“Em vez de gastar com brindes corporativos e presentes, doe para ONGs”, defende a criadora da startup GiftAid

Por Rosenildo Ferreira, especial para COALIZÃO VERDE (1 PAPO RETONEO MONDO e O MUNDO QUE QUEREMOS)

A complexidade como se organiza a sociedade brasileira tem impacto em diversos setores. Por conta disso, quase todas as análises precisam ter em mente a metáfora do Copo meio cheio, Copo meio vazio. Afinal, dependendo do ângulo que se analise, podemos enxergar avanços como também atrasos seculares em todos os campos. Isso se reflete nos dados referentes às ações de solidariedade envolvendo a doação de recursos ou o trabalho voluntário. É que o mesmo Brasil que despontou como o 18º mais generoso do planeta, no World Giving Index 2022, apareceu no ranking do ano seguinte na 89ª colocação.

De acordo com especialistas, inúmeros fatores explicam essa gangorra. Entre eles os mais citados são a burocracia e a falta de mecanismos legais que viabilizem e facilitem o processo de doação, especialmente de recursos, em bases regulares, sem que haja um catalisador específico, como uma catástrofe climática (as enchentes no Rio Grande do Sul) ou sanitária (a pandemia de Covid-19), por exemplo.

A paulistana Vivian Barreira sentiu isso na pele, em 2018, quando decidiu trocar a tradicional lista de presentes de casamento por indicações de ONGs para receberem doações dos convidados. “Em meio aos preparativos para a cerimônia ainda tivemos de lidar com toda a burocracia de buscar as entidades, pedir autorização para incluir seus dados numa plataforma de presentes e depois repassar os recursos para cada ONG”, recorda. De fato, trata-se de uma carga de trabalho capaz de desanimar até o mais obstinado dos filantropos.

A experiência, no entanto, acabou se tornando a inspiração para a virada de chave em sua trajetória profissional. Em 2021, a advogada especializada no segmento corporativo e com passagem pelo mercado financeiro deu lugar à empreendedora. Entre a ideação e o lançamento da GiftAid se passaram dois anos, tempo gasto por Vivian para estudar os mecanismos de doação existentes, e lapidar seu modelo de negócio. A diferença em relação a propostas semelhantes é que a startup faz uma rigorosa curadoria das entidades. Na plataforma, as ONGs são apresentadas em ordem alfabética e distribuídas em 14 eixos, incluindo refugiados, povos originários, animais, LGBTQIA+, pessoa idosa e moradia.

Aporte de R$ 1 milhão

Antes de figurar na lista, elas passam por escrutínio composto de 13 indicadores, que vão desde a análise da documentação e da situação fiscal, até uma visita in loco. “Hoje, nós contamos com 42 ONGs em nossa base e outras 12 estão em fase de análise. A lista inclui potências, como Ação Cidadania e Amigos do Bem, e entidades pequenas e focadas em temas bem específicos, como Lar Casa Bela e Natureza Conecta”, conta a empreendedora.

Foram estes atributos que chamaram a atenção de um fundo de investimento, cujo nome ela não revela, que aportou R$ 1 milhão na startup, em abril deste ano. Como contrapartida, Vivian se comprometeu em multiplicar por quatro o montante de doações mensais, que hoje somam R$ 200 mil.

Uma meta que ela considera bastante arrojada, apesar de factível. Isso porque, ao contrário dos sistemas, digamos, convencionais de doação para causas que miram nas pessoas físicas, o principal foco da GiftAid são as empresas. “Colocamos o ato de doar entre as opções de brindes corporativos e recompensas empresariais alinhado ao componente da pauta ESG”, argumenta.

O processo de doação é totalmente automatizado e segue a mesma lógica de um site de compras on-line. As empresas que buscam a plataforma recebem um QR code que ao ser lido leva o usuário para a plataforma já com o valor preenchido no “carrinho de compra”. A partir daí, basta selecionar a ONG que receberá os recursos. Pelo trabalho de intermediação a GiftAind cobra 12%, usados para as despesas administrativas e serviços de tecnologia a cargo de 25 profissionais, dos quais cinco compõem a equipe fixa da startup.

Foto: divulgação

Coalizão Verde é a união dos portais de notícias 1 Papo RetoNeo Mondo e O Mundo que Queremos com o objetivo de maximizar os esforços na cobertura de temas ligados à agenda ESG

 

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