Evento em São Paulo mostra como os centros urbanos brasileiros podem ficar mais limpos, saudáveis e economicamente interessantes
Existe um caminho para melhorar nossas cidades: seguir a tendência internacional de trocar os velhos e sujos ônibus a motor de combustão por modelos modernos elétricos. Com ônibus elétricos, a população das grandes cidades – principalmente a de baixa renda – ganha qualidade de vida imediatamente. As vias mais congestionadas de tráfego intenso passariam a ter ar mais respirável sem os escapamentos dos ônibus e menos poluição sonora sem os motores a combustão. Veríamos uma valorização dos imóveis ao longo justamente das avenidas mais importantes e também incentivo ao comércio de rua nessas vias subitamente mais civilizadas. A maior qualidade dos ônibus também incentiva a migração de parte dos usuários que hoje preferem ir de carro em nome do conforto. Tirar carros das ruas é bom para a eficiência das cidades.
Para Marcus Regis, coordenador da Plataforma Nacional de Mobilidade Elétrica (PNME), rede de mais de 30 instituições que incluem órgãos governamentais, agências, indústria, academia e sociedade civil a favor da eletromobilidade, a eletrificação de transportes é parte importante da solução para os desafios climáticos e socioeconômicos do Brasil. “As pessoas querem poder confiar no sistema. Hoje você tem sistemas de transporte público que não são confiáveis e a maior evidência disso é que, na primeira oportunidade, as pessoas se livram do sistema através de comprar um carro ou uma moto. Não tem como transformar um sistema de transporte usando combustível fóssil. Eletrificar faz sentido agora na medida que aumenta a confiabilidade do sistema”, explica.
Por que a transição elétrica não anda mais rápido? Pensando em custos, hoje o custo de aquisição de um ônibus elétrico é maior do que a opção a diesel, mas o elétrico é muito mais barato para se operar. A longo prazo, essa conta fecha com vantagens maiores ainda para os veículos elétricos porque eles trazem uma tecnologia que tem espaço para ficar mais eficiente. Apesar disso, o principal motivador para escolher o tipo de transporte para as cidades não pode mais ser o custo. Com o cenário atual de mudanças climáticas em curso, o motivador principal é simplesmente o fato de que não dá mais para usar diesel e gasolina na proporção que o mundo atual usa. A pergunta certa seria: como tornar a eletrificação mais barata?
Parte da resposta está agora em exibição em São Paulo. Nos dias 23 e 24 de junho, em São Paulo, a Plataforma Nacional de Mobilidade Elétrica (PNME) e TUMI E-Bus Mission realizam o evento “Eletrificação do transporte público no Brasil” a fim de destacar a relevância de incluir efetivamente o tema da eletrificação dos transportes públicos no contexto das atuais discussões climáticas e econômicas. Esse é um evento importante para dar mais espaço para a população geral se conectar ao debate sobre os caminhos para viabilizar a mobilidade urbana sustentável, incluindo aspectos como qualidade de vida e bem-estar urbano. O evento será realizado como parte do Parque da Mobilidade Urbana (PMU), no palco 5, é gratuito e aberto a participantes de diferentes setores que estejam interessados no tema.
Não só as cidades do Brasil, mas grande parte das cidades do mundo não foram feitas para as pessoas e sim para os carros. As cidades não são lugares de convivência, são lugares de trânsito, de passagem. Quando se pensa em eletrificação de veículos o carro não deve ser prioridade e isso por causa do papel que ele tem na sociedade. O carro em si não é visto como algo bom ou ruim, mas como parte de um sistema falido. Priorizar o transporte coletivo faz parte de um processo de devolver a cidade pensando nas pessoas.
Trocar os carros atuais por carros elétricos diminuiria emissões e barulho, mas não diminuiria o congestionamento e a falta de acesso que muitas pessoas têm a serviços públicos e oportunidades. Já ao priorizar o transporte público é possível emitir menos gases de efeito estufa, ocupar menos espaços, atingir mais pessoas e integrá-las em uma nova economia. É possível reinventar a maneira como se vive nas cidades e gerar mais e melhores resultados para a qualidade de vida da sociedade. “A mobilidade elétrica faz sentido quando coloca o transporte para trabalhar para as pessoas e não as pessoas para se adequarem ao transporte”, explica Marcus Regis.
Um sistema de energia bom para o clima é outro ponto crucial. Viabilizar isto exige uma coordenação grande e um cuidado com a proteção do meio ambiente, mas é possível de se fazer gradualmente. A energia elétrica tem seus custos, mas, olhando para um panorama mundial, o Brasil tem grande potencial para ter energia mais limpa. Não existe solução para eficiência econômica usando nem só a lógica do poder público, nem só a lógica do poder privado, ambas tem que participar para criar e implementar um modelo que funcione. Tornar um modelo de transporte viável para o sistema precisa envolver todas as partes interessadas na construção da mobilidade urbana no Brasil.
Por isso, para juntar todos os envolvidos nessa mudança, a PNME também lidera a campanha Via Elétrica, uma iniciativa que agrega diversos atores na busca pela eletrificação do transporte coletivo urbano, os ônibus. São redes, empresas, governos e organizações que trabalham para promover a transição energética na mobilidade das cidades e que, por esse motivo, têm gerado conhecimento e promovido a conexão entre partes interessadas a fim de viabilizar essa urgente transição.
A qualificação do debate e o compartilhamento de informações sobre este tema é um passo fundamental para construirmos soluções concretas e propostas de políticas públicas para a mobilidade elétrica em nosso país. A hora de o Brasil mudar sua rota de olho nas mudanças climáticas e no bem-estar social é agora.
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Este artigo foi publicado, originalmente, na coluna Ideias Renovaveis, da Exame.