Prêmio Melhores ONGs anuncia as 100 vencedoras de 2021

O destaque do ano e as categorias especiais serão anunciadas no dia 9 de dezembro. Melhores por estado é novidade desta edição, que teve recorde de inscritos

O Prêmio Melhores ONGs anuncia as 100 organizações brasileiras do terceiro setor vencedoras em 2021. Na lista, já disponível em melhores.org.br, é possível conhecer o nome das organizações reconhecidas por suas boas práticas em quesitos como governança, transparência, comunicação e financiamento.

Este ano, apesar da continuidade das dificuldades impostas pela pandemia, o Prêmio teve um número recorde de inscrições: 1033 organizações. “Para a gente, 2021 é um ano muito especial, não só porque tivemos o maior número de ONGs inscritas, mas também por uma sequência de anos com melhorias significativas no nível das inscrições. São organizações cada vez mais profissionais”, afirma Fernando Nogueira, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que coordena o processo de avaliação das concorrentes do Prêmio desde a primeira edição. “Ficamos ainda mais alegres se lembramos que este é um ano complicado, que vem depois de outro que já tinha sido difícil. Isso mostra a importância das organizações da sociedade civil, mas também que elas têm tido um reconhecimento dos doadores, das comunidades, das pessoas físicas, das empresas, que a maior parte do Brasil valoriza a atuação dessas organizações”.

A cada edição o Prêmio se torna cada vez mais conhecido no setor. “São duas alegrias: a consolidação do Prêmio e o lançamento dos melhores por estado”, afirma Marcelo Estraviz, diretor do Instituto Doar. Com esse crescimento, a expectativa para as próximas edições é poder ter metodologias cada vez mais apuradas e novas categorias específicas. “Um dia sonhamos que era possível promover o reconhecimento de pessoas e instituições dedicadas a fazer o bem. Hoje já estamos completando cinco anos e cada vez mais animados para os próximos”, completa Cássia Christe, diretora executiva do Instituto O Mundo Que Queremos.

Os destaques nas categorias especiais por tipo de causa e melhor ONG entre todas serão conhecidos durante a cerimônia oficial de premiação, que está marcada para o dia 9 de dezembro, às 18h, com transmissão pelo youtube do Canal Futura. A novidade deste ano é o reconhecimento da melhor de cada estado — além das 100 melhores, já são reconhecidas a melhor de cada causa, as dez melhores de pequeno porte e a melhor entre elas.

Maior Torcida do Brasil
Outra novidade desta edição é que, pela primeira vez, a ONG que levar mais gente para torcer por ela também vai ser reconhecida. É a campanha “Maior Torcida do Brasil”, que convoca as 100 melhores a chamar todos os seus apoiadores para acompanhar a cerimônia de premiação, mostrando também que elas têm muita gente engajada com seus trabalhos.

O Prêmio
O Prêmio Melhores ONGs é realizado pelo O Mundo que Queremos, pelo Instituto Doar e pelo Ambev VOA, com apoio de pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas (FGV), do Instituto Humanize, da Fundação Toyota do Brasil e do Canal Futura. Reconhece, desde 2017, o trabalho fundamental prestado pelas instituições não-governamentais no Brasil e também funciona como um farol para orientar doações, alcançando grande visibilidade no setor, na medida em que se consolida como a principal referência em ONGs no país. A intenção, além de reconhecer a relevância dos trabalhos prestados, é incentivar boas práticas, contribuindo também para a melhoria na gestão de todas as participantes, incluindo as que não são premiadas.

Convergência Pelo Brasil apoia debate sobre corredores verdes para a soja

Descarbonização da exportação agrícola brasileira será o foco de evento, online e ao vivo, no próximo dia 30 de novembro

O Brasil tem uma produção agrícola competitiva globalmente e com potencial para crescer, com produtos de qualidade e capazes de atender os mercados mais exigentes. Porém, precisamos ficar atentos às transformações do mercado global e isso inclui pensar no transporte e falar em como descarbonizar a exportação agrícola brasileira. Este será o assunto do evento Corredores verdes para a soja: a rota sustentável até a China, que acontece no dia 30 de novembro de 2021, online e ao vivo – das 9h às 11h30.

Com a presença de Joaquim Levy, Diretor de Estratégia Econômica do Banco Safra, André Nassar presidente da ABIOVE e Cláudia Trevisan diretora executiva do Conselho Empresarial Brasil China; entre outros importantes pesquisadores do tema, a ideia é estimular um planejamento inteligente e consolidar articulações entre diversos agentes econômicos, tanto privados quanto governamentais, interessados na melhora da logística de carga agrícola no país.

A COP26, em Glasgow, deixou bem claro como a pressão por reduções nas emissões responsáveis pelas mudanças climáticas irá crescer. Cada vez mais, a pegada de carbono do transporte das commodities será um tema predominante nas negociações comerciais e na reputação dos países exportadores e é fundamental observarmos e discutirmos o que podemos fazer para reduzir as emissões da logística das exportações. O Brasil precisa ficar atento às reduções nas emissões para manter a sua competitividade e isso vale, especialmente, na exportação para a China, um dos parceiros comerciais mais importantes do país.

O evento, que foca justamente numa rota sustentável para o país asiático, é uma realização do Instituto O Mundo Que Queremos, com apoio da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), do Instituto Clima e Sociedade, do portal Um Só Planeta e da Convergência pelo Brasil, união dos ex-ministros da Fazenda e presidentes do Banco Central por uma agenda de desenvolvimento sustentável para o Brasil. A transmissão será pelo Youtube da Época Negócios.

Confira a programação completa:

09h00 – 09h30 – Abertura
– Christine Samorini, Presidente da Federação da Indústrias do Espírito Santo (Findes);
– Fábio Meirelles Filho, presidente da Associação dos Produtores de Soja, Milho, Sorgo e Outros Grãos Agrícolas do Estado de Minas Gerais (Aprosoja-MG);
– Gustavo Pinheiro, coordenador do portfólio de Economia de Baixo Carbono do Instituto Clima e Sociedade (iCS);

09h30 – 10h30 – Painel 1 – Caminho para o futuro – Descarbonizar o transporte tem impactos econômicos e sociais positivos

– Moderadora: Vanessa Barbosa, jornalista do Um Só Planeta;
– Joaquim Levy, diretor de Estratégia Econômica do Banco Safra;
– André Nassar, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) ;
– Cláudia Trevisan, diretora executiva do Conselho Empresarial Brasil China.

10h30 – 11h30 – Painel 2 – A saída pelo mar – Navegar é preciso. Como portos mais eficientes e navios de maior porte podem melhorar nossas exportações

– Moderadora: Beatriz Seixas, Findes;
– Thiago Péra, Coordenador do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Universidade de São Paulo (Esalq-Log);
– Tiago Buss, EC Consultoria;
– André Ferreira, Diretor do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA);
– Comandante Fernando Alberto Costa, Oficial da reserva da Marinha do Brasil.

Quem gera emprego bom na Amazônia?

Como o desmatamento não produz riqueza sustentável, a população está cada vez mais sujeita a ocupações mal pagas e informais

Um dos mais completos retratos do perfil de empregos e ocupações gerados na Amazônia, recém-publicado em uma sequência de quatro estudos, revela que a falta de um plano de desenvolvimento que use o potencial da biodiversidade para desenvolver a região ameaça não só a própria existência da floresta como afeta a qualidade de vida da população.

Em sete anos, houve uma retração significativa no número de postos de trabalho qualificado e que remuneram melhor. “Precisamos de um projeto de desenvolvimento sustentável, que mantenha a floresta em pé, promova o dinamismo do setor privado e seja capaz de reter os talentos”, afirma o economista Gustavo Gonzaga, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e um dos autores da série de estudos, publicada pelo projeto Amazônia 2030, um esforço de pesquisa comandado por mais de 60 cientistas para traçar um diagnóstico da região.

Os levantamentos sugerem que, de maneira geral, a agropecuária se expande na região ao mesmo tempo em que mais demite do que contrata, enquanto as ocupações qualificadas na indústria estão em declínio e posições no setor de serviço com menor remuneração dominam as cidades.

Esse cenário é visto com preocupação pelos pesquisadores: confirma que o desmatamento não gerou riquezas duradouras para a região frente à destruição da floresta e que a população está cada vez mais sujeita a ocupações que pagam menos e que costumam ter alto grau de informalidade.

Entre 2012 e 2019, houve uma queda 16% no número de postos de trabalho relacionados à agropecuária (agricultura, pecuária, criação de animais e extrativismo florestal) enquanto a área ocupada pelas atividades de cultivo e pastagens cresceu 8,4% no período, de acordo com dados do MapBiomas, rede de especialistas que monitora as transformações no uso da terra.

As posições diminuíram tanto entre agricultores sem especialização (uma queda de 59%) quanto entre os mais qualificados (redução de 6,7%), o que significa que o fenômeno não se explica apenas pelo possível aumento do uso de mecanização e de novas tecnologias na lavoura.

Também pode haver um componente importante de retorno a maneiras mais rudimentares de cultivo, que exigem maior área de plantio, e de deterioração das condições e relações de trabalho. A taxa de informalidade da atividade é de 85%, acima da média já alta da região (59,4%). Apenas a pecuária apresentou um discreto crescimento na geração de postos (2%).

A ausência de políticas que mirem o desenvolvimento de uma indústria que explore a biodiversidade de maneira sustentável, investindo em tecnologias, fica clara na retração das ocupações qualificadas e de liderança nos últimos sete anos. “Até existem subsídios governamentais para a indústria, mas eles não estão alocados em áreas em que a região tem vocação, como bioeconomia, sempre tendo em mente o desenvolvimento sustentável”, afirma Gonzaga.

O resultado é que muitas são atraídas para a região em busca apenas de incentivos fiscais e não de desenvolver uma cadeia de produção local. Em 2012, as ocupações qualificadas e de liderança correspondiam a 6,5% do total de 10 milhões de vagas na região. Em 2019, esse percentual caiu para 4,8%. A região demitiu, em sete anos, 23,2% de seus cientistas, engenheiros, dirigentes, gerentes de empresa e outros profissionais em cargos de liderança.

Nas regiões urbanas da Amazônia, que mais concentram as atividades que geram emprego e renda para a população, o setor de serviços é o que mais cresce – e já se tornou o maior empregador da região. O número de pessoas ocupadas no setor cresceu 28,3% em sete anos. Mas a notícia não é necessariamente boa. O que preocupa os especialistas é o fato de estarem em expansão atividades que não costumam ser tradicionalmente tão bem remuneradas, como vendas, que registrou aumento de 62,7% nas vagas.

Nesse contexto, o setor público tem uma participação importante na economia da região e já se destaca como um dos maiores empregadores. Em menos de uma década, o número de pessoas contratadas pelo setor cresceu 21%. Entre 2012 e 2019, as áreas em que as contratações mais cresceram foram a de segurança, com as categorias de policiais, bombeiros e forças armadas (45,6%), saúde (40,7%) e educação (8,3%). “O aumento do número de profissionais contratados pelo setor público nessas áreas é bem-vindo porque ajuda a aumentar o acesso da população a esses serviços”, afirma Gonzaga.

“Por outro lado, esses dados revelam uma dependência da Amazônia em relação ao setor público.” Os estados da Amazônia Legal empregam, proporcionalmente, mais pessoas no setor público do que o resto do país: 9,1% dos profissionais empregados na região trabalham para o Estado, ante 8% no restante do Brasil. “Esse é um sinal da falta de dinamismo do setor privado na região.”

Esse amplo retrato do perfil da ocupação da população na Amazônia mostra a urgência de se criar políticas capazes de levar desenvolvimento sustentável de maneira permanente. O desafio inclui atrair pessoas para atividades e setores relacionados à vocação da região e – principalmente – responder como treiná-las para ocupar essas vagas. O desenvolvimento econômico da Amazônia também passa pela educação.

Este artigo foi escrito por Alexandre Mansur e Marcela Buscato e publicado, originalmente, na coluna Ideias Renováveis, da Exame.

Imagem – Manaus: nas cidades, o setor público e o de serviços concentram a maior parte das vagas. Usar o potencial de floresta de maneira sustentável promete um futuro com mais qualidade de vida para a população (A.Paes/Deposit/Divulgação)

Por que precisamos ouvir os indígenas na COP26

Os povos originários são nossa melhor aposta para conservar 80% da biodiversidade que o planeta ainda tem

Quem esteve de olho no noticiário nos últimos meses viu que voltou à pauta do Supremo Tribunal Federal a discussão do Marco Temporal Indígena, julgamento que é central para o futuro dos povos originários no Brasil porque legisla sobre o direito mais fundamental: a terra. Mulheres indígenas de 150 etnias organizaram protestos em Brasília contra o projeto e a COP26, que acontece em Glasgow, está recebendo a maior delegação de lideranças brasileiras da história da conferência. Eles estão lá para pautar a demarcação de terras indígenas e a importância dos povos tradicionais para criar e promover soluções climáticas efetivas baseadas na natureza e nas comunidades que vivem em harmonia com ela há séculos.

Precisamos reconhecer a contribuição desses povos para a preservação ambiental e para isso é fundamental demarcar seus territórios. “Nos colocamos contra falsas soluções baseadas em inovações tecnológicas elaboradas a partir da mesma lógica desenvolvimentista e produtivista que provoca as mudanças climáticas. Criticamos soluções que não reconheçam os povos indígenas e comunidades locais como o ponto central na defesa das florestas, da diminuição do desmatamento e das queimadas, e como essenciais para a garantir que a meta declarada de manter o aquecimento global abaixo de 1,5 graus Celsius”, destaca trecho da mensagem da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) aos líderes mundiais, empresários, gestores públicos e organizações da COP26.

Sônia Guajajara, destacada líder indigena brasileira, conhecida no Brasil e em todo o mundo e coordenadora da APIB, está em Glasgow, numa delegação coordenada pelos assessores estratégicos internacionais, Marcus Vinicius Ribeiro & Zachary Kuipers, do 4H5H MEDIA. “Não há solução para a crise climática sem a demarcação dos nossos territórios”, destaca, lembrando que, comparados às demais terras públicas, os territórios indígenas são os que mais contribuem para o equilíbrio climático. “Então nós precisamos que o mundo inteiro escute o que os povos indígenas têm a dizer”, completa, em entrevista para o novo episódio do podcast Infraestrutura Sustentável.

Os povos indígenas são um exemplo de convivência e de relação de respeito com a floresta e uma riqueza cultural maior que qualquer minério ou produto que podemos extrair das regiões onde vivem. “Preservar os seus direitos é mais importante que qualquer grande obra”, ressalta Sérgio Guimarães, secretário executivo do GT Infraestrutura, uma rede de 40 organizações unidas para debater modelos sustentáveis de desenvolvimento baseados na justiça socioambiental. Ele explica que a floresta é a principal infraestrutura da Amazônia: faz chover na maior parte do Brasil, estabiliza o clima, abriga enorme biodiversidade, garante a sobrevivência dos povos originários e é base para o desenvolvimento do Brasil.

Demarcar os territórios indígenas é importante, mas não basta. “É preciso respeitar o modo de vida dos povos indígenas porque é exatamente ele que garante essa preservação que a gente tanto fala. Se hoje nós indígenas somos 5% da população mundial e conseguimos preservar 82% da biodiversidade que ainda resta no planeta é porque nós temos muito a ensinar. E a sociedade inteira precisa entender, respeitar e se reconectar com a Mãe Terra”. Se queremos continuar vivendo neste planeta, deveríamos aprender com quem faz isso desde sempre. Por sorte, essas pessoas estão dispostas a compartilhar esse conhecimento com o mundo. Se os líderes da COP26 derem a seus representantes o destaque que merecem, todo o planeta ganha.

Este artigo foi escrito por Alexandre Mansur e Angélica Queiroz e publicado, originalmente, na Exame.

Foto: Sonia Guajajara com Principe Charles (APIB/Divulgação)

Evento paralelo da COP26, ClimaX SP reúne executivos e representantes de organizações em São Paulo

Encontro presencial conectou Brasil e Escócia. Confira o que rolou

Desde o início do mês, líderes de todo o planeta estão reunidos em Glasgow, Escócia, para a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26). Com vários representantes presentes no encontro global, o Brasil tem um imenso potencial para promover negócios e qualidade de vida explorando suas oportunidades de redução das emissões, contribuindo para enfrentar a crise climática e impulsionando nosso desenvolvimento. Quem não foi também pôde participar, nesta terça-feira (9/10), durante o primeiro ClimaX SP, o evento paralelo da COP em São Paulo, realizado pelo Instituto O Mundo Que Queremos.

Cerca de 70 executivos de sustentabilidade de empresas e de organizações que trabalham pela transição econômica para o baixo (ou zero) carbono se reuniram, presencialmente, para uma conversa de alto nível, ao vivo, com quem está na COP26. Participaram, direto de Glasgow, via vídeo, Roberto Waack, presidente do conselho da Arapyaú, Daniel Contrucci, diretor da Climate Ventures, Gustavo Pinheiro, Program Officer do Instituto Clima e Sociedade e coordenador da Convergência pelo Brasil, e Ana Carolina Amaral, jornalista da Folha de São Paulo.

“A ideia do evento surgiu quando percebemos que muitas pessoas e organizações importantes não estavam indo para a COP. E que o Brasil tem um grupo de pessoas muito engajadas no tema do clima, que precisam se encontrar para trocar ideias e inventar soluções”, explica Alexandre Mansur, diretor de projetos da O Mundo Que Queremos. Na falta do momento de encontro propiciado pela COP, decidimos criar nós mesmos esse ponto de conexão aqui no Brasil”, completa.

Os presentes puderam conferir os 30 minutos iniciais do filme “Forest Partners”, produção da Partnership for Forest e do governo britânico, que será lançado em breve. Um dos destaques da noite foi um bate-papo, conduzido por Juliana Causin, jornalista de Um Só Planeta e da Época Negócios, com a participação de Fred Rahal Mauro, diretor do filme, e Marcio Sztutman, diretor da Partnership for Forest.

Segundo Cássia Christe, diretora executiva do Instituto, o evento deu tão certo que vai entrar para o calendário do Mundo em 2022. “Nada substitui esse momento onde as pessoas se encontram, trocam ideias, com calma, sem uma agenda definida, criando relações de confiança que geram parcerias duradouras”.

O evento pioneiro foi possível graças ao patrocínio da Partnership for Forests e do governo britânico e ao apoio de Instituto Arapyaú, Reservas Votorantim, Ben & Jerry, Um Só Planeta, Diageo, Grupo Raia Drogasil, Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável e Convergência pelo Brasil.

Foto: Sidinei Lopes/ Veja mais aqui.

Membros do Parlamento Europeu propõem Coalizão de deputados para debater desmatamento e ameaças na Amazônia Brasileira

Evento online levantou questões de política geral, as práticas que levam ao desmatamento e os problemas enfrentados pelas comunidades indígenas e florestais na Amazônia

Representantes do Parlamento Europeu defenderam, no evento online “Enfrentando o desmatamento na Amazônia brasileira: um direito à terra e a perspectiva das mulheres”, realizado na tarde desta terça-feira (09/11), que deputados se organizem para formar uma coalizão capaz de debater internacionalmente alternativas para reduzir e, por fim, erradicar o desmatamento e as ameaças às comunidades da Amazônia. A iniciativa do encontro foi da organização italiana No Peace Without Justice em parceria com a campanha brasileira Seja Legal com a Amazônia, contra grilagem de terras públicas na região.

Alessandra Moretti, membro do Parlamento Europeu e moderadora do evento, defendeu que os europeus aproveitem o fato de terem nascido em uma parte privilegiada do mundo, com condições de manifestar suas ideias e serem ouvidos, para ajudar a lançar luz sobre o problema. “Temos o dever de dar voz à democracia, à liberdade e aos valores sobre os quais se assenta a União Europeia. Temos o dever de dar voz a quem tem esses direitos fundamentais ameaçados”, endossou.

Já Eleonora Evi, membro da Comissão do Ambiente, da Saúde Pública e da Segurança Alimentar, do Parlamento Europeu, propôs que seja criada uma coalizão de eurodeputados para possam dar voz a esses temas e, sobretudo, aos povos indígenas e comunidades da Amazônia, que precisam ser ouvidos e não podem ficar de fora tomada de decisão. Para ela, embora as metas para acabar com o desmatamento sejam estabelecidas para os próximos anos, a preservação da maior floresta tropical do planeta é urgente e precisa acontecer agora.

A pesquisadora do Imazon, Brenda Brito, organização que assina a campanha Seja Legal, explicou porque a grilagem de terras públicas na Amazônia é um dos principais vetores da destruição da floresta. Segundo a pesquisadora, no relatório “Dez fatos essenciais sobre regularização fundiária na Amazônia” do Imazon, consta que 29% da região amazônica brasileira carece de definição de posse da terra e de que 40% do desmatamento entre 2013 e 2020 ocorreu nessas áreas sem definição fundiária. As atuais leis de terras nos estados amazônicos encorajam a invasão e desmatamento contínuos de terras públicas.

A indígena Telma Taurepang, que integra a coordenação da União de Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira (UMIAB), também participou do evento e disse que precisamos reflorestar as mentes que destroem por conta do capitalismo. Que destroem territórios com o desmatamento, a grilagem e a mineração. A indígena questionou: “Qual é a perspectiva de vida que nós temos daqui a 30 anos? Como que nós podemos fazer com que os presidentes dos países nos vejam como seres humanos, com o capitalismo que chega dentro das nossas terras e comunidades indígenas? Se fala em milhões por parte desses governantes, mas esses milhões são para salvar a terra ou destruir?”.

O webinário também contou com a participação de Daniel Lopes (Instituto Maira), Puyr Tembé (APIB), Paulo Celso de Oliveira e Gersem dos Santos Luciano (Fundo Brasil). Encerrando o evento, Alessandra Moretti ressaltou que, em meio ao combate à crise climática, hoje é importante que sejam assumidas responsabilidades e que é fundamental o compromisso do Parlamento Europeu em dar voz às comunidades indígenas, às mulheres e a todos aqueles que estão levando adiante lutas e batalhas tão corajosas.

Seja Legal com a Amazônia
A Campanha Seja Legal com Amazônia é uma iniciativa conjunta de representantes do agronegócio, das empresas e das organizações não governamentais de defesa do meio ambiente para combater o roubo de terras públicas na região. Essa prática criminosa é uma das principais causas do desmatamento ilegal, da violência, da corrupção e do atraso econômico na Amazônia.

Para saber mais, acesse: www.sejalegalcomamazonia.org.br

Foto: reprodução de tela

Nós sabemos como preservar a Amazônia

Décadas de experimentação na floresta já mostraram como promover desenvolvimento sustentável. Agora, o mundo todo está disposto a nos apoiar

Em tempos de COP26, está todo mundo mais de olho ainda na Amazônia. O motivo? As consequências do desmatamento e das queimadas na maior floresta tropical do planeta não são apenas dos países onde ela está situada, mas de todo o planeta, que depende dela.

As atuais crises hídrica e energética no Brasil são apenas uma prévia do que a destruição do bioma pode causar e, apesar de não faltarem alertas, segundo dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia, apenas em setembro, a floresta perdeu, por dia, uma área maior que 4 mil campos de futebol.

Ainda não conseguimos chegar num ponto de inflexão onde paramos a destruição e começamos a regeneração de fato, mas precisamos caminhar para lá.

Por sorte, temos bons trabalhos que nos apontam caminhos. Um grupo de mais de 200 cientistas entregou à ONU um alerta, com importantes recomendações para parar o desmatamento. A diretora de ciências do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Ane Alencar, faz parte desse grupo de pesquisadores e explica que o documento é um relatório completo que traz, entre outras coisas, algumas proposições sobre para onde podemos ir para garantir o futuro da floresta, baseadas em três grandes pilares.

O primeiro é voltado para a conservação, restauração e remediação de ecossistemas terrestres e aquáticos. Já o segundo diz respeito ao desenvolvimento de políticas de bioeconomia que sejam inovadoras e inclusivas, enquanto o terceiro olha para o fortalecimento da governança e das populações locais. É uma receita completa para o sucesso de um conceito que os pesquisadores chamam de “Amazônia Viva”.

“Precisamos entender que as atividades humanas fazem parte de um processo vivo da floresta, ou seja, não têm valor apenas as atividades econômicas e a geração de riqueza e renda, mas o todo”, afirma Ane Alencar, em entrevista para o novo episódio do podcast Infraestrutura Sustentável, que tratou do assunto.

Ela explica que a Amazônia é um bioma único, formado durante centenas de milhares de anos, e isso em si tem um valor. “A floresta deve ser reconhecida e valorizada por prestar serviços ecossistêmicos, não só para o país ou o continente, mas para o mundo. As atividades econômicas desenvolvidas lá devem apoiar a manutenção da floresta em pé”, detalha.

Ane lembra que a governança precisa favorecer um sistema de participação mais equitativo e diverso para que o conhecimento, seja ele científico ou tradicional, seja valorizado em todos os processos. Fortalecer a relação entre o rural vivo e o urbano também é fundamental, já que grande parte da população da Amazônia hoje vive em centros urbanos. “Por último, reconhecer que a Amazônia é uma meca da diversidade cultural e isso em si tem muito valor”, completa Ane. Essas são boas bases para a criação de um novo modelo de desenvolvimento, mais sustentável.

Qual é o primeiro passo? A sociedade precisa reconhecer que a floresta vale mais em pé do que transformada em pasto. “Eu começo pela sociedade porque é ela quem pode cobrar tanto dos governantes tanto das empresas, setores que precisam estar engajados para viabilizar as mudanças necessárias”, afirma Ane.

As pesquisas sobre o assunto já mostram que essa percepção vem crescendo, mas esses resultados ainda não se transformaram num engajamento efetivo. Esse é o nosso desafio, mas Ane é otimista. “O mundo voltou para um trilho interessante e esse novo rumo, que pensa na redução de emissões (de gases do efeito estufa), vai ajudar a puxar a Amazônia para o caminho da floresta viva”.

A floresta, com sua sabedoria de milhões e milhões de anos, também pode nos ensinar sobre sua própria preservação. Para Ane, uma dessas lições é a de que a diversidade gera riqueza, é ela que move tudo para frente. Outro ensinamento é que cada um tem uma função. Árvores menores, por exemplo, têm um enraizamento mais profundo e acabam trazendo água para outras cujas raízes chegam menos fundo. É assim que precisamos agir, cada ator com suas potencialidades, mas em prol de um objetivo comum.

“Se a gente transforma tudo em uma paisagem de monocultura, perde muito, inclusive a capacidade de resiliência e outras possibilidades de reagir.” Comecemos olhando para a floresta com outros olhos, então. Falamos muito em soluções baseadas na natureza, mas precisamos começar a falar também em estratégias baseadas na natureza. Para manter a floresta viva, não temos que inventar a roda, só olhar para o que ela já construiu e aprender com isso.

Este artigo foi escrito por Alexandre Mansur e Angélica Queiroz e publicado, originalmente, na coluna Ideias Renováveis, da Exame.

Foto: Amazônia: bioma vira foco de discussões sobre o clima (Andre Deak/Flickr)

É possível salvar a carne brasileira de embargos ambientais?

Solução é zerar desmatamento que origina pastagens na Amazônia. Dois novos estudos mostram que não é preciso derrubar nenhuma só árvore para produzir mais

O Congresso dos Estados Unidos recebeu no início de outubro o projeto de lei mais abrangente para barrar a importação de mercadorias que possam ter causado desmatamento durante sua produção. Se aprovada, a proposta, que deve ser votada até novembro de 2022, deve ter grande impacto nas importações – e receitas brasileiras -, principalmente no setor de carne bovina.

O país é o segundo maior produtor mundial e o maior exportador: produz 15% de toda a carne bovina consumida globalmente. A atividade tem importância fundamental para a economia brasileira – corresponde a 32% do PIB do agronegócio e a da 10% do PIB total do país. No ano passado, só para os EUA, foram vendidos cerca de US$ 500 milhões em carnes e couro.

Em setembro do ano passado, oito países europeus – Alemanha, Dinamarca, França, Itália, Holanda, Noruega, Reino Unido e Bélgica – já haviam levantado ameaças semelhantes a dos americanos. Em carta ao vice-presidente Hamilton Mourão, representantes das nações afirmaram que o aumento do desmatamento na Amazônia dificulta a importação de produtos brasileiros.

Com a intensificação dos efeitos provocados pelo aumento de temperatura no planeta nos próximos anos, a tendência é que os países endureçam cada vez mais suas políticas climáticas para tornar sua pegada ambiental mais limpa, o que trará reflexos significativos para os setores exportadores.

A pecuária e o desmatamento na Amazônia estão no centro dessa discussão. A derrubada de florestas é a principal fonte de emissões de gases do efeito estufa no Brasil (44%), e as pastagens para criação de gado ocupam 90% das áreas devastadas na Amazônia – um cenário que pode colocar em xeque as exportações de carne bovina brasileira em um futuro não muito distante. Mas é possível mudar essa trajetória.

Dois novos levantamentos produzidos no âmbito do projeto Amazônia 2030, que reúne um time de mais de 60 pesquisadores para traçar uma radiografia da região, sugerem que não é preciso abrir nenhuma nova área de pastagem na Amazônia para aumentar a produção e atender à crescente demanda mundial por carne.

Recuperar pastagens degradadas e torná-las mais produtivas poderia aumentar o valor da produção pecuária na Amazônia entre 17% e 29%, sem ampliar o desmatamento. A solução passa por promover melhorias nas pastagens já existentes, na nutrição e manejo dos animais, além de melhoramento genético do rebanho e capacitação dos trabalhadores.

Mudar o sistema de produção – para modelos mais intensificados – é outra alternativa. No semiconfinamento e confinamento, o gado cresce em pastos e depois é engordado em currais em tempo parcial (semiconfinamento) ou integral (confinamento).

“A produtividade na pecuária é bastante homogênea na região, com predomínio de um modelo de negócios de produção extensiva, pouco uso de insumos e baixos níveis de produtividade”, escrevem os autores de um dos estudos, Francisco Luis Lima Filho, Arthur Bragança e Juliano Assunção, pesquisadores do Climate Policy Initiative (CPI), organização de análise de políticas públicas. Em resumo: ainda há muito espaço para melhorias e aumento da produtividade.

Investir em novas tecnologias e restaurar pastagens também custa menos do que desmatar. De acordo com um segundo estudo do Amazônia 2030, conduzido pelo pesquisador Paulo Barreto, do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), sem melhorias, seria necessário derrubar entre 634 mil e 1 milhão de hectares por ano entre 2020 e 2030 para atender a um crescimento de até 2,4% na demanda por carne (segundo projeções de mercado do Ministério da Agricultura e Abastecimento).

O custo para abertura dessas novas áreas ficaria entre R$ 950 milhões e R$ 1,63 bilhão/ano. Já reformar apenas 0,37% e 0,64% da área de pasto existente aumentaria a produção nos mesmos patamares e custaria entre R$ 270 milhões e R$ 873 milhões. O custo do desmatamento é maior porque envolve a abertura da área, além do investimento necessário para iniciar a produção.

Recursos para investir na recuperação das pastagens degradadas não são um obstáculo, segundo a análise de Barreto. Os produtores precisariam de um valor entre 3% e 9,5% do crédito rural contratado para a região em 2020. “Embora seja viável técnica e financeiramente produzir sem desmatar, não há garantia de que esta alternativa prevalecerá”, escreve Barreto. “O custo global para aumentar a produção por meio da reforma de pasto é menor, mas os incentivos à destruição da floresta e as barreiras à adoção das melhores práticas podem tornar a opção do desmatamento vantajosa”.

Isso significa que, além de facilitar o crédito, promover qualificação e assistência técnica, é necessário combater os mecanismos que acabam incentivando a abertura de novas áreas, como a regularização de ocupações ilegais de terras públicas. “Os programas de regularização das posses têm sido feitos por meio de doação ou venda de terras por preços abaixo do mercado e resultam em um subsídio indevido”, escreve o pesquisador.

Manter a carne brasileira competitiva no mercado internacional – leia-se imune a embargos socioambientais – envolve esforços de diversas esferas governamentais, assim como de produtores. Mas a indústria da carne também pode dar uma contribuição decisiva para transformar esse cenário. Três grandes frigoríficos brasileiros já se comprometeram em monitorar todos os elos de sua cadeia de produção, para garantir que o gado que compram não tenha passado por fazendas que desmataram. A rastreabilidade completa ainda não é realidade, mas é certo que dela depende o futuro da carne brasileira.

Este artigo foi escrito por Alexandre Mansur e Marcela Buscato e publicado, originalmente, na coluna Ideias Renováveis, da Exame.

Foto: Imagem de Shutterbug75 por Pixabay