Para onde vai a picape da energia limpa

Dois empreendedores brasileiros mostram como a transição para carros elétricos no país pode criar mercado para muitos novos negócios

Os irmãos Henderson e Hewerton Elias Martins, de Aparecida do Taboado, no Mato Grosso do Sul, gostam de se aventurar por estradas pouco pavimentadas. Prova disso é a caminhonete que eles compartilham. Um Ford Ranger ano 1995 de cor prata. Não é uma picape qualquer. Trata-se da primeira Ranger totalmente elétrica. Os dois gastaram um bom tempo de pesquisa e cerca de R$ 50 mil para fazer a conversão do veículo a diesel para o motor elétrico e as baterias. Fizeram isso porque são empresários empreendedores e desbravadores. Os dois são sócios da Solar Energy do Brasil, uma empresa que instala sistemas de energia solar. Agora com a Ranger, pretendem abrir um novo caminho. Seu plano é desenvolver uma rede de recarga de veículos elétricos alimentada por painéis solares.

Um dos primeiros desafios para tornar a rede de recarga viável é disseminar a ideia de carros elétricos para todos os usos. Os dois apostaram na picape para mostrar que a eletricidade é uma solução para veículos leves e também para levar carga pesada. A Ranger é um carro imponente, com rodas largas e um motor que pode chegar a 160 cavalos de potência. Até pouco tempo era impensável andar em um carrão desses sem emitir quantidades significativas de gases causadores do efeito estufa. Henderson Elias Martins, um dos sócios da empresa, conta que precisou fazer um estudo independente fora do país para viabilizar a transformação da Ranger. “Queremos mostrar que o carro elétrico é viável, não precisa ser um carrinho de bicicleta, e pode ser recarregado com a energia solar fotovoltaica”, ressalta.

É significativo termos empreendedores brasileiros pensando no ecossistema para a transição da mobilidade dos combustíveis fósseis para os elétricos. Indica que o país está amadurecendo. A infraestrutura para permitir uma frota de carros elétricos rodando nas ruas brasileiras é essencial. À primeira vista, parece difícil conseguir construir essa rede de abastecimento do mesmo tamanho que a de combustíveis para permitir que as pessoas circulem com conforto. Mas uma rede elétrica é muito mais simples. Não envolve inflamáveis. Não depende de extração, refino e distribuição concentrados em poucas empresas. A aventura dos irmãos Martins mostra que a popularização dos carros elétricos vai acontecer de forma descentralizada, independente de um planejamento governamental. Poderia ser acelerada por ajuda oficial, mas não depende dela. E que a transição para o modelo elétrico vai beneficiar muitos empreendedores de todos os tamanhos. Ela é democrática.

Henderson é otimista. Ele acredita que um futuro onde os carros elétricos dominem o mercado está mais próximo do que a gente imagina. “Ainda existe um desconhecimento, mas já está acontecendo. Quando tivermos essa estrutura para recarga dos automóveis vai ser algo ainda mais natural. As pessoas vão poder chegar nas concessionárias e simplesmente optar por um veículo elétrico”, afirma. Henderson ressalta que, além de ambientalmente mais correto, um carro elétrico também pode ser uma ótima alternativa para economizar, mesmo que ainda custe mais caro que o convencional. Isso porque os custos de manutenção e reabastecimento são menores, podendo representar até 70% de economia. Compensa para quem roda muito.

Empresas grandes também têm planos de investir na rede de recarga de carros elétricos. Uma delas é a EDP, distribuidora de energia cuja matriz em Portugal é uma das mais avançadas do mundo nessa transição. A EDP está tocando, junto com parceiros, outros projetos de incentivo à mobilidade elétrica no Brasil, com implementação prevista para os próximos três anos. Os investimentos previstos são da ordem de R$ 50 milhões e contemplam a construção de postos rápidos na Dutra, (rodovia que liga São Paulo ao Rio de Janeiro), além de postos de recarga ultra rápidos em outros pontos do estado paulistano, como no litoral Norte de São Paulo, e de eletropostos no Espírito Santo. Tudo será abastecido com energia solar. “É aquela velha questão sobre o que tem que acontecer primeiro. Não podemos esperar que haja grande aquisição de veículos elétricos para pensar nessa infraestrutura, porque muita gente não cogita essa possibilidade justamente porque não existe infraestrutura”, resume Nuno Pinto, Gestor de Produtos e Serviços de Mobilidade Elétrica na EDP.

No Brasil, os carros elétricos ainda são restritos ao mercado de luxo, mas a perspectiva é que nos próximos anos as montadoras comecem a produzir veículos mais acessíveis. “Aí toda a cadeia produtiva desse setor é trazida a reboque”, diz Marcel Martin, coordenador do Portfólio de Transportes no Instituto Clima e Sociedade. “Começando pelos pontos de carregamento”. Ele acredita que a pandemia da covid pode incentivar uma mudança de hábitos, fazendo com que mais gente abra os olhos para soluções verdes. “Com menos deslocamento nas cidades, elas se tornaram locais muito mais saudáveis para se morar. Esse momento pode nos ajudar a entender que está também nas nossas mãos essa decisão de poluir menos e de proteger o planeta. Não dirigir um carro à combustão tem tudo a ver com isso.”

O Brasil está entrando atrasado na transição para os carros elétricos. Isso ocorre em boa parte porque o país tem uma outra solução – muito particular – para a baixa emissão de carbono. São os carros movidos a etanol. Nenhum outro país do mundo tem uma frota com tão baixa emissão quando o Brasil, graças ao nosso álcool. A tecnologia própria de motores a álcool e carros flex colocou o país num lugar único. No entanto, o resto do mundo está tomando o rumo dos carros elétricos. Não podemos ficar isolados. Precisaremos entrar nesse caminho também. Com várias estações para recarregar as baterias e abastecer as ambições de vários empreendedores brasileiros.

Este artigo foi originalmente escrito por Angélica Queiroz e Alexandre Mansur e publicado na coluna Ideias Renováveis da revista Exame.

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Podcast do Mundo conta o que você ganha com a Economia de Baixo Carbono

Podcast “O que eu ganho com isso?” mostra como produtos e serviços com baixa emissão são bons para o clima e para cada um de nós

O Mundo Que Queremos começou a produzir, em junho deste ano, o podcast “O que eu ganho com isso?”, com o apoio do Instituto Clima e Sociedade (ICS). Os episódios apresentam iniciativas que colaboram para a transição para uma economia mais sustentável e, com a ajuda de especialistas, explicamos por que o que é bom para o planeta é também bom para todos.

Além de ideias inovadoras, geração de empregos e oportunidades de negócios são assuntos do programa. Com uma linguagem acessível, a intenção é acessar também um público diverso, que não tem afinidade com a pauta da economia. A ideia é tratar do assunto de forma simples, já que muitos produtores de conteúdo costumam usar linguagem técnica, que acaba sendo de difícil compreensão.

No podcast, se falamos, por exemplo, de economia de baixo carbono ou de energia renovável, explicamos, antes de mais nada, o que significa isso. Nossa missão é engajar cada vez mais pessoas para que elas sejam agentes das mudanças que vão levar ao mundo que queremos.

A intenção é aproveitar o conjunto de atores já mobilizado pelas entidades e organizações apoiadas pelo ICS que podem ser o ponto de partida para formação de uma audiência qualificada. São gestores de ativos, empreendedores e investidores que podem nos ajudar a levar esses assuntos para dentro da casa das pessoas.

Os programas são divulgados nas nossas redes sociais e blog e também no Clima Que Queremos, canal sobre clima e meio ambiente que a agência tem em parceria com o site Climatempo, que tem mais de 15 milhões de acessos mensais.

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O Mundo produz podcasts e webinários para produtores rurais e extrativistas

Produtos fazem parte de Plano de Resposta à Covid-19 da Conexsus e negócios comunitários são público-alvo

A agência O Mundo Que Queremos produz uma série de webinários e podcasts para o Instituto Conexões Sustentáveis (Conexsus). O trabalho é parte do Plano de Resposta Socioambiental, criado pela organização para diminuir os impactos negativos que a pandemia do novo coronavírus está causando nos trabalhos de cooperativas, associações e pequenos negócios da agricultura familiar sustentável e do extrativismo. A expectativa é beneficiar 450 negócios comunitários em todo o Brasil, impactando diretamente 500 mil pessoas.

Entre as ações do plano está a disseminação de materiais que estimulem ações compartilhadas e promovam o conhecimento e fortalecimento institucional das organizações comunitárias. É aí que entram os materiais produzidos pelo Mundo, que são distribuídos para produtores familiares e extrativistas por listas de transmissão no WhatsApp e disponibilizados também nos canais da Conexsus.

Os webinários são encontros com especialistas, entidades parceiras e representantes de cooperativas e associações que trocam experiências sobre esse momento. Os podcasts são programas mais curtos, em formato de áudio, com informações sobre o plano e dicas para facilitar o dia a dia dos negócios comunitários, como boas experiências de comercialização e acesso ao crédito público, por exemplo.

A Conexsus é uma organização sem fins lucrativos que trabalha para ativar o ecossistema de negócios comunitários rurais e florestais para aumentar a renda dos pequenos produtores e fortalecer a conservação dos ecossistemas naturais. A União Nacional das Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes), o Conselho Nacional de Populações Extrativistas (CNS) e o Fundo Vale são parceiros no Plano de Resposta Socioambiental.

(Foto: Reprodução da internet)