Porque a Amazônia precisa estar no centro do debate eleitoral

A recuperação econômica e a segurança do Brasil dependem do uso sustentável da floresta
Se existe uma certeza sobre as eleições deste ano é que a economia será o principal fator para decidir o voto. Com a crise entrando na casa de todo mundo, roubando conquistas das últimas décadas, essa é a principal preocupação do brasileiro. Diversas pesquisas consistentemente mostram que os temas mais relevantes para o eleitor este ano são inflação, desemprego e custo de vida. Todo mundo já entendeu que o mais importante agora no palanque da campanha é garantir que vai botar comida no prato, segurar a conta de luz, gerar emprego e trazer os investimentos de volta para o Brasil. O que pouca gente entendeu ainda é que para cumprir estes quatro desafios, a Amazônia precisa estar no centro do debate. O Dia do Meio Ambiente é agora 5 de junho. Mas o dia decisivo para o meio ambiente e o desenvolvimento do Brasil será o primeiro turno das eleições.

Por que a Amazônia deve ser o tema eleitoral deste ano? Começando pela comida no prato. A Amazônia é a fábrica de chuvas do Brasil. Pesquisas científicas já mostram como o desmatamento está reduzindo a precipitação nas principais áreas agrícolas do Brasil, ameaçando redução nas safras e aumento nos preços dos alimentos. A última crise hídrica do final do ano passado já deu um aperitivo disso. Além de garantir a comida no prato do resto do Brasil, a floresta também provê a mesa da população local com itens básicos e tradicionais como peixe, farinha, açaí, pimenta, palmito, etc. A crise hídrica também mostrou como a Amazônia gera as chuvas que alimentam as turbinas das nossas hidrelétricas, evitam a ligação das termelétricas e mantém a conta de luz sob controle.

Seguindo em nossas lista de preocupações do eleitor, para o Brasil gerar empregos em quantidade e qualidade para dar um futuro melhor para nossos jovens, a floresta Amazônia é praticamente nossa única esperança. A Amazônia é o nosso grande diferencial no resto do mundo. Com a floresta, podemos criar produtos únicos, capazes de competir nos mercados globais. Com o cacau da Amazônia, já há produtores fazendo alguns dos melhores chocolates do mundo. Grandes empresas de cosmética e higiene pessoal exportam produtos com ingredientes únicos da floresta. Nossa biodiversidade é uma fonte inesgotável de produtos e marcas sem igual no planeta. A madeira do Brasil foi praticamente proscrita dos mercados globais, por causa da má fama trazida pela exploração ilegal. Mas o uso sustentável pode abastecer os mercados do mundo, de forma inesgotável, gerando mais renda e empregos por hectare do que qualquer outra atividade econômica.

Finalmente, se mostrarmos que estamos fazendo nosso dever de casa para voltar a reduzir o desmatamento na Amazônia, abriremos o cofre do investimento internacional. A maior ameaça à humanidade (depois apenas do arsenal nuclear russo) são as mudanças climáticas. O maior fator isolado no planeta para para segurar o aquecimento global é a manutenção da floresta amazônica. Os países estão dispostos a pagar por isso. O maior programa do mundo de transferência de dinheiro para um país se desenvolver e preservar é o Fundo Amazônia, que foi suspenso pelo governo atual. Todos os outros grandes fundos de ajuda multilateral estão condicionados à redução das emissões. Nós conseguimos reduzir 80% do desmatamento entre 2008 e 2012 enquanto o PIB do Brasil cresceu como nunca e nossas exportações agrícolas idem. Temos tudo para fazer melhor agora.

Além disso, a forma mais eficiente e barata para tirar carbono da atmosfera é plantar árvores. A Amazônia brasileira tem o maior e melhor estoque de terras disponíveis para isso. De tudo que foi desmatado, cerca de 90% está abandonado ou subutilizado. Essa terra ensolarada, equivalente a área da Alemanha, é vista como o melhor negócio para as empresas reflorestarem e ganharem créditos de carbono. A gente só precisa criar condições de segurança para isso.

Segurança, por sinal, é uma preocupação importante do eleitor brasileiro depois da economia. Com razão. Diante da falta de governo na região nos últimos anos, a Amazônia foi invadida pelos bandidos. As grandes facções criminosas do Sudeste criaram bases na Amazônia e hoje dominam as rotas de tráfico internacional por lá. Essas quadrilhas também estão ligadas ao garimpo clandestino em terras indígenas, à madeira ilegal e ao roubo de terras públicas (também conhecido como grilagem), maior causa do desmatamento na região. Por causa disso, a violência explodiu na região. Se a Amazônia fosse um país, estaria em quarto lugar no ranking mundial de assassinatos. Precisamos restabelecer a ordem nessas áreas, sob o risco de termos em breve grandes territórios fora de controle, que ameaçam a integridade de todo o país, como já aconteceu na Colômbia e agora ocorre no México.

Por tudo isso, a Amazônia precisa estar no centro do debate eleitoral. É por isso que estamos lançando a campanha Amazônia no Centro (amazonianocentro.org.br). A partir de agora até a votação, forneceremos informações e conhecimentos para o eleitor entender que deve escolher candidatos comprometidos com o desenvolvimento sustentável da Amazônia. Para garantir nossa recuperação econômica no presente e o nosso progresso no futuro.

Este artigo foi publicado, originalmente, na coluna Ideias Renováveis, da Exame.

Imagem: depositphotos

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