Qual o perfil dos negócios de impacto na Amazônia florestal?

Conhecer estágio de desenvolvimento e área de atuação permite desenhar iniciativas para gerar ganho de escala e aumentar impacto socioambiental na região

Negócios de impacto positivo de base florestal que atuam na Amazônia começaram, nos últimos anos, a ganhar mais visibilidade com a atuação de incubadoras e aceleradoras na região. A partir de chamadas e processos de inscrição para jornadas de aceleração e investimentos, o estado da arte desse pipeline começou a se revelar.

Isso é importante para entender o perfil desses negócios, que se mostra bastante variado, tanto em estágio de desenvolvimento como em área de atuação, e a partir disso desenhar programas e iniciativas de modo a contribuir para ganho de escala e para a maximização do impacto socioambiental. Tudo isso, no fim do dia, se traduz em melhor qualidade de vida para as populações amazônicas e em manter a floresta em pé.

A AMAZ aceleradora de impacto, que realizou sua segunda Chamada de Negócios em 2022, recebeu inscrições de 96 iniciativas. Dessas, a maior parte está em fase inicial de organização, tração e validação de produtos e/ou serviços.

Dos 96 inscritos, 64 apresentam faturamento na faixa de R$ 1 mil a R$ 500 mil; 06 entre R$ 501 mil e R$ 2 milhões; e 02 entre R$ 2,1 milhões a R$ 10 milhões. A soma do faturamento anual dos 96 negócios inscritos é de cerca de R$ 13 milhões, e a demanda total de investimento deles é de R$ 22,5 milhões. Dos negócios inscritos, 42 têm entre zero e 2 anos de atuação.

A maior parte das inscrições veio dos estados do Amazonas (26) e do Pará (20), seguidos por São Paulo (10) e Rondônia (5). A aceleradora abre a possibilidade de propostas vindas de outros estados se inscreverem na chamada, desde que se comprometam a abrir CNPJ na Amazônia em até seis meses após o início do processo de aceleração.

Um ponto que se destaca no pipeline das inscrições deste ano são negócios cuja atuação se dá em setores como produtos e serviços – 13 deles – e soluções tecnológicas – 9 negócios -, o que pode ser um reflexo do aumento da demanda por soluções relacionadas a carbono e um olhar de setores de tecnologia para a Amazônia.

“Ficamos bem impressionados com a quantidade de negócios voltados a produtos e serviços inovadores e de base tecnológica. A maioria desses negócios estão em estágio ainda inicial, mas demonstram alto potencial de crescimento e impacto territorial. Apoiar esse perfil de negócio envolve aceitar um nível maior de riscos no investimento, mas quebrar barreiras e construir uma nova economia na Amazônia demanda inovação e apetite por risco. Acreditamos fortemente que a região demanda esse perfil de empreendedores”, avalia Mariano Cenamo, CEO da AMAZ e diretor de novos negócios do Idesam.

O perfil

Dentre as cadeias de valor abordadas diretamente pelos negócios estão produtos e serviços socioambientais, artesanato, arte e moda sustentável, produtos alimentícios, soluções tecnológicas para captação de investimentos, blockchain, óleos e manteigas, açaí e outras palmeiras, etc.

Em 20 dos negócios inscritos, a comunidade onde está inserido o empreendimento ou a região de origem da matéria prima é sócia relevante do negócio. E em 45 deles a comunidade é consultada, embora não participe das decisões e da gestão do negócio.

Em 71,8% deles (81) há mulheres na liderança, e em 84,3% há pessoas negras e indígenas na liderança. A faixa etária das lideranças inscritas tem maior concentração entre 35 e 39 anos, mas há presença de pessoas entre 19 e mais de 65 anos.

Esses negócios se conectam também por todos os 17 ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) da Agenda 2030 da ONU, sendo que o mais frequentemente acionado é o número oito (trabalho digno e crescimento econômico), seguido pelo 12 (consumo e produção responsáveis).

Das iniciativas inscritas, 24 declaram não possuir nenhuma prática de monitoramento do impacto que causa, mas 36 declaram coletar e analisar indicadores de processo e/ou operação do negócio; 12 deles dizem possuir indicadores de resultados/impactos socioambientais definidos, enquanto 13 informam tomar decisões com base na avaliação dos impactos.

Boa parte dos negócios têm como modelo de negócio B2C (consumidor final como público alvo) – 61 delas se declaram assim. Na sequência, 53 negócios declararam ter como modelo B2B (venda para empresas), e 40 deles B2B2C (empresas que fazem parcerias com outras empresas para chegar ao consumidor).

Muitas das iniciativas operam em mais de um modelo de negócio, e destacam-se ainda empresas B2G (vendem para órgãos públicos) e C2C (negociação direta entre consumidores).

Quanto à natureza jurídica dos empreendimentos inscritos, registra-se a presença de sociedades limitadas, simples e anônimas, cooperativas, associações, microempreendedores individuais e empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI).

Aceleração em curso

O processo de inscrição para a chamada da AMAZ esse ano foi mais detalhado para os negócios em relação a 2021, com inclusão de vídeo pitch, análises de fluxo de caixa e modelo de investimento. Isso possibilitou um entendimento melhor sobre a aderência de cada negócio com a tese de investimentos e aceleração da AMAZ logo na primeira etapa da seleção.

“Recebemos propostas de negócios com maior alinhamento à tese de impacto e investimentos da AMAZ em relação ao ano anterior. São negócios que melhor se encaixam ao escopo do impacto socioambiental que estamos buscando e, também, que possuem um potencial de ganho de escala no território”, analisa Ana Carolina Bastida, gerente de investimentos e aceleração da AMAZ.

Dentre os inscritos que melhor se encaixam na tese de impacto, há mais negócios liderados por pessoas residentes ou de origem nos estados da Amazônia Legal comparativamente ao ano anterior.

A aceleradora segue o processo de seleção com entrevistas e posteriores visitas aos negócios pré-selecionados. Serão selecionados 12 deles para a etapa final do processo da chamada, que passarão por uma pré-aceleração na qual serão trabalhados modelo de negócio e matriz de indicadores de impacto. Até seis deles serão escolhidos para receber aceleração e investimentos de até R$ 600 mil.

A AMAZ aceleradora de impacto é coordenada pelo Idesam (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia), e conta com um fundo de financiamento híbrido (blended finance) de R$ 25 milhões para investimento em negócios de impacto nos próximos cinco anos, o primeiro voltado exclusivamente para a região.

Tem como fundadores e parceiros estratégicos Fundo Vale, Instituto Humanize, iCS (Instituto Clima e Sociedade), Good Energies Foundation, Fundo JBS pela Amazônia e PPA (Plataforma Parceiros pela Amazônia). Conta também com uma ampla rede de parceiros como Move.Social, Sense-Lab, Mercado Livre, ICE, Costa Brasil, Climate Ventures e investidores privados.

imagem: depositphotos

Este artigo foi escrito por POR MÔNICA RIBEIRO (jornalista, antropóloga e consultora da AMAZ Aceleradora de Impacto) e publicado, originalmente, na coluna Ideias Renováveis, da Exame.

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