O Triângulo das Bermudas de São Paulo

Não. Ele não fica no Caribe, embora tenha um clima quente. O novo Triângulo das Bermudas está em São Paulo. Ele apareceu neste verão. Sua localização ainda não é precisa. Aparentemente está em expansão. Hoje é possível traçar sua área com linhas unindo os três vértices: o Parque Villa-Lobos, o Parque do Ibirapuera e o Memorial da América Latina. Dentro dessa área estão os bairros de Pinheiros, Perdizes, Vila Madalena, Jardins e Pompéia. O fenômeno característico dessa região é a misteriosa invasão dos homens de bermudas.

Ninguém sabe exatamente o motivo. Não há – é preciso reconhecer – indicadores precisos desse fenômeno. Não existe estatística ou índice, muito menos pesquisa científica. Mas basta caminhar nas ruas dessa região nobre de São Paulo e fazer uma contagem amostral para constatar que praticamente metade do público adulto masculino, inclusive em horário e locais de trabalho, estão vestindo bermudas. São várias combinações. Bermuda com camiseta, com polo ou com camisa (para

dentro ou fora). Com Havaianas, com tênis, com meia ou sem, com sapato. Muitos com sandálias franciscanas. Vários com Bierkenstok.

Pode ser pura coincidência. Pode ser uma onda passageira. Ou podemos estar vivendo uma transição de comportamento. Seria mais do que uma moda. A adoção de bermudas pelos homens, no lugar de calça comprida, representa uma evolução cultural.

No auge do verão, com a cidade batendo recordes de calor, o traje adaptado ao clima têm várias vantagens ambientais. Primeiro, permite uma redução na dependência de ar condicionado. Também permite mais flexibilidade para o transporte coletivo e para a locomoção ativa. Não é por acaso que justamente agora estamos vivendo uma explosão no uso de ciclovias, aluguel de bicicleta e patinetes elétricos.

É possível arriscar vários motivos para essa transformação cultural. A disseminação do estilo visual hipster – com bermudas e tênis de skatista – pode ser parte da explicação (inclusive as fotos deste post receberam um filtro). Ou um aumento na proporção de profissionais em esquemas flexíveis de trabalho, com contratos esporádicos – sem um chefe ou empresa com código de vestuário – e trabalhando em home office.

Independente do motivo, adequar o vestuário ao clima é um avanço civilizatório. E ambiental. O próximo passo é criar o Dia Mundial Sem Terno.

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