A posição do Brasil na economia global – e parte do futuro da Humanidade – depende de como iremos desenvolver produtos e negócios sustentáveis da floresta
A Amazônia não é apenas uma marca internacional. É a maior marca internacional que o Brasil tem. Se pensarmos em qualquer símbolo e emoção que o país desperta, passando por futebol, samba, caipirinha, alegria, calor, praia, com todo esse conjunto de imagens que o nosso país traz, hoje a Amazônia é o mais forte. No aspecto positivo e negativo.
No positivo pela potencialidade, pela riqueza. No negativo pela preocupação. Porque a Amazônia mal cuidada pode destruir a civilização, e cada vez mais gente no mundo sabe disso. Sendo assim, é inescapável que a gente use essa marca a nosso favor. Se isso não for feito, ela vai trabalhar contra a gente.
Como usar a marca Amazônia de forma inteligente? Antes de tudo, é fundamental usar e promover os produtos e negócios da floresta, promover a valorização dos indivíduos, ideias e cultura da floresta. Tem muita gente trabalhando nisso, mas o desafio atual é o de impulsionar uma cultura empreendedora na Amazônia para os povos que vivem lá e, após isso, ser possível investir no desenvolvimento da logística de cadeia desses produtos da floresta.
O Brasil deve muito fazer esse investimento. Temos décadas de dívida com a economia da floresta. Desde os anos 1970, todo o projeto de ocupação da Amazônia foi para colocar grandes obras e investimentos de exploração predatória na região. O Brasil apoiou o garimpo, financiou a ocupação ilegal, facilitou o caminho para grileiros roubarem terras públicas e criou incentivos para o desmatamento da Amazônia, fez vista grossa para a madeira predatória.
Governo após governo, os planejadores acreditaram , erroneamente, que era melhor ocupar de maneira destrutiva o território do que deixar abandonado, à mercê de fantasmas de ambições internacionais. Movidos por esses sentimentos paranóicos, o país partiu para um esforço monumental de financiar uma ocupação devastadora da região.
Todas as décadas de investimento predatório não foram capazes de criar condições de qualidade de vida adequadas para quem vivia lá e ainda levaram para a região um imenso contingente de população sem uma economia sustentável para mantê-la.
Depois de anos desse fracasso do projeto predatório, é preciso virar a chave e redirecionar os esforços para construir uma economia sustentável na floresta, para melhorar a qualidade de vida das pessoas.
Para se trabalhar uma marca Amazônia é fundamental entender que essa região não é formada por uma única imagem. A floresta não é uma só. A gente cria uma imagem homogênea da região, mas ela, que compõem metade do Brasil, é diversa. Tem: a Amazônia seca, a Amazônia úmida, a indígena, a branca, a ribeirinha, a de grandes cidades, a de cidades médias, a do interior, a de pecuária, a da agricultura. É muito difícil reduzir isso a uma expressão só. A construção de uma marca precisa respeitar a diversidade.
Potencializar os produtos que já existem na floresta amazônica envolve gerar qualidade de vida para a população que os produz. Para Mariano Cenamo, CEO da AMAZ e diretor de novos negócios do Idesam, a Amazônia tem uma importância enorme mundial. Atrai muito interesse pelo seu valor atrelado ao equilíbrio climático (seu papel na regulação da emissão de carbono e na regulação do regime hídrico), na proteção da biodiversidade global e pelo valor da Amazônia em riquezas inexploradas.
“É preciso desenvolver a cadeia de negócios da Amazônia gerando um impacto socioambiental positivo, gerando renda, prosperidade, emprego e melhoria na qualidade de vida das pessoas que estão na região”, diz. Esse é um caminho para que as comunidades possam ter um filho na escola, na faculdade, ter uma televisão um pouco maior na sala de casa. Se eles têm essa ambição, que todo o ser humano tem o direito de ter, eles vão encontrar o caminho que melhor leva eles para esse padrão que eles assistem na televisão todos os dias como um bom padrão de vida.
A AMAZ é uma aceleradora de negócios da biodiversidade com atuação na Amazônia que promoveu entre maio e abril deste ano uma Chamada de Negócios com o objetivo de investir na região. O resultado foi de 156 inscrições de negócios que, juntos, faturam anualmente R$ 32 milhões e têm como demanda de investimento R$ 218 milhões.
Um fator muito importante é que há diversidade nos projetos: 73,2% deles possuem mulheres na liderança e têm 68,6% pessoas não brancas na liderança. Dentre as cadeias de valor estimuladas diretamente pelos negócios inscritos estão açaí e outras palmeiras, turismo sustentável, castanha, artesanato, cacau, óleos e manteigas, madeira sustentável, guaraná, café, pirarucu e outros peixes da Amazônia. A maior parte dos negócios está em fase de organização e tração, mas se comprometeram a iniciar operação na região amazônica no prazo de seis meses a partir do início da aceleração.
A equipe da AMAZ vem analisando os negócios inscritos, e, do total, 12 serão selecionados para pré-aceleração, dos quais seis serão então classificados para o processo de aceleração, recebendo investimentos de até R$ 600 mil, e passarão a integrar o portfólio de negócios da aceleradora, que conta hoje com 12 negócios. Isso é só o exemplo do retorno possível quando se investe na economia que brota da floresta.
Foto: Coleta de cacau na Amazônia: a AMAZ é uma aceleradora de negócios da biodiversidade com atuação na região (AMAZ/Divulgação)