Receba agora para reflorestar sua terra desmatada

Iniciativa oferece aos proprietários de derrubaram mais do que deviam a conexão com quem paga para eles recuperarem a floresta

A restauração florestal é um jeito eficiente de recuperar áreas desmatadas. É uma solução prevista no Código Florestal e que já se provou eficaz para a construção de uma nova economia regenerativa. Ela é a saída para regularizar a situação ambiental de propriedades com demandas judiciais ou extrajudiciais. Mesmo assim, só no estado de São Paulo, existem mais de 25 mil hectares com pendências judiciais de restauração. E esses são só os processos que já estão em andamento e foram encontrados nas plataformas de busca.

No Brasil, processos de restauração florestal podem se arrastar por anos no Judiciário porque muitos proprietários dessas áreas optam pela judicialização como forma de postergar a implementação efetiva dessas obrigações. Nesse meio tempo, não é só o meio ambiente que perde, a economia também. Para se ter uma ideia, o potencial de negócios estimado em projetos de restauração florestal, só em São Paulo, pode chegar a R$125 milhões até 2025 e a até R$500 milhões até 2030. Esses valores variam de acordo com o custo de cada método por hectare, mas os números servem para dar uma dimensão do tamanho desse mercado.

“É um mercado que, além de beneficiar a qualidade ambiental da produção rural, gera um novo mercado, incluindo novos postos de trabalho e renda para todos os envolvidos. Como exemplos, a coleta de sementes, que emprega comunidades quilombolas, startups de monitoramento de carbono e toda a estrutura de uma cadeia econômica relevante entre eles. E ainda tem a arrecadação com tudo isso”, explica André Lima, um dos coordenadores da H2A Hub Agroambiental, uma iniciativa que promove a agricultura regenerativa, oferecendo soluções e fazendo a ponte entre vários atores para acelerar esses processos.

O H2A é um ponto de encontro entre vários players desse mercado. Num ritmo normal, um projeto desses pode demorar de dois a três anos só para começar e isso tem a ver com o fato de que um produtor rural, um advogado, um investidor e um consultor florestal, alguns dos atores necessários para viabilizar a restauração, não costumam se conhecer. “É preciso ter um catalisador desse processo que fale as línguas de todos os envolvidos e faça conexões de cada necessidade com o leque de opções que já existem”, ressalta André Lima.

Lançado em 2021, pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) com apoio do programa do governo britânico Partnerships For Forests (P4F), o Hub identifica soluções técnicas, jurídicas e econômicas e oferece aos interessados um cardápio de ações que podem ser realizadas em prazos reduzidos, na comparação com os trâmites judiciais convencionais.

Os técnicos do Hub localizam propriedades com pendências e ajudam a desenvolver arranjos com propostas de tecnologias de restauração adequadas à cada fazenda. Uma outra iniciativa, que também tem o apoio da P4F, a JusAmbiente, já está ajudando a H2A a identificar potenciais clientes. Parte da Jusbrasil, o site organiza um grande levantamento de ações civis públicas de processos de restauração florestal em São Paulo.

Depois de identificar e entrar em contato com os proprietários, os técnicos do Hub os ajudam a criar planos para viabilizar a restauração. Esses projetos são customizados e podem incluir modelos para gerar, por exemplo, créditos de carbono, garantindo receita para diminuir os custos com a restauração.

O Hub ainda faz a ponte entre os proprietários de fazendas e potenciais financiadores, doadores, investidores e parceiros públicos e privados que possam viabilizar, técnica e economicamente, a restauração, conciliando os interesses de todos. “Os proprietários querem que alguém ajude a pagar a conta da restauração e a gente pode ajudar com isso. Um empresário que está, por exemplo, investindo em carbono no Brasil, dificilmente conhecerá o seu João ou o seu advogado. A gente faz essa ponte e ajuda a fazer com que esse dinheiro vire floresta, sem se perder no meio do caminho”, completa André Lima.

Este artigo foi escrito por Angélica Queiroz e publicado, originalmente, na coluna Ideias Renováveis, da Exame.

imagem: depositphotos

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