Projeto Acelerador de Agroflorestas e Restauração possibilita transformar áreas improdutivas ou degradadas das propriedades de agricultores familiares, das regiões Nordeste e Sudeste do Estado, em fonte de renda
POR – REDAÇÃO O MUNDO QUE QUEREMOS, PARA COALIZÃO VERDE (1 PAPO RETO, NEO MONDO E O MUNDO QUE QUEREMOS)
Cacau, açaí, cupuaçu, cajá, acerola, cumaru e andiroba. Em um sistema agroflorestal, também conhecido pela sigla SAF, várias espécies como essas essas convivem juntas, ajudando a recuperar áreas degradadas na região amazônica. O modelo, que é um exemplo de como restaurar a floresta e, ao mesmo tempo, diversificar a produção e aumentar a renda das famílias, é incentivado no Pará pelo Projeto Acelerador de Agroflorestas e Restauração. Lançado em 2021, a iniciativa vem sendo implantada no Sudeste do Pará, pela The Nature Conservancy (TNC) Brasil, e no Nordeste do estado pelo Centro de Pesquisa Florestal Internacional e Centro Internacional de Pesquisa Agroflorestal (CIFOR-ICRAF Brasil).
“Numa região onde a atividade principal ainda é a pecuária extensiva, logo o pasto fica degradado e a renda é prejudicada. Mas, com a implementação do SAF, é possível recuperar essas áreas, ser mais produtivo, contribuir com o meio ambiente e ganhar mais dinheiro”, explica Clarismar Oliveira, coordenador de Adesões e Relações Institucionais da TNC Brasil, que trabalha na implementação do projeto. Ele explica que os sistemas agroflorestais ajudam as pequenas propriedades a se tornarem sustentáveis, tanto do ponto de vista ambiental quanto econômico.
No SAF, são introduzidas, além das plantas de roça, espécies florestais. Além de aumentar a floresta e a variedade de plantas, o que significa mais equilíbrio para a natureza e para o clima, esse modelo traz vantagens diretas para a família porque gera renda em vários períodos diferentes. “No começo, com o plantio de espécies de roça, depois, com espécies como maracujá e pimenta; em seguida com cacau e açaí; e mais na frente ainda pode gerar renda se forem plantadas espécies madeireiras para manejo. Isso sem falar de todos os alimentos para a família e de trabalhar em um ambiente mais agradável, na sombra, por exemplo”, explica Jimi Amaral, coordenador de Transição Agroecológica do CIFOR-ICRAF Brasil.
O projeto ainda viabiliza mecanismos para a participação desses produtores no mercado de créditos de carbono florestal, que também traz retornos financeiros. “As árvores captam o carbono que está no ar e fixam na madeira, tirando esse carbono ruim da natureza. Muitas empresas têm interesse em comprar esse carbono para cuidar do meio ambiente. O projeto Acelerador traz para os agricultores essa certificação para que eles possam se beneficiar da venda de créditos de carbono”, explica Jimi Amaral. “Cada dia mais o apelo ambiental se faz presente e o mercado de carbono é muito promissor, tanto para renda quanto para ajudar a mitigar o problema das mudanças climáticas”, complementa Clarismar Oliveira.
Os produtores que começaram a trabalhar com o modelo já estão experimentando mudanças, não só do ponto de vista ecológico e financeiro, mas também de mentalidade. Dono de uma pequena propriedade em Tucumã, José Alcides, 63 anos, conta que sua intenção inicial era criar gado, mas se apaixonou pelo cultivo de cacau e, ao conhecer o sistema agroflorestal, descobriu que a diversidade de espécies era melhor não só para o bolso, mas que também trazia resultados ambientais visíveis.
“Hoje tenho seis corredores ecológicos, com várias nascentes de água e já vejo resultado na melhoria da vegetação. Os pássaros chegaram e, junto com eles, vários animais, como jacu, garça, jacaré, capivara, jabuti, macaco e tatu. É um relacionamento fantástico com a natureza”. Pai de três e avô de cinco, José se sente colaborando também para o futuro de seus descendentes e faz questão de dividir com eles o que aprendeu. “A questão climática é algo visível para quem já viveu tanto tempo quanto eu e faço questão de conscientizar a todos. Quando a gente trabalha com a terra tem que pensar no longo prazo”, afirma.
O que são os SAFs?
Os Sistemas Agroflorestais ou agroflorestas (ambos chamados de SAFs) são uma forma de uso do solo que combina em uma mesma área e por determinado tempo, o cultivo de espécies arbóreas, arbustivas, frutíferas, hortícolas, madeiráveis ou adubadeiras. Nos SAFs, é possível ter diversos tipos de plantios, como mandioca, açaí e cacau, juntamente com árvores, arbustos e palmeiras. Trata-se de uma forma de manejo que também pode ser usada para recuperar áreas degradadas ou improdutivas, pois ao combinar diferentes plantas promove-se uma interação positiva (biodiversidade) que recupera o solo, com a retenção de mais água e nutrientes, além de possibilitar uma produção diversificada ao longo do ano, entre outros benefícios. Com o tempo, a área garante mais oportunidades de comercialização e renda. Os Sistemas Agroflorestais também ajudam a mitigar os impactos negativos das mudanças climáticas e, ao longo do tempo, podem gerar créditos de carbono.
O que são créditos de carbono?
O crédito de carbono funciona como uma moeda de troca que objetiva compensar a quantidade de gases do efeito estufa, principalmente o gás carbônico (CO2) liberado na atmosfera por atividades humanas, como por exemplo a queima de combustíveis fósseis e outras práticas industriais. Árvores possuem a capacidade de retirar CO2 da atmosfera através da fotossíntese, transformando-o em carbono, que compõe toda estrutura da árvore, como na madeira de galhos, troncos e raízes. Através dos créditos de carbono, é possível que empresas dispostas a compensar suas emissões apoiem projetos de plantios de árvores visando a retirada do CO2 da atmosfera, o que colabora na mitigação dos impactos negativos do aquecimento global, além de ser uma oportunidade de apoio para produtores(as) rurais e agricultores(as) familiares que venham a participar de tais projetos.
Foto: divulgação CIFOR-ICRAF
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