por Rosenildo Ferreira, especial para COALIZÃO VERDE (1 PAPO RETO, NEO MONDO e O MUNDO QUE QUEREMOS)
A construção civil é um dos segmentos econômicos que causam o maior impacto nas emissões de gases prejudiciais à camada de ozônio. Isso porque o setor responde por cerca de 40% da demanda global de energia, de acordo com estudos do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Por se tratar de uma atividade que se utiliza de insumos vindos de múltiplas cadeias, as empresas do setor passaram a ser cobradas com mais vigor por ativistas e órgãos reguladores.
E é neste contexto que temos assistido ao desenvolvimento de iniciativas inovadoras tanto no uso de matérias primas, quanto nos processos construtivos. Uma delas nasceu na pequena Barueri, cidade da Região Metropolitana de São Paulo. Foi lá que o empreendedor Bruno Abramo Frederico, 45 anos, sócio-fundador da Fuplastic, desenvolveu dois modelos de caixa de passagem para fiação elétrica e um bloco usado na construção de edificações variadas: desde residências até lojas e estandes para empresas, feitos a partir de plástico pós consumo.
“O plástico é sempre visto como um dos vilões da poluição e a reciclagem é uma forma inteligente de reduzir seu impacto no meio ambiente”, destaca ele. Quem fornece parte da matéria prima são as cooperativas ligadas à Clean Plastic, de Curitiba. Segundo o empreendedor, o produto já conquistou uma legião de adeptos no mercado. Uma boa amostra disso é a diversidade e o “peso” da carteira de clientes, que inclui potências como Localiza, Swift, Chilli Beans e iFood. Até chegar neste ponto, no entanto, Bruno teve de superar inúmeros obstáculos.
O projeto que deu origem à Stander Box e à Fubox, nome das caixas de passagem utilizadas no setor de energia e de telecomunicações, e ao bloco exigiu muita resiliência da emergente Fuplastic. Primeiro por conta do conservadorismo do setor de construção civil, ainda muito refratário às novidades. Depois, pelo impacto causado pela pandemia de Covid-19 em diversas cadeias produtivas. Com isso, a iniciativa que começou a ser gestada em 2020 sofreu inúmeros atrasos. “Desembolsei cerca de R$ 20 milhões na compra de uma máquina na Itália que levou um ano para ser entregue.”
Os problemas não desanimaram o empreendedor. Ao contrário. Para otimizar a produção, Bruno desenvolveu com sua equipe uma série de subprodutos: como tapumes e casas modulares que podem ser montadas no sistema plug & play característico de obras secas e limpas – pois consomem pouca água e não geram resíduos, todos devidamente patenteados. Mais. A Fuplastic também ganhou o Prêmio Master Imobiliário, na categoria inovação, com o eco tapume concebido inicialmente para a construtora Tegra Incorporadora.
Bruno é o que se pode chamar de um empreendedor serial, na essência da expressão. Começou a trabalhar aos 12 anos, como office-boy, na metalúrgica do pai, Bruno Martini Frederico, e ao longo de sua jornada, o fundador da Fuplastic, graduado em arquitetura, pela Belas Artes, e engenharia, pelo Instituto Mauá de Tecnologia, criou diversos negócios. Foi dono de restaurante, lava jato e de estacionamento, antes de voltar a dar expediente na empresa da família, em 2016.
A parceria com o pai resultou no desenvolvimento da caixa de passagem produzida em plástico, idealizada para concorrer com os modelos de concreto e que se tornaria o carro chefe da Fuplastic, anos depois. “Foi este produto que viabilizou a instalação de uma filial em Orlando, para atender clientes da área de energia solar”, destaca.
Os blocos de plástico se incorporaram tanto ao DNA do empresário que viraram até mote para uma tatuagem em seu braço. Além do mercado de infra estrutura, Bruno aposta fortemente na tecnologia construtiva da Casa Plug & Play. O kit da casa padrão, de 48m², foi testado, literalmente, por Bruno, que montou uma unidade na área da fábrica, em Barueri. “Morei por três meses na edificação e pude constatar que o conforto acústico e térmico é semelhante ao de construções convencionais”, diz. Segundo ele, o projeto também foi aprovado em testes de segurança contra fogo.
Com relação às obras de alvenaria (tijolos cerâmicos e blocos de concreto), a principal vantagem seria a velocidade da construção: uma casa convencional pode levar até 30 dias para ser erguida, a casa de plástico fica pronta em até quatro horas. O valor de venda está estimado em R$ 200 mil para a unidade padrão de 48m².
Antes mesmo de chegar ao mercado, o modelo tem sido submetido a outros testes, envolvendo uma parceria com a ONG Teto que constrói e doa imóveis para famílias que vivem abaixo da linha de pobreza. Para eles, foram desenvolvidas três opções de formato que variam de 18 m² a 27m². “Nosso compromisso é doar mil casas”, resume. Outra ONG beneficiada é a IKMR, que atua com os direitos de refugiados, para a qual a Fuplastic destina R$ 0,10 a cada quilo de plástico reciclado.
Foto: divulgação
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