As empresas brasileiras entenderam muito rápido que o Brasil tem tudo para ser uma potência econômica na transição para a economia de baixo carbono. Isso por nossas vantagens competitivas na área de clima, por termos energia limpa, biodiversidade, floresta e tecnologia. Por consequência, o setor privado nacional sempre puxou esta agenda e assumiu uma liderança importante. Hoje, diante da lacuna deixada pela falta de visão do governo federal, a liderança privada é mais necessária ainda. Felizmente, ela existe. O maior levantamento feito pelo CDP, organização que reúne os grandes fundos de investimento do mundo, mostra como as empresas latino-americanas evoluíram nos últimos 10 anos.
Além disso, a pesquisa também evidencia o progresso das prefeituras. De todos os gestores públicos, são os prefeitos que têm o contato mais direto com as necessidades práticas da população. Chuvas, enchentes, desabamentos, falta de água, queda de árvores, lixo, esgoto, trânsito, todos os aspectos diários das mudanças climáticas e as vantagens de investir em cidades boas para as pessoas e para o clima passam pela mesa do prefeito. A ótima notícia do CDP é uma evolução na maturidade dos municípios.
No ranking anual, feito pelo CDP com as empresas de capital aberto e cidades da América Latina, a comparação entre os resultados de 2010 e 2020 mostra como os stakeholders na América Latina evoluíram. A começar pelo número de respondentes divulgando seus resultados. O número saltou de cerca de 100 em 2010 para quase 1800 em 2020. Segundo Rebeca Lima, gerente sênior de Corporações e Cadeias de Suprimento do CDP América Latina, o aumento do número de respondentes é um indicativo de bons resultados. “A presença de cada vez mais organizações ocupando os postos de liderança climática potencializam o impacto da agenda, pois além de suas próprias ações, elas servem de inspiração e alavancam, por meio do compartilhamento de boas práticas, as organizações que estão no início da jornada para mitigação e adaptação climática.”, explica.
Não só o progresso na transparência ambiental das cidades e empresas precisa ser mencionado, mas principalmente as ações concretas que já foram implementadas por elas. Na última década, governos municipais e empresas deixaram de lançar, juntos, mais de 280 milhões de toneladas de carbono na atmosfera, com um investimento conjunto de mais de US$ 63 milhões em iniciativas de redução de emissões. A tendência é de aumento da maturidade e ambição das organizações. Em 2020, foram reportadas metas de redução de emissão, até 2050, de 37,5 milhões de toneladas de CO2, contra metas de 8 milhões reportadas em 2010. Isso revela que o compromisso do setor empresarial está evoluindo.
Ainda temos um longo caminho a percorrer para mantermos o aumento médio da temperatura global abaixo de 1,5ºC, mas é importante celebrarmos cada uma das conquistas obtidas até o momento. Uma vitória importante, demonstrada pelo relatório divulgado pelo CDP, é o aumento na quantidade de empresas que configuram a A-List, o nível de excelência mais alto na metodologia de avaliação de ações de enfrentamento às mudanças climáticas. Atualmente, 29 empresas da América Latina estão na categoria de liderança (A e A-). Em 2019, um ano antes, eram apenas sete nesta lista. (Confira a lista completa ao final). No levantamento, oito cidades da América Latina também atingiram nota A, em contraste com 2019, quando nove cidades da região alcançaram a pontuação máxima. O resultado revela o grande impacto da pandemia de Covid-19, que poderia ter sido maior, não fosse o empenho das cidades em manter e melhorar suas ações pensadas para reverter mudanças climáticas.
“As cidades que se encontram na posição de liderança são oito de um grupo de 293 da América Latina que reportaram seus avanços no combate às mudanças climáticas. Esperamos que em 2021 esse grupo de cidades líderes aumente, pois sabemos que muitas, mesmo com o impacto da pandemia, estão trabalhando para entregar seus planos de ação climática”, comenta Andreia Banhe, gerente sênior de Cidades, Estados e Regiões da CDP América Latina.
O CDP (Disclosure Insight Action) é uma organização sem fins lucrativos que opera o sistema global de divulgação para que investidores, empresas, cidades, estados e regiões gerenciem seus impactos ambientais. Representa globalmente mais de 500 investidores que, juntos, movimentam US$ 100 trilhões em ativos. Na América Latina, são mais de 30 investidores com ativos que somam US$ 3 trilhões.
Para Lauro Marins, diretor do CDP América Latina, os últimos dez anos foram de muito aprendizado e representam uma maior consciência das empresas, investidores e municípios sobre seu papel contra os efeitos das mudanças climáticas. “É o papel do CDP e de todos os envolvidos nesse ecossistema continuar puxando essa agenda para a evolução e amplitude desse processo a longo prazo”, finaliza.
No ano de 2020, 29 empresas da América Latina entraram para a A-List do CDP na categoria de liderança (A e A-), ou seja, atingiram nota máxima na metodologia de avaliação do CDP de enfrentamento contra as mudanças climáticas. Veja a lista completa das empresas que atingiram pontuação A ou A- dividida pelos temas Mudanças Climáticas, Segurança Hídrica e Florestas.
Foto: Todos os aspectos diários das mudanças climáticas e as vantagens de investir em cidades boas para as pessoas e para o clima passam pela mesa do prefeito (Depto. de Transporte do Oregon/Divulgação)