Produtor rural viu mudanças no processo de produção em Oriximiná, no Pará
Por Amanda Lemos
Luiz Souza, 82, assim que virou bancário, já tinha em mente que seria um pecuarista. Comprou suas primeiras cabeças de gado em Oriximiná (PA) em 1968 e formou-se médico veterinário aos 38 anos –enquanto trabalhava no Banco da Amazônia. O produtor rural, hoje aposentado, pode ver muitas mudanças no processo produtivo na região, que fica a 800 km da capital Belém. Por exemplo, quando começou, criava-se em várzea, e o capim era trazido via canoa, já que a área não tinha alimento suficiente para os animais. A queimada era comum quando uma terra ficava improdutiva, e hoje implementa técnicas para criar sem derrubar a floresta. Com o passar dos anos, expandiu as suas. Também reparou que a falta de orientação técnica fez com que o solo de sua fazenda degradasse. Atualmente, está pensando em fazer um curso de drones para implementar a tecnologia em suas fazendas.
Quando você começou a criar gado?
Comecei em 1968 com duas rezes [cabeças de gado] deixando em sociedade. Não tinha terra pra criar. Então, se costumava-se entregar um capital, vamos supor, de dez vacas. Após cinco anos, o dinheiro que ganhávamos era dividido pela metade. Costumávamos criar em parte de várzea, que era a parte inundada. E quando subia a água, nós tirávamos e colocávamos [os animais] em uma parte mais alta, que chamamos de terra firme. O gado era criado com capim que era trazido por uma canoa.
Como foram os anos 1980 para a pecuária na região?
Em 1975 comprei uma terra e montei uma fazenda. Nessas alturas já tinha bastante campo de terra firme. Já dava para sustentar o gado, não precisava trazer capim na canoa. Foi nessa época que começou a reclamação. O meio ambiente começou a surgir. Começou a ter questionamentos sobre a devastação da Amazônia, porque estavam derrubando e abandonando tudo. Depois de exaurir a terra –que já não era muito saudável–, entre 8 e 10 anos não tinha mais capim. Crescia muito mato. Nós chamamos aqui de juquira [um tipo de erva daninha]. Era costume abandonar o lugar devastado e devastar outra área. E, nessa época, existia uma política, uma ameaça de que os europeus queriam tomar a Amazônia. Era o governo militar que incentivou que se povoasse a região. Inclusive, a BR-316 foi feita até Belém com o seguinte slogan: “integrar para não entregar”. E com isso, o banco que eu trabalhava, o Banco da Amazônia, era autorizado a financiar o que quisesse e a quantidade que quisesse para fazer campo. A integração ia aumentando mais. Porém, não existia uma orientação técnica.
E como foram os anos seguintes?
Começaram a surgir os elementos necessários: universidade mostrando que tinha que fazer análise do solo para aquele campo que estava sendo usado pudesse ficar perene. Tinha muitas terras que estavam já degradadas. Já pelos anos 1990, até 2000, surgiram as empresas que vinham prestar serviço de consultoria agrícola. Eu acredito que hoje, aqui em Oriximiná, não tem 10% que esteja usando tecnologia. Acredito que o motivo não é que não queiram, eles aceitam, mas não tem condição financeira. Porque aqui nós não temos insumos suficientes para corrigir o solo. Aqui não tem calcário, aqui não tem adubo. Tudo vem pelo rio.
E como começou o projeto Pecuária Sustentável?
Devido a essa exigência ambiental, nós temos a mineradora Rio do Norte, que explora a bauxita. E houve uma exigência de eles cumprirem com uma função social. Eles tinham que dar uma assistência na saúde, educação e produção. Então, na parte de produção, a mineradora reserva no seu orçamento um alíquota lá do faturamento deles para investir na região. Diante disso, surgiu a ideia deles criarem um grupo aqui em Oriximiná para que a gente pudesse corrigir esse solo, para evitar a expansão das áreas degradadas. Foi aí que contrataram uma consultoria para ajudar no processo.
E como foi a adesão ao projeto? Quais foram os resultados?
Eu me lembro quando eles chegaram aqui para fazer a primeira reunião. Já havia há muito tempo uma certa demanda no sentido de querer fazer alguma coisa. Mas geralmente era governamental. E aí o povo já estava desacreditado de coisas governamentais. Quando reuniram, fizemos uma reunião grande, de todos os pecuaristas. Houve muita discussão, muitos estavam insatisfeitos. Foi então que resolvi ser o cabeça. Teve um lá que perguntou: quanto eu vou ganhar disso? A resposta foi: o que você fizer. Se você não fizer nada, você não ganha nada. Era apenas uma orientação técnica. No fim, foram só 14 pecuaristas. Eles deram direcionamento para cada adubo. E a gente teve que comprar e aplicar. Eu me lembro que no meu caso, eu me comprometi que nós íamos fazer essa parte do solo em toda a minha área. Eu ia fazer 10% a cada ano. Com essa porcentagem no ano, no outro o lucro seria investido em mais 10%. E assim por diante. Ou seja, estou aumentando minha produtividade. Você tem que aproveitar a onda, tem que acompanhar a maré. E como a maré é essa que, com tecnologia, tem mais resultado, é essa que temos que seguir.
Fotos: Acervo pessoal de Luiz Souza
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