Por Rosenildo Ferreira, especial para COALIZÃO VERDE (1 PAPO RETO, NEO MONDO e O MUNDO QUE QUEREMOS)
Houve um tempo no qual a adoção de princípios da sustentabilidade funcionava como um diferencial competitivo para algumas empresas em relação às concorrentes. Mais recentemente, o mercado financeiro começou a privilegiar corporações preocupadas em valorizar os pilares ESG (meio ambiente, social e governança, da sigla em inglês). Em 2023, a União Europeia (UE) deu um passo importante para que a obediência às normas socioambientais se torne um quesito obrigatório para quem deseja fazer negócio com o poderoso bloco econômico.
Fez isso por meio da regulamentação, aprovada pelo Parlamento Europeu com ampla maioria de votos: 552 favoráveis, 43 abstenções e 44 contrários, que proíbe as importações de itens que tenham insumos derivados de atividades danosas ao meio ambiente. A lista inclui sete segmentos: gado, madeira, cacau, café, borracha óleo de palma e soja que, à exceção do café, possuem sua principal base de produção em cidades da Amazônia Legal.
A medida, que começa a vigorar a partir do final deste ano, provocou reações imediatas. Enquanto boa parte dos empresários e integrantes do governo brasileiro se apressaram em deplorar a restrição – apontada como uma barreira não-comercial ou mesmo um “dumping ecológico” –, outros trataram de analisar o novo cenário para enxergar oportunidades de negócios. Foi o caso de Cypriano Camargo, sócio-fundador e diretor geral da CCC Monitoramento. “Assim que soube da medida entendi que ela exigiria dos exportadores um reforço em seus mecanismos de controle em relação à atuação de suas cadeias de suprimentos”, conta.
E é a partir dessa linha de argumentação que o empreendedor pretende disseminar a plataforma CCC Monitoramento Socioambiental Fácil. Segundo ele, trata-se e um novo produto, baseado no sistema desenvolvido para dar suporte ao trabalho de watchdog (termo em inglês para agente de fiscalização pública ou privada) focado nos processos de Recuperação Judicial (RJ), no qual é pioneira no Brasil. Desde 2010, a CCC atuou em ações envolvendo passivos totais de R$ 100 bilhões. Da carteira de clientes constam gigantes do porte de PDG Realty, Novonor (antiga Odebrecht), Atvos Agroindustrial, JAC do Brasil e Bodytech.
Ele explica que a plataforma Monitoramento Socioambiental Fácil é totalmente customizável, podendo atender empresas de qualquer setor, independentemente de estarem em processo de RJ ou não, com uma ampla gama de informações, em profundidade, envolvendo uma propriedade rural, um CNPJ ou um CPF. A lista inclui histórico de desmatamento, regularização fundiária e a existência de ações judiciais referentes a trabalho infantil ou análogo à escravidão, por exemplo. “Tudo isso pode ser visualizado em poucos cliques em um mapa interativo”, conta. A atualização é diária e feita de forma automática, a partir do acesso a bancos de dados públicos (Ministério Público, Tribunal de Contas da União, Ministério do Meio Ambiente, Banco Central, entre outros).
Camargo aposta alto nesse novo serviço da CCC, pela sua capacidade de refinar o processo de tomada de decisão de modo mais estratégico e assertivo. “Em vez de esperar pela auditoria anual para saber dos potenciais riscos de um prestador de serviço ou fornecedor, nossos clientes contarão com informações qualificadas no dia a dia”. O otimismo reside não apenas na decisão da UE, como também em outros movimentos envolvendo a agenda da sustentabilidade e a necessidade de empresas e governos se alinharem às diretrizes do Pacto Global da ONU e aos demais compromissos assumidos em fóruns internacionais.
Em diversos casos, esses acordos resultam na destinação de recursos a fundo perdido, cuja utilização está vinculada a um projeto socioambiental. “Todos esses organismos multilaterais possuem um sistema de governança bastante sólido e um nível elevado de exigência em matéria de transparência para aplicação dos recursos”, destaca. “E tudo que não pode acontecer é que o dinheiro vá parar nas mãos de empresas ou pessoas que não têm compromisso com a causa”.
A exemplo da plataforma utilizada para monitorar despesas de caixa em empresas em processo de RJ, o novo serviço foi integralmente desenvolvido pela equipe da CCC, que conta com um time enxuto de 13 pessoas, das quais quatro são sócias sêniores e outras quatro se dedicam exclusivamente à infraestrutura de TI da consultoria criada em 2010. Para dar suporte à nova plataforma, Cypriano recrutou Luiz Villares, que atuará como consultor ambiental sênior. Graduado em administração de empresas com especialização em finanças pela Thunderbird School of Global Management, o executivo fez carreira em ONGs ambientais de grande porte, como a Fundação Amazônia Sustentável (FAS), na qual ocupou o cargo de diretor financeiro.
Foto de abertura: fábrica de óleo de palma na região Norte. Fonte: Abrapalma / Divulgação
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