Amazônia segue batendo recordes de queimadas, ameaçando diretamente os serviços ecossistêmicos do bioma e a saúde humana
Por Luna Galera
A fumaça que vem sufocando o Brasil é proveniente do fogo que arde na Amazônia. Somente no primeiro semestre deste ano, o recorde de queimadas para o bioma já foi batido – e, ao que tudo indica, a tendência é piorar. Na última terça-feira (27), o governo do Pará decretou estado de emergência em função dos focos de calor no estado, proibindo o uso de fogo para limpeza e manejo de áreas no território. Isso porque a fonte de ignição constante ainda é a ação antrópica, com destaque ao desmatamento ilegal. Mesmo que a vegetação amazônica esteja super inflamável – por conta do período de estiagem histórico, da antecipação da estação seca na região e do acontecimento de fenômenos como o El Niño -, a umidade da floresta não permitiria tantos focos de calor como os que estão sendo registrados hoje. Porém, nessas condições, basta que o homem acenda um fósforo para dar início a queimadas incontroláveis e muita fumaça.
Entre os anos de 2010 e 2023, foram detectados pelo BDQueimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) 1,8 milhões de focos de calor na Amazônia Legal. Desse total, 143.066 focos aconteceram apenas em 2023. Tais pontos destacam a presença de limpezas de pastos ou de áreas de uso agrícola (agricultura de corte e queima), queimadas de cerrados e incêndios florestais. Com o clima mais seco, embora o fogo seja usado em espaços específicos, ele rapidamente se alastra atingindo grandes proporções e ocasionando danos ambientais profundos, como perda da biodiversidade, destruição da vegetação nativa, agravamento da crise climática e deterioramento da qualidade do ar.
Os dados utilizados são do estudo Fatos da Amazônia 2024, publicado pelo projeto Amazônia 2030. No ano passado, o bioma da Amazônia perdeu para o fogo uma área de extensão pouco maior que a de Portugal. Segundo os pesquisadores, as maiores quantidades de focos de calor se concentraram no estado do Pará (48.457 focos), quase o dobro em relação ao segundo estado: Mato Grosso (25.135 focos). Ao todo, foram queimados 10,7 milhões de hectares – um aumento de 35% em relação a 2022, de acordo com os da plataforma do Inpe.
A Amazônia Legal registra o maior número de focos de calor em 19 anos. No primeiro semestre deste ano, o número de focos de calor detectados na Amazônia sofreu um aumento de 76% em comparação ao mesmo período do ano passado. Entre os dias 25 e 31 de agosto, a situação foi considerada grave em 37 municípios da região, que tiveram mais de 100 focos em uma semana. Os dados do Inpe para o bioma amazônico são os maiores desde 2004 – quando o país enfrentava altos índices de desmatamento. Hoje, embora o desmatamento tenha sido reduzido, esse crime ainda existe e continua sendo o grande estopim para as queimadas e a fumaça que mitigam nossa chance de futuro.
A fauna e flora do Brasil estão sendo incendiadas pelo descaso e pela ignorância. Não há mais tempo para perder quando o assunto é a conservação da Amazônia – daqui a pouco os danos serão irreversíveis. Os sintomas da catástrofe já chegaram até nós. O ar está mais difícil de respirar. Problemas de saúde respiratória estão sendo agravados. Até quando? Caso haja esforço, mudanças climáticas podem ser previstas e combatidas. Zerar o desmatamento é para ontem. Controlar as queimadas é imprescindível, mas – acima de tudo – precisamos preveni-las.
Foto: depositphotos
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