Alinhamento de pauta ambiental e econômica é consenso mundial. Conexão Pelo Clima ON foi oportunidade para debater como fazer
A retomada econômica verde é a saída para tirar o Brasil da crise socioeconômica e esse foi o assunto da Conexão Pelo Clima ON, edição online da maior feira de negócios da América Latina. Convidados que são referências no setor participaram de dois dias de painéis visando encontrar soluções conjuntas para inspirar e influenciar as agendas de governos e da iniciativa privada. O evento, realizado nos dias 21 e 22 de setembro, é fruto de uma parceria do Instituto O Mundo Que Queremos, CDP Latin America e Climate Ventures.
“Nesse momento, o debate sobre meio ambiente, mudanças climáticas e economia se estreitou. É como se tivesse ficado mais racional”, comentou a Diretora Executiva do Instituto Clima e Sociedade (iCS), Ana Toni, em fala de abertura do evento. Para ela, a Conexão Pelo Clima se consolida como um espaço para concretizar todas essas boas intenções, fazendo isso virar ação. “A economia de baixo carbono não é mais um tema ambiental, é um tema econômico, de sobrevivência e de urgência”.
Agricultura, florestas e uso da terra
O primeiro dia de evento foi dedicado ao tema “Agricultura, florestas e uso da terra”. Estêvão Ciavatta, CEO na Pindorama Filmes e mediador do debate, começou destacando que a Amazônia tem hoje quase um milhão de quilômetros quadrados desmatados e frisou que as unidades de conservação e terras indígenas são fundamentais para preservação desse bioma tão importante: “Quem freia, de fato, o desmatamento e cuida da floresta é quem vive dentro dela”, afirmou.
Um dos macrodesafios desse tema é parar de alimentar a dicotomia de que o agronegócio é inimigo da preservação. Por isso, o primeiro painel contou com a participação da Gerente de Sustentabilidade da Cargill, Renata Nogueira, da Diretora Executiva da IDH Brasil, Daniela Mariuzzo, do Diretor executivo da Plataforma Parceiros pela Amazônia e Diretor de novos negócios do Idesam, Mariano Cenamo e da Gerente de Sustentabilidade da Natura, Luciana Villa Nova.
“As empresas precisam seguir a regulação e fomentar boas práticas, mesmo em relação ao desmatamento permitido, impulsionando a economia de baixo carbono e o pagamento por serviços ambientais”, afirmou Renata Nogueira, trazendo o desmatamento — legal e ilegal — para o centro do debate. Para ela, cumprir o Código Florestal e engajar os produtores nesse processo são peças-chave para que o Brasil tenha uma produção agrícola mais sustentável.
Assistência técnica, crédito e conhecimento são outras peças desse quebra-cabeças, segundo Daniela Mariuzzo. Para ela, esse é um setor que foi concebido em cima de grandes mitos, que atrapalham a construção das soluções e, para desfazer isso, o debate qualificado é fundamental. “Se queremos resolver qualquer problema, precisamos entendê-lo. Que a gente saia deste diálogo com mais perguntas que respostas, consiga diminuir os mitos e trabalhe com fatos. E consiga, com base nisso, construir as nossas soluções”, afirmou.
Para Mariano Cenamo, um maior protagonismo do setor privado também é cada vez mais urgente. “Precisamos, mais do que nunca, de uma nova geração de negócios, pequenos ou grandes”. Para ele, o debate é urgente porque o Brasil pode perder cada vez mais a sua relevância na agenda econômica internacional. “Estamos passando por boicotes porque a sociedade está cobrando, ninguém quer mais desmatamento. É um chamado muito forte e nós temos que nos posicionar”, provocou.
Como podemos fazer isso de forma sustentável? Luciana Villa Nova deu algumas ideias contando sobre o trabalho que a Natura tem feito na Amazônia nos últimos 20 anos. “Vamos lidar com muitos desafios, mas precisamos olhar a natureza não como uma fonte de recursos a ser explorado, mas de uma forma mais integradora, utilizando a tecnologia a nosso favor e alterando os hábitos de consumo da sociedade, alertando para o que ela está comprando. A responsabilidade é dividida”, alertou.
Investimento, adaptação e infraestrutura
Um dos destaques do segundo dia de evento, dedicado ao tema “Investimento, adaptação e infraestrutura”, foi a fala de abertura de Christiana Figueres, ativista e ex-secretária executiva da United Nations Framework Convention on Climate Change (UNFCCC). Para ela, a América Latina está em uma posição privilegiada e tem tudo para sair na frente. “Países que têm uma matriz energética mais limpa, como Costa Rica e Brasil, está mais perto do futuro”, afirmou. Para ela, não é preciso escolher entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental. “Podemos e devemos fazer os dois ao mesmo tempo. Não é só uma oportunidade, mas também uma necessidade urgente”.
Em seguida, Maria Eugênia Buosi, sócia da Resultante ESG, conduziu um painel com a presença do ex-ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, da sócia da Mauá Asset Management, Carolina Costa, do 2º High Level Climate Action Champion COP25, Gonzalo Muñoz, do Secretário de Meio Ambiente de Jalisco, Sergio Montero e do fundador do Sistema B na América Central, Ernesto Moreno.
Segundo Ricupero, não há justificativa para que um país como o Brasil não aproveite todo o seu potencial verde. ”Os governos precisam trabalhar juntos e têm um papel estratégico.Se quisermos realmente chegar a uma economia carbono zero, a primeira coisa que o mundo tem que fazer é precificar o carbono,” afirmou.
Por sua vez, Gonzalo Muñoz afirmou que a humanidade já está entendendo o novo contexto. “O mundo começa a dar sinais de que essa agenda não é só dos grandes, mas também fundamental para os pequenos”. Ele destacou que não é preciso só reduzir, mas também sequestrar e regenerar a natureza. A boa notícia é que, de acordo com ele, várias empresas e governos já estão se movimentando nesse sentido para cumprir os acordos internacionais. “Estamos começando a juntar todo mundo”.
Sergio Montero trouxe o exemplo de Jalisco, no México, que tem tido um protagonismo importante. Para ele, os governos precisam trabalhar juntos para alcançar a descarbonização. “Em Jalisco, estamos trabalhando com cooperação intermunicipal. Sem isso é impossível gerar condições para o desenvolvimento de todos os atores do território”, relatou.
Para financiar essa agenda, o mercado financeiro precisa entender como. Essa foi a tônica da fala de Carolina Costa, também convidada do painel. Para ela, o mercado tem que entender onde investir. “A economia verde tem que financiar negócios verdes. No entanto, as metas precisam ser materializadas”. Carolina destacou ainda a importância de um olhar atento para as tecnologias que vão mudar a regra do jogo. “Elas vão ser determinantes para a economia de transição”.
“Somos todos consumidores”, lembrou o último convidado do dia, Ernesto Moreno. Por isso, ele acredita que é fundamental que os governos façam a sua parte, para que todos os atores tenham condições de tomar boas decisões e mudar os rumos do mercado.
Conexão Pelo Clima
Iniciativa inédita na América Latina, a primeira edição da Feira Conexão Carbono Zero, realizada em 2019, se consolidou como um evento referência de negócios pelo clima, fomentando parcerias e mobilizando recursos para soluções que visem transformar os modelos de negócios num caminho para reverter a mudança climática. Em 2020, o evento ganhou um novo nome, Conexão Pelo Clima e, devido à pandemia de Covid-19, um formato online saiu do papel. A segunda edição da feira está prevista para acontece em 2021.
Os dois dias de evento da edição 2020 ficam gravados e podem ser acessados a qualquer momento pelo canal do Youtube.
Foto:Unsplash