A produção de hambúrguer sintético é um dos negócios promissores com a demanda por cuidados com as pessoas e com o meio ambiente. O que mais esperar dessas tendências?
Nos últimos anos, muito tem se falado em uma nova economia, que seja mais sustentável, mudando a forma como nos relacionamos com os recursos naturais e ajudando a mitigar os efeitos das mudanças climáticas, que ninguém pode mais negar. No entanto, muita gente ainda é resistente ao assunto, associando-o a algum tipo de retrocesso ou paralisação. Não é nada disso. O que precisamos é de uma transformação, com empreendimentos que tenham o olho no futuro e não no retrovisor.
Os megaprojetos já estão perdendo espaço para outros menores e baseados em conhecimentos mais sofisticados. Essa é uma tendência porque os negócios precisam mudar para estimular mudanças de atividades e comportamentos que sejam indutores da redução de gases do efeito estufa e nos ajudem a cumprir as metas estabelecidas pelo Acordo de Paris e endossadas pelas principais potências do mundo. “Os próprios objetivos para o desenvolvimento sustentável (ODS) convergem para uma economia que tenha como base os serviços para a sociedade de forma a não destruir a natureza”, afirma Ricardo Abramovay, que é economista, professor e especialista em economia verde, em mais um episódio do podcast Infraestrutura Sustentável.
Nessa nova economia, boa para o clima, há espaço para que muitos negócios prosperem, mas eles precisam também estar alinhados com essa mentalidade do cuidado — com as pessoas e com o meio ambiente, ou seja, na luta contra as desigualdades e contra as mudanças climáticas. “Essa é a mensagem central: desenvolvimento sustentável não é só meio ambiente, é favorecer a emergência de uma vida social em que as pessoas possam florescer e exercer as suas capacidades”, afirma Abramovay. Nesse sentido, segundo ele, a infraestrutura se torna um meio para chegar a esses objetivos e os negócios que forem por essa linha têm tudo para se dar bem.
A área da saúde é uma na qual há muito espaço para investimento, especialmente nos setores de vacinas, equipamentos e, sobretudo, cuidado com as pessoas. Abramovay lembra que a pandemia deixou muito claro que não podemos depender de apenas alguns países, como Índia e China, para a produção de insumos, mesmo os mais elementares, pois isso deixou muitos países desabastecidos, justamente quando mais precisavam. Mobilidade é outra área promissora. As pessoas vão precisar se locomover de outra forma, dependendo menos de veículos que emitem gases do efeito estufa. Isso já está dando lugar a novos negócios, tanto aqueles que usam tecnologias digitais, quanto os que investem em fontes renováveis de combustíveis.
Naturalmente, a área de cuidados com a natureza é prioritária para quem pensa em novos negócios. Investir em energias renováveis, por exemplo, é não apenas uma forma de diminuir os efeitos das mudanças climáticas, mas também uma área que têm potencial de gerar muitos empregos, inclusive para postos de trabalho qualificados. Negócios especializados em regeneração florestal, recuperação de áreas degradadas também estão entre os que Abramovay acredita que têm muita chance de prosperar. Ele também cita que os imóveis, domésticos e comerciais, precisarão passar por adaptações para atender às mudanças no comportamento das pessoas. “As pessoas vão precisar reformar suas casas e instalar novos equipamentos de aquecimento, senão a conta não vai fechar. Isso vai dar lugar a negócios, inclusive pequenos”, explica o professor, lembrando que na Grã Bretanha, por exemplo, são 30 milhões de domicílios que vão ser recompostos para atender às metas ambiciosas do país.
Os negócios ligados à alimentação também devem ganhar cada vez mais espaço. Abramovay afirma que a contestação ao consumo de carne e à crueldade animal vinculada a esse hábito é crescente. Essa nova exigência dos consumidores têm estimulado, por exemplo, a produção de carnes de laboratório. Há consultorias que estimam que, em 30 anos, 40% do consumo atual de carne vai ser direcionado para carnes vegetais ou essas elaboradas em laboratório. São negócios que estão crescendo com uma velocidade impressionante. É possível esperar uma pressão cada vez maior por redução nas emissões de metano, o que deve impactar a produção bovina, e estimular substitutos, inclusive aves e suínos.
E esses são só alguns exemplos que provam que a economia boa para o clima não tem nada de paralisada, é exatamente o contrário. “O que está acontecendo é uma transformação profunda que será mais promissora quanto mais ela obedecer às necessidades da luta contra a crise climática”, conclui Abramovay. Os desafios são imensos, especialmente no Brasil, onde muita gente ainda tem receio de investir nesse tipo de negócio e há projetos novos que não só não estão indo no caminho certo como andam para trás, estimulando, por exemplo, o desmatamento, questão que não deveria nem mais estar sendo discutida, já que todo mundo que está minimamente atento sabe do potencial da floresta em pé. Investidores e empreendedores que pensam no longo prazo não podem mais ignorar que nada mais será como antes. Ainda bem.
Foto:Ivam Grambek/Flickr