Melhores por causa

  • Assistência Social: Casa Ronald McDonald ABC
  • Criança e Adolescente: ChildFund Brasil – Fundo para Crianças
  • Cultura: SP Leituras – Associação Paulista de Bibliotecas e Leitura
  • Desenvolvimento Local: Engenheiros Sem Fronteiras – Brasil
  • Direitos Humanos: Refúgio 343
  • Direitos dos Animais: Ampara Animal
  • Educação: Escoteiros do Brasil
  • Esporte: Fundação Gol de Letra
  • Geração de renda: Gastromotiva
  • Meio Ambiente e sustentabilidade: Rare Brasil
  • Saúde: Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (ABRALE)
  • As 10 melhores de pequeno porte
  • Chamaeleon – Instituto de Promoção da Cidadania e do Bem-Estar Social e Emocional
  • Instituto Novo Sertão
  • Casa da Amizade
  • Unidos pela Vida – Instituto Brasileiro de Atenção à Fibrose Cística
  • Centro Cidadania Ação e Educação Socioambiental
  • Instituto Herdar
  • Casa Arte Vida
  • Instituto Karis
  • Passatempo Educativo
  • Grupo de Trabalhos em Prevenção Posithivo – GTP+

O Prêmio

O Prêmio Melhores ONGs é realizado pelo O Mundo que Queremos, pelo Instituto Doar e pelo Ambev VOA, com apoio de pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas (FGV), do Instituto Humanize, da Fundação Toyota do Brasil e do Canal Futura. Reconhece, desde 2017, o trabalho fundamental prestado pelas instituições não-governamentais no Brasil e também funciona como um farol para orientar doações e incentivador de boas práticas, contribuindo também para a melhoria na gestão de todas as participantes, incluindo as não premiadas.

 

Foto: FAS/ divulgação

 

Levantamento nacional mostra avanços nas análises do Cadastro Ambiental Rural e atrasos na regularização dos imóveis

O estudo, feito por pesquisadoras do Climate Policy Initiative, revela os estados que mais avançaram no último ano e os que ficaram para trás

Uma análise da situação do Cadastro Ambiental Rural (CAR) nos estados brasileiros mostra como estão os esforços dos governos e proprietários para quitar suas pendências ambientais. Criado pelo Novo Código Florestal em 2012, o CAR é a principal ferramenta para o proprietário registrar as características ambientais do imóvel, indicando a vegetação nativa conservada ou precisando ser recuperada. Mas passados quase dez anos de sua criação, a implementação do CAR ainda tem atrasos. E a segunda fase de regularização ambiental, conhecida como PRA, está ainda mais retardada. O quadro geral, revelado por um novo estudo realizado por pesquisadoras brasileiras do Climate Policy Initiative (CPI), mostra que alguns estados avançaram nas análises do CAR feito pelos proprietários de terra. Mas os fazendeiros ainda estão demorando a passar para a etapa de regularização ambiental de suas propriedades. O estudo foi realizado pelas pesquisadoras Joana Chiavari, Cristina Leme Lopes e Julia Nardi de Araujo, todas do CPI e da PUC-Rio. O CPI é um centro de pesquisa baseado no Rio de Janeiro e associado à PUC-Rio que realiza estudos sobre desenvolvimento sustentável, sobretudo com viés econômico e jurídico.

Como a implementação do CAR é realizada pelos órgãos estaduais, a situação varia entre as unidades da federação. Acre, Mato Grosso, Pará e Rondônia são os estados mais avançados na implementação do Código Florestal. Destes quatro, Acre e Pará são os estados com a melhor performance em 2021.

Quem mais avançou em 2021?

Acre – Aumentou em 48% o número de inscrições no CAR em 2021, triplicou o número de técnicos dedicados à análise dos cadastros, com 20 analistas no Escritório do CAR, aumentou em 61% o número de termos de compromisso assinados, atingindo o número de 296, e se tornou o segundo estado com mais termos de compromisso em execução. Dos quatro estados mais avançados, Acre foi o último a chegar na etapa de regularização dos passivos e já se destacou.

Pará – Aumentou em 272% o número de cadastros analisados, em 60% o número de cadastros validados e em 88% o número de termos de compromisso assinados. Apesar de ser o terceiro estado em número de termos de compromisso firmados para recuperação dos passivos em APP e Reserva Legal, apenas 280, a área a ser restaurada, 22 mil hectares, é três vezes maior que a área a ser recuperada no estado com mais termos de compromisso assinados. Além disso, Pará é o estado com mais técnicos dedicados ao CAR e PRA, conta com técnicos da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do estado, dos 35 municípios habilitados para análise de CAR e de empresas contratadas. O Pará é o estado que mais promoveu o cancelamento de cadastros sobrepostos à Terras Indígenas e Unidades de Conservação, tendo cancelado mais de mil cadastros irregulares.

Quem mais avançou no período total?

Mato Grosso
– Em termos absolutos, se destaca dos demais por ter 51 mil cadastros com análise iniciada, o que representa 46% dos cadastros do estado, 6.158 cadastros validados e 454 termos de compromisso firmados para regularização ambiental dos imóveis rurais.

Quem ficou para trás?

Roraima e Piauí – São os estados mais atrasados. Ainda não iniciaram a etapa de análise dos cadastros e não regulamentaram o PRA nem as regras de restauração de APP e Reserva Legal.

A etapa de inscrição dos imóveis rurais no CAR já está bastante avançada em todos os estados. Ainda assim, observa-se um aumento constante na base cadastral em todo o país, com destaque para Roraima que dobrou o número de inscrições no último ano. Apesar do avanço das inscrições de povos e comunidades tradicionais (PCT) no Amazonas, Bahia, Maranhão, Pará, Pernambuco e Piauí, esse grupo ainda depende de ações e programas específicos para avançar.

A análise dos dados declarados no CAR tem avançado na maioria dos estados, mas apenas um pequeno grupo se destaca. No Acre, Amazonas, Pará e Rondônia, em torno de 20% dos cadastros do estado já começaram a ser analisados; em Mato Grosso, este número alcança quase metade (46%) dos cadastros estaduais e, no Espírito Santo, aproximadamente 72% dos cadastros já passaram por esta etapa.

Apesar dos avanços, a conclusão da análise, com a validação dos dados, continua sendo um enorme desafio, com a exceção do Espírito Santo que já conseguiu validar todos os cadastros analisados. Altas taxas de reanálise dos cadastros e dificuldades na comunicação com proprietários e possuidores impedem que as análises sejam finalizadas. Um CAR pode precisar de mais de 10 análises até ser validado, como é o caso, atualmente, em Rondônia. No Pará, dos 47 mil cadastros que já foram objeto de análise, 45 mil estão aguardando que o produtor responda à notificação do órgão competente para retificar ou complementar os dados do CAR. Esta situação é similar no Acre, Amazonas, Mato Grosso, Paraná e Rondônia.

O gráfico abaixo (figura 4 do estudo) ilustra essa diferença entre os estados em relação a análise e a validação dos cadastros.

Existe um desafio enorme de chegar à etapa final de regularização ambiental dos imóveis rurais. Devido à falta de interesse dos produtores rurais na adesão ao Programa de Regularização Ambiental (PRA), apenas uma parte dos cadastros já validados segue para a etapa de assinatura de Termo de Compromisso (TC) para a recuperação dos passivos em Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal. No Acre, cerca de 60% dos cadastros validados com passivos já possuem TC, em Mato Grosso e no Pará este número cai para 20% e, em Rondônia, a situação é ainda pior, os termos firmados correspondem a apenas 5% dos cadastros validados com passivos. Quinze estados já promoveram a regulamentação do PRA e a maioria dos estados já adotou critérios e parâmetros para a restauração dos passivos em APP e Reserva Legal. Entretanto, nove estados ainda estão muito atrasados na construção de uma base legal para regularização dos imóveis rurais: Alagoas, Espírito Santo, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Roraima, Sergipe e Tocantins.

Confira o webinar de lançamento do estudo, com análises de especialistas.

Foto: divulgação/CPI

A democratização dos investimentos de impacto no Brasil

Os investimentos de impacto geram retornos positivos claros tanto no aspecto econômico e social, quanto ambiental, e têm se democratizado no Brasil

O investimento de impacto é uma tendência no Brasil e no mundo. É uma modalidade que permite que investidores coloquem dinheiro em fundos dedicados a investir em iniciativas, empresas e startups que devolvem não só lucro, mas também benefícios sociais e ambientais para a sociedade. Esses fundos deixam o investidor feliz porque ele tem retorno financeiro e sente que está fazendo bem para o planeta.

Esses fundos, no entanto, estavam restritos a grandes investidores, fundos institucionais, fundações dedicadas a ter impacto positivo no mundo ou filantropos muito ricos. O que limitava o alcance do investimento de impacto. Algumas iniciativas, porém, têm começado a mudar esse cenário. Uma delas foi lançada em novembro pela SITAWI Finanças do Bem, uma organização que desenvolve soluções financeiras para impacto social. Trata-se de uma rodada de empréstimo coletivo, lançada em parceria com o Instituto Sabin, com o objetivo de proporcionar que pessoas físicas de todo o país invistam diretamente em dois negócios de impacto positivo atrelados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS). A captação pretende mobilizar R$ 1,1 milhão para a Cooperativa de Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc) e para a Incentiv.me.

A Coopercuc tem como objetivo a implementação de projetos de agricultura sustentável e beneficiamento de frutas nativas da caatinga. Já a Incentiv.me, que está entre as 100 startups mais promissoras do país pelo Ranking 100 Open Startups e entre as TOP 10 FinTechs, tem a missão de transformar impostos em impacto, usando parte de recursos públicos para viabilizar projetos sociais, com mais transparência e eficiência.

sitawi finanças do bem
Com isso, a SITAWI populariza o investimento de impacto e dá a possibilidade para que pessoas físicas comuns, que não são bilionárias, consigam investir seu dinheiro e contribuir com boas causas, para um impacto positivo. Isso porque qualquer pessoa pode fazer seu cadastro na plataforma e aplicar nos negócios. São aceitos empréstimos a partir de R$ 10 com rentabilidade prevista entre 9% e 10% ao ano e o repagamento será em 36 meses e 3 meses de carência.

Para Leonardo Letelier, fundador e CEO da SITAWI, a transparência é uma dos fatores fundamentais para iniciativas como esta, que faz uma diligência de negócios que estão alinhados aos ODS da ONU. “Antes de colocar o dinheiro, o investidor fica sabendo exatamente para onde ele vai e como o projeto vai utilizar esse recurso. Nesta rodada, o recurso será usado para comprar matéria prima, como o umbu, no caso da Coopercuc, pagar salários, pagar embalagens e influência na ampliação da escala, pois, com mais insumos, produzem mais, vendem mais e asseguram a geração de renda na cadeia produtiva”, explica.

Nos últimos dois anos, a SITAWI já realizou sete rodadas de empréstimo coletivo, tendo mobilizado até então R$ 11 milhões. Foram feitas mais de 70 transações de investimento de impacto apoiando mais de 58 negócios.

Abrir caminhos para os investimentos em negócios de impacto é muito vantajoso porque, primeiro, aumenta a base de pessoas que podem investir nesses negócios e, assim, estes passam a ter acesso a mais recursos; segundo, porque potencializa a possibilidade desses negócios gerarem impactos para seus investidores. Assim, mais pessoas passam a entender como o dinheiro pode ser usado para melhorar a sociedade de forma geral e não só quem é o dono dele. Com diversas pessoas investindo em negócios de impacto, ao invés de poucos milionários ou grandes fundos, há maior representatividade, já que a maior parte da sociedade tem atendida sua vontade em estimular determinada iniciativa, que vai gerar benefícios sociais. Desse modo, temos mais legitimidade e segurança institucional.

Este artigo foi escrito por Alexandre Mansur e Larissa Magalhães e publicado, originalmente, na coluna Ideias Renováveis, da Exame.

Foto: Pixabay

O dinheiro que dá em árvore

Precisamos dar visibilidade para quem está gerando renda e emprego com produtos sustentáveis da floresta agora

As florestas tropicais, ricas em biodiversidade, têm tudo para gerar riqueza para quem vive dela. Infelizmente, se o assunto é floresta tropical, muitos de nós já enxergamos, quase que automaticamente, imagens de desmatamento e de todo o modelo de desenvolvimento baseado na destruição, que é muito bem divulgado. No entanto, já está bem claro que esse modelo só dá certo no curto prazo, pois deixa um rastro de destruição e pobreza, e ameaça o clima da Terra. A preservação ambiental é condição fundamental para o desenvolvimento econômico na avaliação de 86% dos brasileiros que vivem na Amazônia Legal, segundo dados da pesquisa feita recentemente pelo Mundo Que Queremos. O trabalho mostrou, no entanto, que embora a população da floresta não veja a destruição com bons olhos, a maioria também não enxerga outras alternativas. É por isso que precisamos dar exemplos de iniciativas que valorizam a floresta em pé, deixando claro o quanto as cadeias produtivas da floresta existem, dão dinheiro e estão crescendo.

O documentário Forest Partners faz isso, num filme que explora soluções pra mudança climática baseadas na natureza, socialmente inclusivas e economicamente sustentáveis. A produção mostra como a ação colaborativa em países da América Latina, Ásia e África possibilita o fomento a cadeias de valor que conservam a biodiversidade e restaura ecossistemas nativos enquanto gera renda e prosperidade. E faz isso com muitas imagens, que é para ajudar a substituir as velhas cenas de predação grudadas na nossa mente.

O trabalho foi financiado pelo Partnerships for Forests (P4F), programa global do governo britânico para acelerar negócios e promover iniciativas que tenham o potencial de proteger ou restaurar florestas, e seu pré-lançamento acaba de acontecer em Glasgow. O lançamento oficial está previsto para 2022. O filme foi assistido no Brasil em primeira mão durante o durante o primeiro ClimaX SP, o evento paralelo da COP em São Paulo, realizado pelo Instituto O Mundo Que Queremos esta semana em São Paulo. O Brasil tem um grupo de pessoas muito engajadas no tema do clima, que precisam se encontrar para trocar ideias e inventar soluções. O filme da P4F é um excelente exemplo de experiências que precisam ser vistas e compartilhadas.

A produção mostra histórias como a da Coopavam, uma cooperativa que processa e vende castanhas-do-brasil produzidas por comunidades indígenas em Mato Grosso e Rondônia. A castanha é um superalimento amazônico cuja árvore é um símbolo emblemático da preservação da floresta. Eles são apoiados pela P4F para desenvolver sua estratégia de marketing e vendas e trabalham em estreita colaboração com as comunidades indígenas para proteger florestas e melhorar os meios de subsistência na Amazônia. Outro caso de muito sucesso é o da Ecoflora, uma empresa da Colômbia, que descobriu e patenteou um corante natural azul extraído do jagua, um fruto da região que, até então, não tinha valor comercial. O mais interessante é que a cor azul era justamente a que faltava na indústria alimentícia, o que já abriu um mercado imenso para o produto patenteado. A P4F ajudou a empresa a aumentar sua capacidade de fornecimento, plantando árvores da espécie em áreas degradadas.

“Precisamos mostrar como conservar e ganhar dinheiro ao mesmo tempo”, afirma Marcio Sztutman, diretor do programa América Latina na Partnerships for Forest. Para ele, o projeto de filme reforça um conceito fundamental da P4F, a teoria da mudança de que existem muitas oportunidades para geração de renda por meio de impacto positivo no uso da terra. O programa do governo britânico busca demonstrar a viabilidade de fazer bons negócios com impacto positivo nas diferentes paisagens rurais, tendo como ator principal o setor privado, como uma estratégia adicional às iniciativas que já existem, como o trabalho das ONGs, que é fundamental, mas não basta. “O setor privado carrega capital e conhecimentos específicos de mercado que devem ser colocados à disposição para esse objetivo comum de conservação florestal e inclusão social”, completa Marcio. Tornar isso público, por diferentes instrumentos, como o filme, faz parte da estratégia para aumentar a capacidade de replicação e ganho de escala desta abordagem. “A ideia é demonstrar a viabilidade de diferentes modelos de negócios, diminuindo a percepção de risco dos investidores”, explica.

O programa do governo britânico busca demonstrar a viabilidade de fazer bons negócios com impacto positivo nas diferentes paisagens rurais, tendo como ator principal o setor privado, como uma estratégia adicional às iniciativas que já existem, como o trabalho das ONGs, que é fundamental, mas não basta. “O setor privado carrega capital e conhecimentos específicos de mercado que devem ser colocados à disposição para esse objetivo comum de conservação florestal e inclusão social”, completa Marcio. Tornar isso público, por diferentes instrumentos, como o filme, faz parte da estratégia para aumentar a capacidade de replicação e ganho de escala desta abordagem. “A ideia é demonstrar a viabilidade de diferentes modelos de negócios, diminuindo a percepção de risco dos investidores”, explica.

Respeitando as especificidades de cada país ou continente, o grande desafio de mostrar como a economia da floresta existe, gera renda e pode ser ampliada, é similar em toda a faixa tropical do planeta. “Florestas tropicais pelo mundo têm desafios e oportunidades em comum. Existe uma história que acontece no cinturão das florestas no mundo que nos une enquanto países e comunidades”, afirma Juliana Tinoco, gerente de Conhecimento do P4F. Ela ressalta que muita coisa está acontecendo nesses locais em termos de desenvolvimento econômico e social e muitas dessas ações estão baseadas em perspectivas sustentáveis que deveriam servir de exemplo para todo o mundo. Mas essas soluções exigem cooperação de diversos atores e setores. “Esse trabalho é um chamado a uma ação comum e conjunta a partir de casos de sucesso que já vem acontecendo”.

O filme foi muito bem-sucedido ao mostrar que não existe produção qualquer que seja sem a manutenção das florestas, mas além disso, de um ambiente equilibrado. Para o diretor, o cineasta Fred Rahal Mauro, a produção consegue deixar isso claro. Ele já trabalha há alguns anos na área socioambiental e destaca que tão importante quanto as denúncias, é mostrar o que já tem sido feito e que muita gente já produz priorizando, além dos ganhos financeiros, ambientes preservados. “Ainda podemos melhorar, e muito, mas é fundamental mostrar que existem projetos muito bem-sucedidos e que podem ser replicados”. Um dos diferenciais da produção é que quem fala não são ambientalistas, mas grandes empresários, investidores e pecuaristas, lado a lado com representantes de populações indígenas e tradicionais. “Não é um contra o outro, o objetivo é comum. Isso é o futuro”.

Este artigo foi escrito por Alexandre Mansur e Angélica Queiroz e publicado, originalmente, na coluna Ideias Renováveis, da Exame.

Foto: P4F/ divulgação