Cinco dicas para sua empresa ficar bem com o clima

Como atender às exigências dos consumidores, investidores e reguladores em relação às mudanças climáticas

Por Daniela Stump e Maria Fernanda Aguiar*

Lidar com os desafios colocados pelas mudanças climáticas será cada vez mais decisivo para o sucesso das empresas. Isso irá ocorrer seja por causa das escolhas dos consumidores ou das decisões dos investidores; seja pelos possíveis impactos gerados por eventos extremos; ou mesmo pelas normas que vêm sendo impostas pelos órgãos reguladores financeiros e de mercado. O desafio das empresas é incorporar as variáveis climáticas rapidamente em todas as áreas do negócio.

Aqui vão algumas dicas que podem ajudar as empresas a adotarem uma agenda para implementar sua governança climática, gerenciando riscos e oportunidades com base na ciência e em protocolos internacionalmente reconhecidos.

    Entenda o que é ser net-zero

Quando falamos em mudança climática, uma série de termos e expressões vem à tona: compromisso net-zero é um deles. É fundamental termos em mente o que significa esse conceito, que vai além de reduzir a emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE).

De acordo com o glossário do Painel Intergovernamental de Mudança do Clima (IPCC), o termo net-zero consiste no ponto de equilíbrio no qual a quantidade de GEE emitida é equivalente à quantidade removida da atmosfera. Para obter esse resultado e atingir a meta net-zero, as empresas devem inventariar e eliminar ao máximo as emissões de GEE, próprias e da sua cadeia de valor. As emissões que não puderem ser reduzidas devem ser compensadas por atividades que removam quantidades equivalentes permanentemente da atmosfera (por exemplo, por meio de atividades como o sequestro de carbono promovido por atividades de reflorestamento).

Com o objetivo a longo prazo de contribuir com a meta de se tornar net-zero até 2050, em linha com as recomendações científicas e do Acordo de Paris, é fundamental o engajamento de toda a cadeia produtiva. Para tanto, é preciso inventariar e realizar monitoramento de emissões indiretas de fornecedores e clientes.

Há iniciativas que auxiliam no processo de definição de metas visando a uma economia de baixo carbono, gerando mais segurança e credibilidade para o processo. Destacamos a iniciativa Science Based Targets (SBTi) que mobiliza empresas a adotarem metas baseadas na ciência para a redução de suas emissões de GEE. Uma empresa pode aderir à SBTi ao se comprometer a elaborar uma meta de redução de forma alinhada à ciência, devendo seguir as diretrizes e recomendações dessa iniciativa para sua elaboração, engajamento, validação e reporte.

    Trace um plano consistente para alcançar as metas compromissadas

Se você já conhece as fontes de emissões de GEE e as oportunidades existentes para reduzi-las (e, como último recurso, removê-las), é hora de traçar um bom plano para atingir as metas compromissadas de longo prazo e intermediárias.

A ciência diz que é preciso chegar a emissões líquidas zero até 2050. Portanto, é de se pensar que, em 2030, deveríamos estar no meio do caminho. No entanto, é preciso compreender que não necessariamente as mesmas decisões tomadas para a redução de emissões até 2030 contribuem para a meta de 2050. Veja o exemplo dado por Bill Gates no seu livro Como Evitar um Desastre Climático. Para alcançar reduções em 2030, uma decisão aparentemente acertada seria substituir as térmicas a gás por térmicas a carvão. Mas, considerando que as térmicas a gás deverão ainda estar operando em 2050, para que se amortize os investimentos realizados, a meta de zerar as emissões líquidas ficaria prejudicada. A melhor decisão aqui, de acordo com o autor, seria investir em fonte de eletricidade zero carbono confiável e de baixo custo e eletrificar o máximo possível.

As ações para alcance das metas devem ser estabelecidas de forma a serem mensuradas e verificadas por terceiros, tornando o plano passível de monitoramento pelos stakeholders. Nesse sentido, é interessante que a organização adote indicadores que estejam alinhados com ferramentas que têm sido utilizadas por investidores para realização de benchmarking, tais como a Climate Action 100+ Net Zero Company Benchmark.

    Engaje a alta liderança

O engajamento da liderança quando o assunto é transição para uma economia de baixo carbono é premissa básica. Embora o assunto passe por aspectos técnicos que demandam atenção da área operacional, os investimentos necessários para a redução da intensidade de carbono na cadeia produtiva não parecerão nada atrativos sem a visão estratégica a longo prazo. Há oportunidades na redução de emissões e na mudança da chave para uma produção mais limpa – mas elas precisam estar alinhadas a um modelo de negócios que consiga capturar o valor do carbono evitado com prazos compatíveis.

    Nomeie um(a) responsável pela execução do plano

A elaboração e a implementação de um plano para a redução de emissões de GEE deverão envolver, senão todos, diversos setores da empresa. O alcance das metas é tão importante quanto desafiador e não poderá ser tocado de forma lateral, sem uma concertação de esforços. Um manifesto assinado por investidores institucionais de peso, reunidos no The Institutional Investors Group on Climate Change (IIGCC) invocou as organizações a identificarem os diretores aos quais deve ser atribuída a responsabilidade pela execução e divulgação do plano. Fazendo um paralelo com outras áreas que demandam um ponto focal para a efetivação de ações corporativas, de hoje em diante não será incomum vermos a posição de Climate Change Chief Officer (CCCO) nas organizações.

    Comunique de forma consistente

Ponto fundamental após elaborar um plano de redução de emissões de GEE é o seu relato e acompanhamento de forma consistente e padronizada. Cada vez mais, investidores em todo mundo estão olhando e mensurando riscos climáticos de potenciais investimentos e setores. Por isso, é importante que a forma de relato seja coesa e siga diretrizes e metodologias internacionais. O Grupo de Trabalho sobre Divulgação Financeira Relacionada ao Clima (TCFD) oferece às empresas uma estrutura padrão para divulgar as dimensões dos riscos e oportunidades relacionadas ao clima.

Com base nas recomendações da TCFD, uma boa divulgação está pautada em uma série de fatores, dos quais cumpre destacar: (i) estratégia e governança: como riscos e oportunidades relacionados às mudanças climática influenciam a estratégia da empresa; (ii) padronização de declarações; (iii) divulgação de métricas e metas, com uma descrição da metodologia utilizada; e (iv) análise de cenários contemplando a gestão de eventuais riscos com a clara análise de como os diferentes cenários afetam a empresa.

Ao seguir as recomendações da TCFD, ganha-se em termos de confiança do mercado e dos investidores, demonstrando-se transparência e responsabilidade em relação ao papel da empresa em relação às mudanças climáticas.

*Daniela Stump e Maria Fernanda Aguiar são head e advogada da área ESG do DC Associados.

Este artigo foi, originalmente, publicado na coluna Ideias Renováveis, da Exame.

Foto: Negócio foto criado por onlyyouqj – br.freepik.com

Compartilhe este post