Por que é tão difícil juntar os pontos do clima?

Mais um verão extraordinariamente quente em curso no hemisfério norte. Incêndios florestais nos Estados Unidos, no Canadá e em vários países da Europa, deixando um rastro de mortes e destruição. Onda de calor estourando os termômetros. O que mais poderíamos esperar? Estamos vivendo a escalada do aquecimento global. O ano de 2014 bateu o recorde histórico de calor. Depois 2015 bateu de novo. E 2016 bateu mais uma vez. Depois dessa escalada, o ano seguinte foi mais frio. Sob efeito do fenômeno cíclico La Niña, que esfria o Oceano Pacífico, o coração do clima do planeta, o ano de 2017 interrompeu a sequência de recordes. Foi apenas o terceiro ano mais quente da história! Agora entramos em 2018 com o aquecedor a toda outra vez. As ondas de calor e os incêndios inspiraram a capa desta semana na influente revista britânica The Economist. A edição liga os pontos, mostrando como o aquecimento global descontrolado que estamos nos auto-inflingindo só poderia gerar esse tipo de tragédia.

Décadas de negociações internacionais penosas apenas produziram um Tratado de Paris que é, segundo cientistas, incapaz de manter a temperatura da Terra dentro do limite teoricamente seguro de 2 graus centígrados de aquecimento. É um número arbitrário. No fundo, como os gases de efeito estufa ficam na atmosfera por séculos, alterando o clima, e como as consequências são complexas, podendo provocar rupturas irreversíveis no equilíbrio natural, as emissões de carbono são como a fumaça do cigarro: não há níveis realmente seguros de consumo.

O Furacão Katrina, que atingiu os EUA em 2005, deixou um saldo de 1200 mortos e problemas econômicos até hoje não superados. Também fez parte do país e do resto do mundo acordar para os riscos das mudanças climáticas. Na esteira do furacão, o interesse público pelo tema cresceu. Os cientistas começaram a ser ouvidos. As empresas passaram a acelerar planos para reduzir suas emissões.

A onda de calor destrutiva deste ano também deveria provocar alguma elevação no interesse popular pelas mudanças climáticas. Principalmente nas regiões mais atingidas. Uma forma de tentar observar isso é pela quantidade de buscas pelo tema no Google. Mas uma pesquisa usando a ferramenta que mede isso, o Google Trends, parece mostrar que o interesse não esquentou com as temperaturas nas ruas desses lugares.

O gráfico acima mostra a curva de buscas pelo tema “global warming”, ou “aquecimento global” em inglês dentro do Google nos EUA. Apesar do calor que os americanos vivem agora e dos incêndios, não houve ainda um aumento sensível no interesse pelo tema. Podemos imaginar que é um fenômeno americano, onde a ciência virou uma questão partidária e os republicanos tendem a repudiar as evidências do aquecimento provocado pelos humanos. Mas algo parecido aparece na Espanha, um dos países com os piores incêndios florestais agora.

Curva de buscas por “cambio climatico”no Google da Espanha

As catástrofes ambientais infelizmente ainda são a mais poderosa ferramenta de convencimento para a necessidade de acelerar as medidas para conter as mudanças climáticas. Mas será que até elas estão perdendo sua capacidade para tirar nossa sociedade da inércia?

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