Imagem de uma floresta tropical ideal. Ela foi a preferida entre os entrevistados pela KRC (foto: reprodução do relatório)
A imagem acima mostra uma floresta tropical exuberante, com árvores imponentes, um lindo curso d’água encachoeirado que provoca desejos em alguns empreendedores hidrelétricos. Uma névoa ao fundo fornece a aura de mistério, talvez de pureza. Ou ao menos de umidade do ar, da evotranspriração que recarrega a atmosfera e sustenta o ciclo de chuvas.
A foto foi eleita como a melhor imagem para conquistar corações e mentes de uma campanha que mostre a importância de soluções naturais para a crise climática. Essa foi uma das revelações de uma pesquisa feita pela KRC Research, empresa de pesquisas, para testar mensagens que acendam mais neurônios ativos na cabeça de cidadãos preocupados com o clima. O estudo foi feito com adultos do Brasil, Indonésia e Estados Unidos. Foram ouvidos 1.504 pessoas, um terço em cada país em junho deste ano. Os cidadãos considerados preocupados com o clima foram aqueles que disseram prestar atenção às mudanças climáticas, acreditar que representam um problema sério e se importar pessoalmente com isso.
O objetivo do levantamento foi testar mensagens para avaliar quais podem ser usadas em campanhas para defender a conservação de florestas como uma solução imediata para o clima.
Os americanos, como era de se imaginar, estão defasados em conscientização climática. Apenas 36% disseram que prestam atenção nas mudanças climáticas, contra cerca de 50% no Brasil. Cerca de 84% dos brasileiros afirmaram que se preocupam pessoalmente com as mudanças climáticas, o percentual mais alto entre os países pesquisados.
Na hora de se dispor a apoiar medidas para domar o clima insano que estamos gerando, as opções preferidas circulam em torno da natureza. As alternativas incluiam a proteção de florestas, investimentos em energia limpa, leis que restringem as emissões, mudança no estilo de vida, taxação dos emissores e até adoção de alimentação vegetariana.
A solução preferida pelos respondentes foi “proteger e expandir as florestas”, com 66% do apoio pessoal. Cerca de 34% acham que essa medida é factível e pode ter grande impacto. A segunda medida preferida foi investimentos em “fontes renováveis de eletricidade como eólica, solar e geotérmica”, com 65% de apoio. Cerca de 39% acham que é um caminho viável e com grande impacto para melhorar o clima da Terra.
Há peculiaridades regionais. Para os americanos, a solução das energias limpas é a preferida. Já entre os indonésios, a preferida é a conservação de florestas.
Essa reposta poderia estar ligada a direção dos investimentos para que isso ocorra. Se o mundo se dedicar a preservar florestas, os beneficiários serão os países florestais, como Brasil e Indonésia. E os EUA, que também têm grandes extensões de florestas – e, ao contrário de indonésios e brasileiros – conservam bem seu patrimônio natural. Se a opção for investir em energia limpa, os grandes beneficiários incluiriam o EUA, que desenvolveram tecnologias solar e eólica (embora a China tenha assumido a liderança nas duas frentes) e o Brasil, com o maior potencial do mundo em biomassa. Mas, como se trata de uma enquete popular, mesmo considerando que os respondentes já acompanham o tema, é pouco provável que saibam dessas implicações. Ou que tenham pensado nelas na hora de responder.
Em geral, as pessoas se mostram pouco dispostas a mudar seu próprio estilo de vida. A tendência é transferir a responsabilidade para o outro. Seja outro país, seja o governo ou seja o vizinho. Entre as soluções possíveis, a que menos cativa os entrevistados é adotar um estilo de vida vegetariano. Só 14% dos ouvidos optou por isso. E só 3% acham que seja factível ou tenha grande impacto.
Outra opção impopular é fazer os poluidores pagarem impostos. Apenas 43% dos respondentes apoia a medida. E só 12% acham que teria impacto. Provavelmente, há o receio que taxar os poluidores torne os produtos mais caros, inviabilize negócios, deixe países e setores menos competitivos, leve a demissões. É um temor injustificado. A experiência da Europa com taxação de carbono não mostra nada disso. O continente adota limites de emissão há mais de uma década, sem nenhum impacto visível em seu crescimento. Na verdade, taxar os poluidores é uma das mais eficientes para a promoção de tecnologias novas e para repartir com equidade o esforço de redução nas emissões. Que exista tanta resistência popular a essa medida levanta a necessidade de um trabalho forte de conscientização. Contar mais sobre a experiência da Europa pode ajudar.
Os pesquisadores testaram mensagens também. Pesquisaram qual era o termo preferido entre as pessoas para descrever as soluções para as mudanças climáticas. As opções incluíam diversas combinações como: “soluções florestais, alimentícias e agrícolas”, “soluções de alimentos e uso da terra”, “soluções florestais e agrícolas”. E o termo genérico “soluções naturais para o clima” (ou “natural climate solutions” no original em inglês, que foi a preferida. Provalvelmente, remete à ideia que a conserto para o problema climático é investir em natureza, resgatar o equilíbrio natural da Terra.
O principal motivo para as pessoas quererem “soluções naturais para o clima” é que, para 67% delas, isso “aumenta nosso bem estar, oferece ar e água puros, e age como grandes esponjas que absorvem a poluição de carbono”.
E que imagens mais brilham nos olhos dos nossos potenciais ativistas? Os pesquisadores ofereceram várias: uma mostra um orangotango da Indonésia, outra exibe uma área arrasada pela queimada, mais uma mostra uma vista aérea da devastação. Havia fotos de povos indígenas e de cultivos sustentáveis (cacau, que nos dá gostosos chocolates). Mas a foto campeã foi a que mostrava uma floresta maravilhosa e intacta. A imagem que ilustra esse post. A pergunta era: “Que imagens podem ser
usadas para conseguir atenção e apoio?”. O fato de uma bela foto de floresta ser a preferida sugere que as pessoas desejam o sonho do ecossistema intacto. Provavelmente acreditam no valor do patrimônio natural conservado, mesmo que não tenha nenhum ser humano na imagem, mostrando uso turístico ou de exploração sustentável. Todo poder às florestas, então.
Agora, quem conserva as florestas também pode dar sua ajudinha segurando a queima de diesel…