O potencial turístico das árvores gigantes da Amazônia está ameaçado

A derrubada de floresta na Amazônia avança sobre o maior bloco de áreas protegidas do mundo e prejudica o bioma e a economia.

Em setembro, um grupo de pesquisadores chegou até a árvore mais alta da Amazônia. A expedição, apoiada pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), encontrou um angelim vermelho de 9,9 metros de circunferência e 88,5 metros de altura, o equivalente a um prédio de 30 andares. Esta gigante da Amazônia fica na Floresta Estadual (Flota) do Paru, na região Norte do Pará. A espécie havia sido identificada em 2019, mas só foi possível chegar até ela em 2022, após um rigoroso planejamento de três anos e uma caminhada de duas semanas pela floresta. Além do angelim vermelho, outras 38 árvores com mais de 70 metros também foram encontradas durante a expedição.

Contudo, essa preciosidade fantástica está ameaçada. A Floresta Estadual do Paru está sendo violada e hoje é uma das regiões mais ameaçadas no Brasil. Segundo dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon, de janeiro a outubro deste ano, quase 10 mil km² de floresta foram derrubados na Amazônia, sendo mais de seis vezes a cidade de São Paulo. A devastação avança a passos largos sobre o Norte do Pará, onde está o maior bloco de áreas protegidas do mundo, as maiores árvores do bioma e diversas espécies endêmicas, ou seja, que só existem naquela região. A Flota do Paru já ocupa o 5º lugar no ranking das unidades de conservação mais desmatadas na Amazônia. A grilagem e o garimpo estão invadindo o território e colocando em risco oportunidades econômicas tão grandiosas quanto o santuário de árvores gigantes que a região possui.

O extrativismo de castanha-do-pará é um exemplo. Estudos do projeto Amazônia 2030 revelam que a Amazônia deveria ter uma fatia expressiva do mercado de exportações de produtos compatíveis com a floresta (açaí, frutas tropicais, peixes e a castanha-do-pará). Mas, a participação da Amazônia Legal é de apenas 0,2% (ou US$300 milhões ao ano) em um mercado global que vale mais de 177 bilhões de dólares anuais e que segue em franca expansão. Sem os investimentos necessários e meios para barrar a destruição da floresta, o Brasil continuará perdendo dinheiro.

Outro desperdício econômico é o do mercado madeireiro. Um levantamento feito pela Rede Simex identificou que quase 40% da extração de madeira na Amazônia não é autorizada. Entre agosto de 2020 e julho de 2021, as terras indígenas e as unidades de conservação tiveram 21 mil hectares explorados irregularmente. O segundo estado com a maior área de exploração madeireira na Amazônia foi justamente o Pará, com 57 mil hectares (15%).

A Flota do Paru tem parte do território destinado à concessão florestal. São áreas cedidas à exploração madeireira, mediante licitação, para empresas que seguem regras rígidas de manejo, tiram uma quantidade limitada de madeira e exploram uma fatia da floresta por vez, numa rotação que leva décadas, dando tempo para a floresta se regenerar, permanecer íntegra e fornecer madeira para sempre. Esse movimento gera empregos de alta qualidade e renda para as comunidades locais. É essa atividade altamente desejável, promotora de desenvolvimento, que está sendo ameaçada pelos grileiros e garimpeiros ilegais.

Este bloco de áreas protegidas também possui um potencial enorme para o ecoturismo. Estamos falando da floresta que guarda as maiores árvores da Amazônia e algumas das maiores do mundo. O local tem capacidade para ser uma das maiores atrações turísticas do planeta, comparável às florestas de sequóias gigantes dos Estados Unidos. Pode ser um dos principais trunfos do Pará para atrair fama internacional e investimentos em turismo. É esse potencial insubstituível que está em jogo!

Estamos perdendo um patrimônio rico e precioso para infratores que dominam as áreas protegidas sem nenhum pudor. Sobra ao Brasil e aos estados a capacidade de desenvolver e promover políticas públicas inovadoras, efetivas e estratégicas para a proteção da Amazônia. Faltam vontade política e a urgência necessárias. É dever do Estado do Pará defender o território de ataques criminosos e fomentar atividades econômicas lícitas, que geram novas perspectivas, bons empregos e pagam impostos.

Este artigo foi escrito por Alexandre Mansur e publicado, originalmente, na coluna Ideias Renováveis, da Exame.

Foto: (Havita Rigamonti/Imazon/Ideflor/Reprodução)

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