Oportunidades e avanços para o setor privado chegar a emissões líquidas zero a médio e longo prazo
Um estudo do New Climate Institute (2022), uma think tank sediada na Alemanha, indica que metas nacionais de net-zero foram multiplicadas por seis de 2019 para 2022, representando atualmente 91% da economia global. A onda de compromissos para a conter o aquecimento global também integrou o setor privado e governos subnacionais, com o lançamento da campanha Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (do original em inglês United Nations Framework Convention on Climate Change), a Race to Zero. Esse cenário ilustra que as mensagens da Ciência sobre a necessidade de atenuarmos a emissão de gases de efeito estufa (GEE) têm tido desdobramentos nos arranjos de governança climática global que, por sua vez, reconhecem cada vez mais a importância de ter a adesão de voluntários além dos governos federais, principalmente de governos subnacionais, organizações da sociedade civil e o setor privado.
Mas apenas a adoção de compromissos net-zero (de emissão líquida zero de gases de efeito estufa) não é suficiente para nos colocar na rota de descarbonização. É necessário assegurar que essas metas sejam entregues e, de acordo com a ciência, isso precisa ocorrer o mais rápido possível. Nesse sentido, mecanismos de transparência e accountability são vitais não somente para gestão das empresas, mas também para monitorar o avanço da implementação desses compromissos.
O setor empresarial brasileiro tem recebido grande atenção internacional pelo seu comprometimento em campanhas como a Race to Zero. Há um crescimento contínuo de adoção tanto de metas climáticas como de ações para dar transparência ao que tem sido feito. Um dado que exemplifica a última afirmação é o aumento de 42% de empresas brasileiras de capital aberto que reportaram ao questionário de clima do CDP Latin America – organização internacional referência no mapeamento de emissões, que administra o sistema mundial de divulgação ambiental de empresas, cidades, estados e regiões – no ciclo de 2021, quando comparado ao de 2020.
Assegurar que empresas continuem com as ações de transparência e com compromissos net zero, exige que instituições financeiras colaborem com a economia real através da alocação de capital em empresas que estejam trabalhando para garantir reduções de emissões de GEE.
Os dados do CDP mostram que até 2021 foram reduzidas aproximadamente 190 milhões de toneladas de GEE. O laboratório Cenergia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (2022), aponta que é necessário que o Brasil reduza 21 bilhões de emissões de toneladas de CO2 e compensar 79,5% dos GEE emitidos pelo Brasil do setor AFOLU (sigla em inglês para Agricultura, Florestas e Uso do solo), para que em 2050, em um cenário de neutralidade climática, o que tornaria o principal setor responsável por compensar os gases emitidos por outras atividades econômicas no país. Entretanto, segmentos como energia, transporte e resíduos serão igualmente impactados, para que possamos alcançar a meta de neutralidade climática em 2050. É inegável que para entrar na rota de descarbonização algumas premissas precisarão estar presentes, dentre elas: haver maior colaboração entre academia, setor público e privado para garantir robustez nas ações de mitigação e adaptação à mudança do clima; reforçar a relevância do aumento do financiamento climático, o que poderá alavancar recursos para áreas de pesquisa e desenvolvimento, tal como fomentar políticas públicas e a criar novos produtos e serviços compatíveis com uma economia descarbonizada e integridade das ações climáticas.
O desafio de descarbonização da economia global é extremamente complexo. As metas net zero de um crescente número de empresas e governos subnacionais indicam que estamos na direção correta, mas ainda é preciso materializar todos esses objetivos na escala necessária para o enfrentaremos o desafio do século XXI. A ambição e implementação devem andar lado a lado, acompanhadas sempre de medidas de transparência e accountability, se quisermos alcançar um futuro sustentável.
*Miriam Garcia é Gerente de Políticas Públicas do CDP e Antonio Ouro é Assistente de Políticas Públicas do CDP.
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