Vamos criar a vacina contra as mudanças climáticas?

A ciência mostrou do que ela é capaz quando se mobilizou para criar vacinas para o Covid. Agora devemos usar o aprendizado e inventar soluções para a crise do clima

O mundo vive hoje uma de suas maiores crises, que é o enfrentamento à Covid-19. A ciência mostrou do que é capaz quando trabalha de forma coordenada buscando resolver um único objetivo. Diversos centros de pesquisa do mundo fizeram algo que normalmente é feito em menor escala: pararam suas pesquisas individuais, suas perguntas norteadoras de linhas de investigações particulares, de interesse específico de cada pesquisador ou instituição, para focar nos esforços internacionais em busca da vacina.

O que se viu foi uma verdadeira corrida espacial, quase uma nova corrida em direção à lua. O resultado foi impressionante com a fabricação, em tempo recorde, de um antídoto que finalmente trouxe a esperança de vivermos em um mundo novamente sem pandemia.

Demos vários saltos tecnológicos ao mesmo tempo e conseguimos várias vacinas em um prazo inacreditável. Um desses saltos foi visto com o desenvolvimento da primeira vacina em pó contra o coronavírus, pela farmacêutica americana Pfizer. Foi uma forma encontrada, em parceria com a alemã BioNTech, de driblar os problemas de transporte.

E este é apenas um exemplo do que a ciência é capaz de fazer quando trabalha de forma conjunta, de um jeito diferente do que está acostumada a fazer, e isso demonstra o tamanho da oportunidade para que essa condução do trabalho científico seja aplicada para resolver a segunda grande crise da humanidade, que é a que ficará conosco pelos próximos milhares de anos: a crise climática.

Já existem esforços incipientes para organizar o esforço científico do mundo a fim de buscar soluções para a crise climática.

Segundo Andre Wongtschowski, gerente de Operações da World-Transforming Technologies (WTT), o Brasil investe substancialmente em ciência e tecnologia, somando cerca de R$ 80 bilhões anuais. “Entretanto, o país ainda enfrenta o desafio de canalizar esse conhecimento em direção ao desenvolvimento de inovações que respondam às aspirações do desenvolvimento inclusivo e sustentável. Ainda fazemos pouca ciência orientada por missões. É uma oportunidade muito significativa que precisa receber atenção”, observa.

As pesquisas orientadas por missões, ou mission-oriented, são políticas públicas sistêmicas que se baseiam em conhecimentos de fronteira para atingir objetivos específicos. No Brasil, é possível identificar algumas iniciativas bem-sucedidas, como o programa PAISS (Plano de Apoio Conjunto à Inovação Tecnológica Agrícola no Setor Sucroenergético e Sucroquímico), lançado em 2012 pela Finep em parceria com o BNDES, que estimulou o desenvolvimento de novas tecnologias industriais destinadas ao processamento da biomassa de cana-de-açúcar.

Outro bom exemplo é o “Conexões para Inovação”, da Petrobras, que consiste em uma série de iniciativas pensadas para intensificar a cooperação entre empresas e instituições de pesquisa para transformar artigos científicos em inovações implantadas. Além dele, também podemos lembrar do IdeiaGov, hub de inovação do Governo do Estado de São Paulo que apoiou o desenvolvimento de uma variedade de ferramentas para o enfrentamento da Covid-19 e do edital Ciência para o Desenvolvimento da FAPESP, que estimulou a articulação de consórcios de parceiros para desenvolver pesquisas orientadas à solução de problemas.

Nessa mesma direção, uma iniciativa lançada no final de 2020 por um conjunto de organizações da sociedade civil adota uma nova estratégia: convocar grandes cientistas brasileiros para desenvolver, de maneira colaborativa, inovações de base científica orientadas à resolução de problemas sociais e ambientais do país. A partir de um olhar de missões, o Centro de Orquestração de Inovações (COI) se propõe a “orquestrar” equipes científicas para criarem soluções que contribuam para grandes desafios do país, como gerar crescimento sustentável e equitativo e combater as mudanças climáticas e os seus efeitos.

“Um aspecto importante das políticas orientadas por missões é que elas devem indicar a direção a ser seguida, mas não o caminho a ser percorrido. Por isso, pode ser necessário estimular o desenvolvimento de uma variedade de soluções para cada desafio, apenas algumas das quais serão bem sucedidas. Então, as estratégias de inovação orientadas por missões precisam estar preparadas para assumir os níveis de incerteza e risco tipicamente associados ao desenvolvimento científico-tecnológico”, explica Andre, que ainda complementa: “talvez por isso ainda haja certa timidez no uso desse tipo política no Brasil, ainda que instrumentos jurídicos, como a figura das Encomendas Tecnológicas, que permite que entes públicos comprem produtos que ainda não foram inventados, viabilizem sua adoção”.

Na corrida pela vacina, o Brasil ficou pra trás e estamos pagando um preço muito alto por isso. Além de começarmos tardiamente a vacinar nossa população, também dependemos de insumos de outros países para fabricar mais doses. Enquanto isso, na geopolítica, alguns países passaram na frente porque desenvolveram vacinas mais rápido.

Na corrida para desenvolver tecnologias que resolvam a crise climática, temos boas condições de estar entre as potências. Não podemos perder tempo. Essa corrida é nossa. O Brasil tem todas as vantagens, já dispõe de tecnologias limpas, de grande mercado e, claro, pesquisadores qualificados que se dedicam a pesquisar tecnologias limpas.

Está na hora de transformarmos todo esse arsenal de potencialidades em uma grande empreitada nacional de desenvolvimento científico voltada para o clima. Precisamos começar agora.

Esse texto foi escrito por Alexandre Mansur e Thaísa Pimpão e publicado, originalmente, na coluna Ideias Renováveis, da Revista Exame.

MUNDO LANÇA PRODUTORA AUDIOVISUAL: A UNO

O ano de 2021 começou com mudanças por aqui. O Mundo Que Queremos alterou sua estrutura e dá seus primeiros passos com uma nova produtora de vídeo, a Um Novo Olhar. A UNO é uma produtora de conteúdo audiovisual que carrega consigo a experiência acumulada da equipe do Mundo para produzir vídeos publicitários, para redes sociais, comunicação interna, reportagens jornalísticas, podcasts, seminários e eventos online. Visite o nosso site.

Como escoar a produção de soja sem destruir a Amazônia

O governo anunciou uma ferrovia de R$ 12 bilhões que cortaria o coração da Amazônia para exportar a soja do Mato Grosso. Mas existem alternativas bem melhores

O governo federal anunciou que irá fazer a licitação de uma grande ferrovia cortando a floresta Amazônica. A concorrência é prometida para o primeiro trimestre de 2021. Trata-se de uma ferrovia que está projetada para percorrer quase 1.000 quilômetros entre Sinop, no Mato Grosso, até o porto de Miritituba, no rio Tapajós. Estamos falando do coração do agronegócio brasileiro e o objetivo da construção dessa linha de trem no meio da Amazônia é justamente acelerar a exportação de sua enorme safra de grãos. Mas, realizada sem os cuidados necessários, a construção da ferrovia deve acelerar o desmatamento e atingir vários territórios indígenas. Diante disso, precisamos perguntar: será que realmente precisamos dessa obra?

A obra está estimada em R$ 12 bilhões. O governo federal anunciou que irá colocar no mínimo R$ 2,2 bilhões dos cofres públicos na empreitada. Uma obra desse tamanho envolve a contratação de muitas empresas, a movimentação de muito dinheiro. Sabe-se que grandes obras do tipo tradicionalmente envolvem corrupção e favorecimentos políticos. O governo federal decidiu que quer a obra. Mas ninguém viu as alternativas. Quais são as opções para escoar a produção de grãos com menor investimento inicial, menor risco, menor manutenção, menor custo social, menor prejuízo ambiental?

Quando um projeto ainda está no papel, podemos avaliar se o que está sendo proposto é a melhor alternativa para o país. É a hora de pensar se esse é o caminho de menor custo. E quando falamos de custo, precisamos saber que não é são apenas as despesas com logística que entram na conta, mas também os custos ambientais e sociais. Nessa discussão também temos que considerar qual será a necessidade do transporte de grãos no futuro e quais são as alternativas existentes para levar esses grãos até os portos.

Entre as rotas alternativas, uma delas permitiria levar a soja do Mato Grosso para o porto de Itaqui, no Maranhão. Além de evitar cortar o coração da floresta Amazônica, ainda teria a vantagem de conectar outros polos produtivos, inclusive o Matobipa. Há também rotas mais econômicas que aproveitam a infraestrutura já existente até o porto de Santos, permitindo melhorar o escoamento de outros produtos do país.

O GT Infraestrutura, uma rede que conta com mais de 40 organizações socioambientais — entre elas World Wildlife Fund (WWF), Saúde e Alegria, Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam), Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) e Greenpeace —, tem a proposta de construir, coletivamente, uma agenda de análise técnica dos aspectos socioambientais que envolvem os empreendimentos e projetos de infraestrutura em curso no Brasil. Eles têm feito várias discussões sobre o assunto e a tônica geral é que precisamos discutir rotas, não projetos específicos. “Nem sempre as grandes obras são o que a Amazônia realmente precisa”, afirma o secretário executivo da rede, Sérgio Guimarães.

O Brasil tem que discutir alternativas que possam reduzir os riscos sociais e ambientais na Amazônia. Afinal, a floresta tem muito mais valor, inclusive financeiro, em pé. Por isso, a primeira coisa que precisa ser avaliada é se essa obra é mesmo necessária, comparando-a com outros projetos que já existem e têm riscos sociais e ambientais menores, uma vez que não passam no meio da Amazônia. Também devemos pensar se esse é o caminho de menor custo. “É preciso dar um passo e discutir mais do que um projeto, mas o futuro logístico do país”, afirma André Ferreira, diretor presidente do IEMA, que tem se dedicado a estudar o assunto. “A pergunta é qual é a infraestrutura que a sociedade quer, qual é a infraestrutura que ela propõe”, completa.

É a hora de fazer um estudo de cenários. E o sexto episódio do podcast do GT Infraestrutura fala justamente sobre isso, com a participação do André Ferreira. Ele deixa claro que o processo de decisão precisa ser mais transparente, claro e comparar diferentes alternativas. E a sociedade precisa poder opinar sobre isso. Especialmente as comunidades que vivem nessa área e que seriam atingidas pelos transtornos e consequências de uma obra como essa. O desenvolvimento do futuro é inteligente e anda junto com a preservação ambiental.

Esse texto foi escrito por Alexandre Mansur e Angélica Queiroz e publicado, originalmente, na coluna Ideias Renováveis, da Revista Exame.

Procuram-se negócios que resolvam nossas crises

O mundo passa por um momento desafiador. Pandemia e mudanças climáticas são duas crises simultâneas que nos desafiam a pensar soluções completamente inéditas. A boa notícia é que já existem vários negócios novos, revolucionários e inovadores dando exemplo de como o empreendedorismo pode causar impactos positivos tanto para as pessoas quanto para o meio ambiente. Esse é um mercado que, globalmente, tem o capital estimado em US$ 715 bilhões, levando investidores a aplicarem mais de US$ 600 milhões, segundo último levantamento da Aspen Network of Development Entrepreneurs (ANDE Brasil), que reuniu dados de 2018 e 2019.

No entanto, esses negócios de impacto ainda enfrentam muitos desafios para crescerem. Segundo um levantamento feito pela Pipe.Social, cerca de 80% desses empreendedores estão em busca de recursos financeiros. Pensando em encurtar o caminho entre quem empreende e quem dispõe de recursos para investir, a plataforma organiza, desde 2017, uma espécie de censo que acompanha a evolução do pipeline de negócios de impacto socioambiental no Brasil. A intenção é reunir esses negócios criativos, capazes de resolver várias lacunas deixadas pelos negócios tradicionais e incentivar o crescimento de empreendimentos que têm a missão explícita de gerar impacto socioambiental escalável ao mesmo tempo que geram resultado financeiro, garantindo a sua sustentabilidade.

Desde 2017, o Mapa de Negócios de Impacto Socioambiental já identificou mais de mil empresas e startups que se enquadram na definição de impacto. “O Mapa acaba sempre sendo uma fonte de referências e atuação para o mercado nos anos seguintes. As informações levantadas nos ajudam a planejar melhor como apoiar os empreendedores de impacto no país e a se organizar enquanto ecossistema”, afirma Mariana Fonseca, cofundadora da Pipe.Social. “Quanto mais dados a gente tiver, melhor a gente consegue mostrar que esse é um mercado aquecido, que tem investimentos, soluções e tecnologia, que dá para empreender fazendo o que gosta, gerando impacto positivo e pagando as contas”, completa.

Algumas dessas iniciativas empreendedoras tiveram papel importante para reduzir os efeitos da crise do coronavírus. A Fleximedical, que desenvolve unidades móveis e portáteis para suprir a falta de leitos hospitalares e exames, é um exemplo de negócio que só precisava de uma ajudinha para ganhar escala e potencializar sua atuação. Com a chegada da pandemia, eles tinham a solução para suprir uma demanda do governo federal, mas como ainda eram pequenos, não conseguiam atender às demandas burocráticas para vender direto para ele. No entanto, o trabalho deles é tão inovador, que bancos e investidores entraram como fiadores para viabilizar o crescimento do negócio, quase como o que acontece quando alugamos um apartamento. Assim, a empresa conseguiu escalar a sua produção para atender às demandas da pandemia. “Esse é um exemplo de negócio que estava pronto para resolver o problema, mas, por ser jovem, precisava de apoio”, relata Mariana Fonseca.

Segundo a última edição do Mapa, de 2019, a região Sudeste ainda concentra mais de 60% dos negócios de impacto mapeados. A região Centro-oeste é a que tem menos negócios, com apenas 5%. O levantamento também mostrou que as áreas com mais investimentos são produção e consumo sustentável, seguido de projetos para as cidades, saúde e bem-estar. A Pipe.Social agora está começando a atualizar esse mapa para sua próxima edição. Quem tem um negócio pode se inscrever ou atualizar seu cadastro até o dia 15 de fevereiro pelo site www.pipe.social.

Esta é uma oportunidade para os agentes desse ecossistema de impacto mostrarem que querem e podem fazer a diferença, sendo vistos por quem pode ajudá-los a crescer. Ideias de impacto, juntas, são saídas inteligentes para esse momento completamente desafiador.

Esse artigo foi escrito por Alexandre Mansur e Angélica Queiroz e publicado, originalmente, na coluna Ideias Renováveis, da Revista Exame.

Imagem: Desde 2017, o Mapa de Negócios de Impacto Socioambiental já identificou mais de mil empresas e startups que se enquadram na definição de impacto (jannoon028/Freepik/Divulgação)

Mundo lança nova identidade visual

Atualização na marca deixa mais clara mensagem sobre o mundo que queremos

O ano de 2021 começou cheio de novidades no O Mundo Que Queremos. Uma delas é a atualização da identidade visual, que agora tem traços mais leves e, ao mesmo tempo, definidos, que transmitem a nossa mensagem de forma mais clara.

“A nova identidade consegue, com os traços, lembrar um planeta sustentável, que é o que o Mundo quer construir. Esse é um momento de muitos desafios e acreditamos que a nossa marca deve servir para transmitir a sensação de esperança a quem olhar”, afirma Cássia Christe, diretora executiva do Mundo.

Geiber Dias, diretor de arte do Mundo, responsável pela criação, explica que a nova logo é mais dinâmica, em flat art, estilo mais clean, que é a tendência do momento. “A gente traz algumas informações sobre como é um mundo melhor pelas cores, como o verde e o azul, que lembram árvores e água. Além disso, mesmo na versão preto e branco, os traços continuam formando um planeta”, detalha.

Mundo é parceiro em movimento editorial para enfrentar crise climática

Um Só Planeta é iniciativa inédita, que junta as 19 marcas do portfólio da Editora Globo, Globo Condé Nast e CBN para promover práticas sustentáveis

Vivemos um desafio de comunicação para ajudar a sociedade a fazer a transição para um mundo com clima adequado e outros benefícios para todos. Por isso, O Mundo Que Queremos, junto com a Iniciativa Verde, é parceiro da Editora Globo, Globo Condé Nast e CBN, em um projeto inovador para aumentar o patamar de informação das pessoas sobre as mudanças climáticas: o Um Só Planeta, o maior movimento editorial brasileiro para promover práticas sustentáveis e enfrentar a crise climática.

A iniciativa junta os veículos O Globo, Extra, Valor Econômico, Época, Época NEGÓCIOS, Galileu, Marie Claire, Quem, Crescer, Casa e Jardim, Globo Rural, Pequenas Empresas & Grandes Negócios, AutoEsporte, TechTudo, Vogue, Casa Vogue, GQ, Glamour e CBN. A partir desta segunda-feira (1/2), eles concentram esforços em produzir conteúdos, sob diversas perspectivas, sobre a crise climática, o tema mais importante deste século. No final do ano, as principais matérias e dados serão editados e publicados em um anuário de sustentabilidade, que será veiculado na revista Época NEGÓCIOS e no jornal Valor Econômico.

Com esse projeto, estamos alinhados com nossa missão de criar ou ajudar a criar espaços inovadores para transmissão de conhecimento e informações necessárias para promover as transformações desejadas na sociedade. “Nós do Mundo Que Queremos acreditamos que muitos desafios socioambientais são fruto de lacunas de conhecimento ou informação”, afirma Cássia Christe, diretora executiva do O Mundo Que Queremos. “Muitos desses problemas são resultados de uma assimetria de conhecimento, quando determinados públicos precisam ter acesso a determinados tipos de informação para poder gerar as mudanças desejadas. Afinal, informação é poder”, arremata.

“Esse projeto será marcado pelo jornalismo construtivo, afinado com o século 21, com curadoria impecável, propostas e soluções e audição qualificada. Será o encontro perfeito entre a reputação das nossas marcas e a força da inteligência coletiva aportada pelas empresas parceiras e pelo público. Vamos dar voz ao planeta”, diz Sandra Boccia, diretora editorial da Editora Globo.

Já é possível acompanhar a produção do projeto pela página umsoplaneta.globo.com e pelas redes sociais (LinkedIn, Facebook, Instagram e Twitter). A plataforma tem patrocínio das empresas Ambipar, Braskem, Engie e Natura.

#UmSóPlaneta, vem com a gente. Não existe planeta B.