Modalidades de transporte não conseguem atender a região por falta de dinheiro dos pecuaristas e pela precariedade das estradas
Por Amanda Lemos – Oriximiná (PA)
É difícil encontrar alguém que não tenha ligação com o agronegócio em Oriximiná (PA), região do Baixo Amazonas, afirma o pecuarista e médico veterinário Luiz Junior, 44. Mas, para uma pecuária mais produtiva avançar na cidade paraense, existem entraves ligados à logística e à questão financeira.
Oriximiná é banhado pelo rio Trombetas, que nasce no norte do estado e percorre 700 quilômetros até desaguar no rio Amazonas. Junior explica que, apesar do transporte hidroviário ser um dos métodos mais baratos para levar bens e mercadorias para a região, a característica do produtor rural local não é de grande escala. Portanto, arcar com a modalidade mais eficiente está fora da realidade para muitos pecuaristas. O calcário, que é usado para corrigir a acidez do solo, por exemplo, é um produto geralmente transportado a granel e em grandes volumes. “Para utilizar a hidrovia e baixar o custo logístico é necessário encomendar de 700 a 1000 toneladas do produto. Para a nossa realidade é um volume muito grande”, diz Junior.
O transporte rodoviário na região, modal de baixa escala que seria a solução para o problema, ainda é precário. O produtor rural cita que as pontes, que deveriam ser de concreto para suportar as cargas, são artesanais e de madeira, que não suportam 50 toneladas de um caminhão ou uma carreta. “Nossas estradas não tem como trafegar com caminhão, eu tenho dificuldade demais pra trazer insumos para a fazenda justamente pela dificuldade do transporte”, conta Pedro Arthur Printes, 45, pecuarista e mecânico. “Eu estou fazendo o que posso na agropecuária sustentável, mas eu que tenho que ir no meu carro, comprar, deixar na cidade, armazenar e ir trazendo aos poucos, porque não chega caminhão aqui”, afirma. O frete alto até Oriximiná também é uma questão para os pecuaristas da cidade. Além disso, desde a Guerra da Ucrânia, os preços de itens para correção do solo –como fósforo, potássio e uréia– aumentaram de forma significativa, visto que a maioria dos insumos vem da Rússia.
Um dos primeiros a aderir a um projeto de pecuária sustentável na região, Luiz Souza, 82, pecuarista desde 1968 e pai de Luiz Junior, acrescenta que há falta de conhecimento técnico abrangente, além da falta de um bom laboratório de solo com recomendações para pastagens. Souza fala sobre a ausência de um frigorífico para exportação na região, pois não há um aproveitamento total dos animais abatidos. A adesão ao projeto, financiado pela Mineração Rio do Norte e que consiste em um aconselhamento técnico aos pecuaristas da região, também foi difícil no início, em 2015. “O povo já estava desacreditado de coisas governamentais, apesar do projeto não ser”, explica Souza. Em uma reunião com pecuaristas da região, 14 aceitaram seguir com a consultoria. Hoje são aproximadamente 80 produtores rurais engajados no projeto. Sinal de sucesso da empreitada.
Fotos: Amanda Lemos
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