A ação predatória de bandoleiros travestidos de garimpeiros, nas terras indígenas da Amazônia, fez reacender o alerta sobre os perigos da contaminação por mercúrio. De fato, trata-se de um elemento químico perigoso para a saúde humana que, ao ser descartado na natureza se incorpora aos animais (especialmente peixes) e à água, causando uma série de doenças graves que podem levar à morte.
Tão grave e danosa quanto a ação de garimpeiros ilegais é a falta de um amplo programa para coleta e descarte correto deste metal presente em diversos produtos de uso doméstico, como pilhas, termômetros, cremes para maquiagem, amálgama dentário e lâmpadas fluorescentes.
Na condição de signatário do Tratado de Minamata, patrocinado pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2013, o Brasil está obrigado a eliminar progressivamente o uso do mercúrio. Até lá, precisa cuidar da logística reversa destes produtos. Mas pouca coisa tem sido feita. Uma honrosa exceção é o trabalho promovido pela Reciclus, Organização da Sociedade Civil responsável pela gestão da logística reversa de lâmpadas no Brasil.
Desde sua criação, em 2017, a entidade já ajudou a dar um destino correto para 33,3 milhões de lâmpadas, em seus 3.837 pontos de coleta, espalhados por 595 cidades. “Nossa expectativa é ampliar a atuação no Paraná, focando sempre em municípios com mais de 25 mil habitantes”, destaca Camilla Horizonte, gerente de operações da Reciclus.
O programa é baseado em uma cadeia de responsabilidade, na qual o lojista recebe um coletor desenhado para abrigar diversos formatos de lâmpadas (tubulares e com bulbo, por exemplo). O material, entregue por pessoas físicas, é captado pelas 13 transportadoras parceiras e enviado para empresas especializadas em reciclagem. Uma delas é a Tramppo, criada em 2003 dentro do campus da Universidade de São Paulo (USP), onde passou por um processo de incubação.
Em sua base, em um condomínio industrial em Osasco, cidade da Região Metropolitana de São Paulo, são processadas 250 mil lâmpadas, por mês, que geram o equivalente a 60 toneladas de material para descarte. O processo se dá de forma automática, com o rigor necessário para evitar a contaminação. “A cada hora nós trocamos 40 vezes o oxigênio presente no recito, para evitar a contaminação dos funcionários e do meio ambiente”, conta Carlos Pachelli, sócio da Tramppo.
O mercúrio fica retido em filtros de carvão ativado, que posteriormente são descartados em aterros certificados. Depois da retirada do pó fosfórico, o vidro moído e o metal são vendidos para reciclagem.
Apesar dos notáveis esforços na logística reversa do setor, ainda existe um longo caminho a ser percorrido. Isso porque, o nível de reciclagem no Estado de São Paulo oscila entre 5% e 10%, de acordo com o sócio da Tramppo. A questão é séria, afinal, o descarte incorreto de cada mil lâmpadas coloca quatro miligramas deste metal pesado e letal para a saúde, na atmosfera, no lençol freático e nos cursos de água.
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