Visão social: Dasa investe em tecnologia 3D para produção de óculos destinados às crianças de baixa renda

Por Rosenildo Ferreira, especial para COALIZÃO VERDE (1 PAPO RETONEO MONDO e O MUNDO QUE QUEREMOS)

Muitos fatores explicam o fracasso brasileiro na área da educação e da aprendizagem. Um deles, certamente, é a falta de acesso a saúde ocular. De acordo com dados do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), nada menos que 11,92 milhões de brasileiros com até 19 anos sofrem de miopia, hipermetropia ou astigmatismo, doenças que atrapalham o pleno desempenho acadêmico e estão no cerne da evasão escolar.

Trata-se de um problema que envolve diversas abordagens para que seja resolvido. Tanto de parte do governo – por meio de campanhas de prevenção, realização maciça de diagnósticos e doação de óculos –, como da sociedade civil – por meio de ações que facilitem o acesso a este tão precioso bem. Melhor ainda se parte da solução puder ser construída tendo como foco a sustentabilidade socioambiental.

Foi com isso em mente que o professor de design e pesquisador da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), João Victor Azevedo, resolveu utilizar a estrutura do BioDesignLab, criado em parceria com a Dasa, rede de saúde integrada, para o desenvolvimento de uma tecnologia capaz de viabilizar a produção de armações de óculos a partir de plástico pós-consumo.

Joao Victor Mare upcycling coalizao verde 1 papo reto

João Victor, sócio fundador da Mare upcycling

A iniciativa, batizada de projeto NOMAD, começou a partir de um piloto que está sendo rodado na Rocinha, situada no bairro de São Conrado e que se configura na maior comunidade da Zona Sul carioca, onde vivem cerca de 150 mil pessoas. Os resultados se mostram animadores. “Estamos unindo três componentes importantes neste processo: a reciclagem de plástico descartado, o acesso a saúde ocular e a geração de renda”, destaca o pesquisador que também é sócio-fundador da Maré, empresa especializada em upcycling.

Para colocar de pé o projeto, João Victor buscou parceiros em todas as fases. A começar pela Dasa, mantenedora do BioDesignLab, inaugurado em 2021, com o objetivo de desenvolver pesquisas nas áreas de design e medicina, a partir de tecnologias como realidade aumentada, manufatura aditiva e bioimpressão de tecidos vivos. No local foi desenvolvido o sistema produtivo e realizados os primeiros ensaios e testes com materiais como o ABS e o poliestireno de alto impacto (PSAI), usados largamente utilizados em produtos de consumo (brinquedos, carcaças de eletrodoméstico e eletrônicos, por exemplo).

De acordo com o médico Heron Werner, coordenador do BioDesignLab, o projeto NOMAD foi estruturado para ser replicado em diversas comunidades do país. “Em conjunto com inúmeros parceiros, desenvolvemos um sistema de reciclagem distribuída em pequenas células fabris autônomas, que podem ser facilmente implementadas nas mais diversas realidades brasileiras”, afirma.

Segundo o sócio-fundador da Maré Upcycling, o cerne da iniciativa é proporcionar às comunidades ganhos social, ambiental e econômico. Para isso, foi desenvolvido um modelo de negócio que contempla três aspectos: a doação de óculos para os moradores (a cooperativa faz a armação e a montagem das lentes fica a cargo de empresas parceiras), a potencialização da cadeia de reciclagem (por meio da incorporação de materiais com baixo valor econômico e grande potencial poluidor) e o aumento de renda de catadores e gestores de cooperativas.

Heron Werner DASA

Heron Werner, da Dasa

Para confirmar todas essas teses, o projeto NOMAD se uniu à cooperativa Rocinha Recicla. A unidade foi equipada com modernas impressoras 3D, compradas pela Dasa, que serão operadas, em um primeiro momento, por jovens ligados ao projeto social Tamo Junto Rocinha, desenvolvido pela PUC-RJ. Eles foram treinados no BioDesignLab, onde aprenderam todas as etapas do processo, incluindo a produção de formas onde são moldadas as armações. “Eles serão os multiplicadores de um conhecimento científico e industrial com potencial de incidir positivamente na qualidade da educação”, aposta o coordenador do BioDesignLab.

De acordo com ele, a parceria com a PUC-RJ tem garantido muitos aprendizados para a Dasa, que, ao atuar no setor acadêmico, tem a oportunidade de trabalhar com equipes multidisciplinares. “O sistema de inovação aberta ajuda a oxigenar a empresa”, destaca. Ele conta que a parceria com a universidade é anterior ao laboratório e teve início em 2005, quando foi criada uma equipe para realizar a tomografia das múmias do acervo do Museu Nacional, também no Rio.

Fotos: divulgação

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