Novo estudo mostra que economia baseada no uso sustentável dos recursos pode gerar mais empregos, negócios e renda do que o atual modelo predatório
Qualquer debate sobre o futuro do Brasil hoje precisa considerar o desenvolvimento sustentável da Amazônia com a floresta em pé como uma de nossas maiores oportunidades históricas. Isso já está mais do que consensual no debate político e econômico. Pelo menos de quem está integrado ao que ocorre no mundo, em plena transição para economia de baixo carbono. Porém, para o Brasil realizar esse potencial, precisa dar uma guinada de 180 graus na visão para a Amazônia.
O atual modelo de exploração da região é insustentável Inclusive, ele é um modelo de exploração e não de desenvolvimento propriamente dito. Sua lógica se caracteriza, principalmente, por atividades que geram desmatamento e emissões de CO2. Ou seja, no fim das contas, além de causar alto impacto sobre o bioma, não geram crescimento econômico significativo e ressaltam a desigualdade social existente, uma vez que a informalidade do trabalho é alta, a qualificação profissional baixa e os salários aquém das médias nacionais.
Se este modelo for mantido, em 2050 a emissão de carbono será cinco vezes maior do que as metas estabelecidas pelo Acordo de Paris e 57 milhões de hectares de floresta seriam destruídos, área equivalente ao território da França. Este cenário tornaria inviável o controle do aquecimento global e a Amazônia se aproximaria do seu ponto de não retorno, provocando o colapso do ecossistema.
É o que mostra o estudo Nova Economia da Amazônia desenvolvido pelo WRI Brasil em parceria com 76 especialistas de instituições científicas de diversas regiões do país. De acordo com a publicação, ainda dá tempo de evitar que o pior aconteça, pois ao reconhecer a urgência social, ambiental e climática de desenvolver a Amazônia Legal de forma sustentável e inovadora, o projeto apresenta caminhos para estruturar uma economia moderna e livre de desmatamento, impulsionando a descarbonização de toda a economia brasileira.
O estudo propõe diversas mudanças nos setores da bioeconomia, agropecuária, mineração e infraestrutura. Com isso, os impactos que a Nova Economia da Amazônia (NEA) pode proporcionar até 2050 comparado à economia atual seriam imensos, a começar pelas pessoas. São 833 mil novos empregos no setor de bioeconomia, que restaura a floresta, em vez de desmatar; geração de renda e distribuição mais justa de benefícios. Segundo os pesquisadores, seriam 300 mil empregos a mais do que os negócios atuais, baseados na economia da exploração destrutiva.
Para a economia, o país receberia injeção anual de pelo menos R$ 40 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB) da Amazônia Legal, a partir de 2050; crescimento de todos os setores, incluindo agropecuária e mineração; e PIB da bioeconomia 67% maior, alcançando R$ 38,5 bilhões por ano. Já para o meio ambiente, os maiores impactos seriam desmatamento zero e restauração de 24 milhões de hectares de florestas; 94% menos emissões líquidas e estoque de carbono 19% maior e maior produtividade da terra, menor suscetibilidade à estresse hídrico e menor perda de fertilidade do solo.
Mas, como fazer essa transição? Segundo o levantamento, o custo de transição para implementar a NEA seria de R$ 2,56 trilhões até 2050 ou 1,8% do PIB do país ao ano, apenas 0,8% a mais do que o nível de investimento atual. Esses investimentos não seriam aplicados somente na Amazônia Legal e a Amazônia seria a grande catalisadora da descarbonização da economia brasileira.
A partir disso, a principal tarefa do setor público será desonerar as atividades de baixa emissão, além de criar um arcabouço e de taxonomias que orientem o mercado financeiro para estimular os investimentos verdes. Para isso, é necessário um marco legal do mercado de carbono no Brasil e um debate sobre redirecionamento de subsídios que, progressivamente, migraram das atividades intensivas em carbono para as sustentáveis. Ao setor privado, caberia aumentar sua capacidade de inovar e exercer seu papel de propulsor da economia. Com a NEA, o PIB da região em 2050 seria R$ 40 bilhões superior à trajetória atual.
Vale dizer que o estudo não leva em consideração os custos de não fazer nada e enfrentar os impactos climáticos causados pelo desmatamento, mas uma estimativa bastante conservadora mostra que seria o dobro do investimento necessário para a NEA. Além disso, a análise reforça que os modelos utilizados não captam todo o potencial da bioeconomia, que deverá ser muito maior nas próximas décadas.
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