Recuperação de um dos canais de abastecimento com água do córrego Guariroba (foto: Tony Winston/Agência Brasília)
A população de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, tem boas razões para lutar pela recuperação das florestas. Uma nova pesquisa mostrou que o trabalho de preservação e regeneração da mata na bacia do córrego Guariroba aumentou a vazão de água. O córrego, na verdade um rio, é a principal fonte de água para abastecer a população de Campo Grande.
Um estudo feito pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul mostrou que um programa de pagamento por serviços ambientais ajudou os agricultores ao longo da bacia do rio a cuidarem melhor dos mananciais entre 2012 e 2016. Os pesquisadores conseguiram isolar fatores como erosão do solo, capacidade da absorção das chuvas, e oscilação no volume de precipitação do período. Conclusão: mesmo com
uma redução nas chuvas no período avaliado, a vazão do rio aumentou graças ao trabalho de conservação da floresta. Houve uma redução de aproximadamente 1 milímetro por mês na quantidade de chuva no período. Apesar disso, o fluxo de água do rio aumentou cerca de 0,018 metro cúbico por segundo. A pesquisa foi publicada na revista científica Science of the Total Environment. >> A saúde das pessoas é um bom argumento para preservar o meio ambiente
O Guariroba é responsável por 50% da água de Campo Grande. Ao longo do seu curso, a principal atividade agrícola é a pecuária. O cerrado natural cobre apenas 13% da bacia. Ainda há 6% de floresta plantada com eucalipto. A expansão do gado reduziu a água do rio por causa da degradação do solo e do uso de reservatórios subterrâneas. Para evitar maior degradação do rio, o município de Campo Grande lançou o programa Manancial Vivo em 2009. O programa remunera os agricultores que colaboram para que o solo absorva mais água das chuvas, reduzem erosão e preservam biodiversidade. As práticas são simples, como manter o gado preso (para não pisotear áreas de mata preservada), recuperação da mata ciliar, manutenção de estradas etc. >> As florestas do cerrado começam a ganhar atenção
O estudo é importante porque confirma a eficácia dos programas de pagamento por serviços prestados pela natureza. “Esse é um trabalho único onde constatamos de forma quantitativa o aumento de vazão no rio em função de práticas de conservação, como formação de terraços e revegetação de áreas degradadas”, diz Paulo Tarso Oliveira, coordenador do grupo de pesquisadores. “Essas práticas foram subsidiadas por um programa de pagamento por serviços ambientais.” O resultado mostra como um bom trabalho para estimular os agricultores a cuidar melhor dos recursos naturais traz benefícios palpáveis para a população. As florestas são fábricas de água. Fundamentais para nossa sobrevivência. Deveríamos proteger os mananciais como se fossem parte da nossa família. >> Os brasileiros querem florestas preservadas
A pesquisa reforça a importância de manter uma rede de monitoramento nas bacias hídricas que abastecem grandes centros urbanos. Os resultados positivos obtidos com a conservação das florestas são um argumento poderoso para que o trabalho continue, com apoio político e sustentação da população. >> A solução está na floresta