Amazônia em pé será decisiva nas eleições de 2022

Assunto está no centro do debate eleitoral porque, além de fundamental para controlar a mudança climática, tem o potencial para alavancar a nossa economia

Nunca antes na história desse país perguntas sobre o uso sustentável da Amazônia foram pauta das entrevistas com candidatos a presidente no Jornal Nacional. O Brasil acordou e mudou. Os brasileiros entendem a importância da Amazônia para o país e querem preservá-la. Em uma pesquisa de opinião recente, 80% dos entrevistados afirmaram que a proteção da floresta deve ser prioridade nas eleições deste ano. O estudo, encomendado pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS), também revelou que 58% dos brasileiros devem priorizar candidatos que tenham um plano específico para a região na hora de decidir em quem votar para presidente.

Esse desejo de proteger a Amazônia está ancorado em uma sensação de orgulho da exuberância da nossa floresta e de sua enorme biodiversidade. Também no conhecimento de que todo o planeta depende da existência desse bioma para manter seu equilíbrio climático e para a regulação do regime de chuvas, não só aqui, mas em toda a América do Sul. Esses dois motivos estão corretos. Mas existe uma terceira razão, tão importante quanto as anteriores, pela qual precisamos manter a floresta em pé: conservada, a Amazônia é, hoje, um dos produtos mais valiosos que o Brasil pode oferecer ao mundo.

Para começar, vamos lembrar que a humanidade enfrenta um dos maiores desafios de sua história: o avanço das mudanças climáticas, cujas consequências, com ocorrências cada vez mais frequentes, já aparecem por todo canto. A recente onda de calor na Europa, com recordes de temperatura que alarmaram o mundo todo, é só mais uma prova de que a tragédia está acontecendo agora. Mas, já faz algum tempo que ela começou.

Pode ser que você não se lembre mais, mas uma das maiores tragédias climáticas da história aconteceu aqui no Brasil, há mais de uma década. Em 2011, chuvas na região serrana no Rio de Janeiro provocaram deslizamentos e enchentes, deixando mais de 900 mortos e quase 35 mil desabrigados. Foi um volume de água completamente fora do padrão que, em apenas três horas, ultrapassou a expectativa mensal para a região. E, de lá para cá, dezenas de outras tragédias causaram danos e perdas. Segundo dados da Confederação Nacional de Municípios, no Brasil, 27% das mortes causadas por chuva nos últimos dez anos aconteceram em 2022. Em março de 2022, temporais na mesma região serrana do Rio mataram mais de 200 pessoas. Infelizmente, todas essas catástrofes são apenas o início do que pode acontecer se não conseguirmos controlar o avanço de temperatura dentro de um limite razoável de 2 a 3 graus celsius – alguns estudos já mostram que a famosa meta de 1,5, estipulada pelo Acordo de Paris, não é mais alcançável.

Para segurar as mudanças climáticas dentro desse limite que não ameace a civilização, dois lugares prioritários precisam ser protegidos. Um deles é a Antártida Oriental, que contém o maior bloco de gelo do planeta e é um dos pilares da estabilidade do clima da Terra. O outro é a Amazônia, cuja maior parte está na região Norte do Brasil. Líderes de todo o mundo já sabem disso há algum tempo e estão dispostos a colaborar, inclusive financeiramente, mas a gente precisa fazer o nosso dever de casa.

A boa notícia é que o Brasil sabe como controlar o desmatamento, pois já fez isso com sucesso no passado. Depois de atingir um ponto alto por volta de 2005, o desmatamento na Amazônia chegou a cair 83% entre 2004 e 2012, graças ao Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDam), que envolveu mais de 10 ministérios e englobou órgãos como o Ibama, a Polícia Federal e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Com ações, como o monitoramento por satélites, a expansão de áreas protegidas e a aplicação de leis de proteção ambiental, o Brasil virou referência em redução de gases do efeito estufa. Nesse período, ficamos tão bem vistos que recebemos um dos maiores pacotes de ajuda financeira da história, o Fundo Amazônia, que distribuiu recursos para os governos federal e estaduais. Nesse mesmo período, a produção agrícola brasileira e o faturamento do agronegócio bateram recordes, assim como a nossa exportação de alimentos, o que provou de uma vez por todas que é sim possível aliar preservação ambiental e crescimento econômico.

Nos últimos anos, no entanto, estamos caminhando na direção contrária e mês a mês o desmatamento na Amazônia tem batido recordes negativos. Novos dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), mostram que a área de floresta desmatada da Amazônia Legal em 2022 foi a maior dos últimos 15 anos. Mas, podemos parar agora, repetir a história de sucesso que acabei de contar e voltar a ser referência para o mundo. Para isso, a preservação da Amazônia precisa estar no centro do debate eleitoral. Até o dia 2 de outubro, devemos estar atentos aos planos dos candidatos nessa área e esse é um dos principais objetivos da campanha Amazônia no Centro, que defende um desenvolvimento sustentável para o Brasil. É a nossa oportunidade de dar um salto de desenvolvimento, atraindo investimentos, gerando segurança econômica, negócios e novos empregos!

Este texto foi escrito por Alexandre Mansur, coordenador da campanha Amazônia no Centro, e Angélica Queiroz, jornalista do Instituto O Mundo Que Queremos. Publicado, originalmente, na coluna Ideias Renováveis, da Exame.

foto: depositphotos

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