Diálogo e ação: essa é a receita de especialistas para superar os riscos da crise climática

Por Rosenildo Ferreira, especial para COALIZÃO VERDE (1 PAPO RETONEO MONDO e O MUNDO QUE QUEREMOS)

“O debate sobre a crise climática e seus efeitos na vida das pessoas e do planeta acabou sendo sequestrado por grupos ideológicos. E isso é ruim para todos. Pois não se trata de uma história com mocinhos e vilões, mas de uma questão chave para a sobrevivência da humanidade”. Foi a partir desse ponto de vista que o premiado jornalista e escritor Andrew Revkin (na foto acima) começou um bate-papo com um grupo de jornalistas, reunidos na quinta-feira (28/8), na casa do cônsul dos Estados Unidos em São Paulo, Richard Glenn.

Celebrado por reportagens publicadas no The New York Times, National Geographic e Discover Magazine, Revkin vem se dedicando ao advocacy (promoção de causas) a partir da Iniciativa em Comunicação e Sustentabilidade – The Earth Institute que ele fundou e dirige dentro da Universidade Columbia. É deste posto de observação que Revkin comanda pesquisas e estudos, além de escrever artigos científicos e de conversar, incessantemente, com tomadores de decisão do mundo financeiro e governamental e da sociedade em geral.

“Eu aprendi ao longo da carreira que em vez de tentar ditar comportamentos seria mais efetivo fazer questionamentos que levassem as pessoas à reflexão”, contou. “E como a forma de se comunicar com o mundo mudou, tive de virar blogueiro, também”, conta.

O papel da mídia e dos demais formadores de opinião também foi destacado pela jornalista Solange Barreira, do Observatório do Clima, e pelo diretor-executivo do ClimaInfo, Délcio Rodrigues. Solange apresentou a iniciativa Fakebook.eco, uma plataforma de checagem de informações ambientais a respeito do Brasil, lançada em 2018 em parceria com o Greenpeace e o ClimaInfo. “Tivemos muito trabalho durante o governo do presidente Jair Bolsonaro”, lembra.

Ela contou que num período marcado pelo descaso (para se dizer o mínimo!) do governo federal em relação à pauta ambiental, o Observatório, que reúne 119 organizações, recorreu à criatividade para tentar neutralizar os discursos negacionistas. “Na COP 25, realizada em Madri, em 2019, por exemplo, o governo brasileiro teve a sua participação mais tímida, praticamente ignorando o evento. Por conta disso, montamos um espaço para receber as ONGs e disseminar informações qualificadas”.

O ápice dessa iniciativa se deu durante o giro do então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, para encontros com autoridades e a imprensa. Ao perceber que o Brasil tinha intensificado sua narrativa em relação ao ceticismo climático, o Observatório dobrou a aposta com a edição de uma versão impressa do Fakebook. “Antes de o ministro chegar em cada país nós fizemos uma distribuição maciça da revista para os jornalistas e diversas autoridades envolvidas com o tema”, conta. Pelo visto, deu certo. Tanto na Inglaterra quanto na Alemanha o ministro foi bastante cobrado por suas posições e atitudes à frente da pasta.

Outro que aposta no mídia-ativismo como um caminho para ajudar a “virar o jogo” em relação aos efeitos das mudanças climáticas é Délcio Rodrigues, diretor-executivo do ClimaInfo. Físico de formação, ele se tornou um comunicador bissexto. “A inovação na forma de comunicar é importante para que nossa mensagem chegue a um número maior de pessoas”, opina. “Até porque existe o desafio adicional de falar sobre uma questão (mudanças climáticas) que vai gerar impactos a médio e longo prazo, mas que precisa de medidas imediatas para ser evitada.”

 

Na opinião de Revkin, um dos caminhos para que a mensagem se torne mais abrangente é reduzir o tom catastrofista comumentemente usado pelos militantes e apostar no humor. Como exemplo citou a dupla de ambientalistas do projeto The Yes Men, que nasceu como um site para divulgar material crítico sobre a candidatura de George W. Bush, em 2000, e evoluiu para uma série de vídeos com paródias e “emboscadas” contra autoridades e executivos de empresas acusadas de trabalhar em favor do aquecimento global. “Muitas vezes é mais eficiente focar nas questões locais, mostrando como elas são derivadas da crise climática em vez de falar em aquecimento global”, conclui.

Ah, um detalhe importante: no portfólio do jornalista americano consta o livro que deu origem ao filme The Burging Season, que conta a história do ecologista acreano Chico Mendes.

Fotos: acervo pessoal e divulgação

Coalizão Verde é a união dos portais de notícias 1 Papo RetoNeo Mondo e O Mundo que Queremos com o objetivo de maximizar os esforços na cobertura de temas ligados à agenda ESG

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