Bioeconomia é chave para alavancar crescimento econômico do Brasil

4ª edição da Conexão pelo Clima reuniu centenas em São Paulo para discutir desafios da transição para uma economia carbono zero

Angélica Queiroz, especial para Coalizão Verde (1 Papo Reto, Neo Mondo e O Mundo Que Queremos)

Depois de dois anos sendo realizada remotamente, o maior evento de negócios pelo clima da América Latina, a Conexão Pelo Clima, voltou a reunir governos, empresas, investidores, sociedade civil e partes interessadas presencialmente, em São Paulo, para discutir os desafios e avanços na preservação e conservação dos biomas brasileiros e as implicações da bioeconomia para um projeto de Brasil economicamente sustentável e socialmente inclusivo. O evento aconteceu na última sexta-feira (9/9), no Unibes Cultural.

“Nesses dois anos o mundo mudou muito e a transição para uma economia de baixo carbono se acelerou. Houve um despertar para a urgência do tema e a bioeconomia, finalmente, entrou de verdade no mapa econômico de muitas nações, incluindo o Brasil”, destacou Gustavo Pinheiro, coordenador do portfólio de Economia Carbono Zero do Instituto Clima e Sociedade (iCS),que apoia a Conexão Pelo Clima desde a primeira edição. Ele ressaltou que o Brasil tem pela frente o desafio de construir uma bioeconomia genuinamente nacional, que valorize os conhecimentos tradicionais e, ao mesmo tempo, consiga agregar valor e ser parte importante do desenvolvimento do país. “Todas as empresas precisam se descarbonizar e nem todas as soluções estão postas”.

A Conexão é resultado de uma parceria entre o O Mundo Que Queremos e o CDP Latin América. Em 2022, contou com a parceria institucional, além do iCS, da Climate Ventures, que liderou a rodada de negócios e do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam), que apoiou a feira de negócios.

Durante a abertura, o diretor-executivo do O Mundo Que Queremos, Alexandre Mansur, ressaltou que o mundo está vivendo uma transformação e a feira, desde sua primeira edição, tem sido um espaço para reunir todo mundo que é vanguardista nesse movimento e que, juntos, criarão coisas novas. Já a diretora-executiva do CDP Latin America, Rebeca Lima, lembrou um estudo recente feito pela organização, que deixou claro o papel de agricultura, florestas e bioeconomia para que o Brasil consiga zerar suas emissões de carbono até 2050. Segundo ela, um outro estudo, feito com o setor financeiro, também mostrou que 40% dos bancos que trabalham com o CDP já tem algum tipo de engajamento, investimento e colaboração nessa área. “Nosso foco é conectar tudo isso”, pontuou.

Destravando a Bioeconomia
A bioeconomia é um tema que nasceu nos anos de 1970 e vem ganhando força nos últimos 20 anos, enquanto o mundo busca uma saída para a transição para uma economia de baixo carbono. “É um tema muito brasileiro, mas não nasceu aqui e temos que cuidar de como ele aterrisa em um país biodiverso como o nosso. Temos muita potência mas, por isso mesmo, precisamos ter cuidado”, afirmou a diretora do programa de clima do WRI Brasil, Carolina Genin, na primeira mesa do evento. Ela lembrou que o assunto é complexo e que precisamos discutir as regras do jogo para que esse seja um processo que traga inclusão para o nosso país e não o contrário.

O governo do Pará, estado que fica na Amazônia Legal, tem dado bons exemplos de como destravar a bioeconomia, transformando o assunto em política de estado. “Uma política estadual traz governança, transparência e é um norteador para as ações”, relatou a diretora de mudanças climáticas, serviços ambientais e bioeconomia Secretaria estadual de Meio Ambiente e sustentabilidade do Estado, Camille Bemerguy. Ela destacou que o momento tem sido muito rico, mas desafiador, porque, além de investir em ciência e tecnologia, é essencial olhar para o social e valorizar o conhecimento tradicional. “Entendemos que se a gente tivesse um conceito que abraçasse a biotecnologia, mas também reconhecesse o que já está sendo feito (e pode ser melhorado), poderíamos promover uma economia descarbonizada em curto, longo e médio prazo, criando um ambiente de negócios, desde o início, a muitas mãos”, contou. “O Pará está abraçando seus desafios como uma oportunidade de virada de chave. Sem parar de construir, já ir mudando a lógica.”, completou.

A AMAZ Aceleradora de Impacto tem apoiado empreendedores e negócios da Amazônia para superar os desafios e peculiaridades desse ambiente tão rico. Seu CEO, Mariano Cenamo, que também é cofundador do Idesam, destacou que, apesar dos avanços, ainda falta ação da iniciativa privada. “Tudo de relevante que foi feito para o desenvolvimento sustentável da Amazônia foi feito pelo governo ou pelo terceiro setor. Não dá para falar em construir uma nova economia sem empresas”, provocou. Ele deu exemplos de como a economia sustentável pode gerar mais renda que a extrativista. “O único jeito de ganhar escala é começar a pensar em longo prazo. Enquanto a gente não começar a olhar para a região com um pouco mais de ambição, a escala nunca vai chegar”, afirmou, lembrando que o Brasil tem tudo para ser líder no setor, mas ainda está perdendo a oportunidade. “Se não conseguirmos substituir a economia por uma forte, que conserve a floresta, a gente vai estar sempre enxugando gelo.”

O mercado de carbono tem papel importante para fazer essa conta fechar e também foi assunto destaque durante o evento. “O Brasil tem grande potencial para, além de atingir sua meta, exportar créditos, mas a gente tem muito trabalho pela frente, começando por frear o desmatamento”, ressaltou Annie Groth, head de advocacy da Biofilica Ambipar, que também atua na Amazônia. Ela destacou que o mercado ainda é novo e as regras estão sendo desenhadas, mas manter a integridade do carbono deve ser prioridade. “O carbono é o mesmo, mas os projetos não são os mesmos e a gente tem efeitos socioambientais bem diferentes”. Assim como os demais participantes da primeira mesa, Annie também deixou claro que as pequenas propriedades são tão importantes quanto as grandes para a construção de uma nova economia, baseada na bioeconomia. “Precisamos trabalhar em todas as frentes.”

Toda a programação do teatro foi transmitida online e pode ser conferida no Youtube do Conexão Pelo Clima.

Coalizão Verde é a união dos portais de notícias Neo Mondo, O Mundo Que Queremos e 1 Papo Reto, com o objetivo de maximizar os esforços na cobertura de temas ligados à preservação ambiental.

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