Área com a 4ª maior árvore do mundo está ameaçada por garimpeiros e grileiros. Foi a 9ª unidade de conservação mais desmatada em maio
A Floresta Estadual (Flota) do Paru, no norte do Pará, abriga um patrimônio natural: árvores gigantes, com mais de 70 metros de altura. Mesmo sendo uma das áreas mais ricas em biodiversidade do Brasil e apesar do difícil acesso, esta região enfrenta desafios como desmatamento e garimpo. Nesse contexto, durante o movimento Um Dia no Parque, a maior ação de mobilização pelas áreas protegidas do país, que acontece domingo (21/07), mais de 20 organizações lançam uma campanha que pede pela criação do Parque Estadual das Árvores Gigantes.
É na Flota do Paru que está a maior árvores da América Latina e a quarta maior do mundo, um angelim-vermelho (Dinizia excelsa) com 88,5 metros de altura, o equivalente ao dobro do tamanho do Cristo Redentor, que tem 38 metros, com idade estimada entre 400 e 600 anos. Próximas a ela, outras árvores gigantes com quase 80 metros de altura formam um santuário de biodiversidade revelado durante expedições científicas.
Apesar da grandiosidade e importância ecológica, as árvores gigantes enfrentam ameaças. Dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), apontam que a Floresta Estadual do Paru foi a 9ª unidade de conservação da Amazônia Legal mais desmatada em maio de 2024. No acumulado de janeiro a maio deste ano, o Pará ficou em terceiro lugar no ranking de desmatamento. Além disso, o número de garimpeiros na área protegida aumentou 628 em 2009 para mais de 2 mil em 2023.
Compromissos e ações
Em setembro de 2023, o governador do Pará, Helder Barbalho, anunciou durante o Global Citizen Festival em Nova York o compromisso de expandir as áreas protegidas do Estado em 1 milhão de hectares até a COP-30. Uma das ações previstas é a transformação de parte da Flota do Paru, elevando seu status de conservação para um parque, o Parque Estadual das Árvores Gigantes.
Campanha #ProtejaAsÁrvoresGigantes
Diante dessa oportunidade única e também como forma de colaborar para a diminuição às ameaças enfrentadas pelas árvores gigantes, entidades do terceiro setor e setor privado voltaram a se unir na campanha #ProtejaAsÁrvoresGigantes, que desde 2022 vem chamando a atenção para a região. O objetivo é apoiar a criação do Parque Estadual das Árvores Gigantes, garantindo a proteção do angelim-vermelho e de todo o ecossistema ao seu redor.
“A criação do Parque Estadual das Árvores Gigantes é uma ação fundamental e necessária para proteger uma das áreas mais valiosas da Amazônia. Com a implementação de medidas adequadas, elaboração de plano de manejo, desenvolvimento de programas de turismo e atuação rigorosa do poder público contra os crimes ambientais na região, será possível garantir a preservação do angelim-vermelho, de outras árvores gigantes e do futuro da biodiversidade da Amazônia”, afirma Alexandre Mansur, diretor de projetos do Instituto O Mundo Que Queremos, organização que coordena a campanha.
Diversas iniciativas já apoiam a campanha, incluindo: Amigos do Parque Nacional e Histórico do Monte Pascoal, Brazilian Luxury Travel Association (BLTA), Caiman Pantanal, Engajamundo, Fundação Ecológica Cristalino (FEC), GreenBond, Imazon, Instituto Centro de Vida (ICV), Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé), Instituto Neo Mondo, Observatório de Justiça e Conservação (OJC), Onçafari, Operação Primatas, Rede Pró-Unidades de Conservação (Rede Pró UC), Saúde e Alegria, Seja Legal com a Amazônia, World Heritage Watch e o Canal Zoomundo.
Por que transformar parte da área para um Parque?
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação do Brasil possui 12 categorias de proteção, divididas entre Uso Sustentável e Proteção Integral. As Florestas Estaduais estão no primeiro grupo, permitindo o uso de recursos naturais e a retirada de madeira sob regras de manejo. “A categoria parque, que faz parte das Unidades de Conservação de Proteção Integral, permite o uso indireto dos recursos, sendo o turismo de natureza uma das principais atividades econômicas. Elevar parte da Floresta Estadual do Paru à categoria parque dará maior proteção à região e ao angelim-vermelho, além de benefícios econômicos para as comunidades locais. Por isso, #EuApoioACriaçãoDoParqueEstadualDasÁrvoresGigantes”, diz Angela Kuczach, diretora executiva da Rede Pró UC e idealizadora do Um Dia No Parque.
O lançamento da Campanha acontece no próximo dia 21, junto com a edição 2024 do Um Dia No Parque, que esse ano reúne cerca de 400 Unidades de Conservação de todo o país. “Ter a campanha em apoio à criação do Parque Estadual das Árvores Gigantes sendo lançada junto com o Um Dia No Parque 2024 é também um posicionamento claro do que defendemos: conservação da biodiversidade tendo o turismo como um mecanismo forte de desenvolvimento econômico e social, que dá oportunidade a todos: visitantes de conhecerem esse patrimônio mundial, que são as árvores gigantes, comunidades locais de terem emprego e renda gerados a partir da criação e implementação de um Parque, e a sociedade brasileira, que passa a conhecer e se orgulhar desse tesouro”, ressalta a ambientalista.
Foto: Havita Rigamonti/Imazon/Ideflor