Tela do Futurômetro mostra o resultado instantâneo da enquete no CBUC (foto: Alexandre Mansur) Um dado intrigante que surgiu no último Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação, o CBUC, realizado em Florianópolis, entre 31 de julho e 2 de agosto. A organização do evento, da Fundação Grupo Boticário, fez uma pesquisa de opinião entre os participantes. É um grupo especial. Afinal, o congresso reuniu alguns dos principais ativistas e pesquisadores da conservação, além de centenas de profissionais dos órgãos de conservação e fiscalização de parques e reservas dos estados, além do ICMBio. A enquete apurou alguns hábitos pessoais, como uso de plásticos e envolvimento com a conservação para gerar um gráfico de respostas que indique as tendências daquele lugar: o Futurômetro. A enquete foi respondida por 448 dos participantes do IX CBUC. A maior parte das respostas revela, como era de se esperar, um alto grau de consciência ambiental e compromisso com práticas saudáveis de vida.
Uma das perguntas, porém, gerou um resultado interessante. Ao responderem a pergunta “Qual o tipo de combustível que você mais utiliza em seu veículo?”, cerca de 29% dos participantes revelaram usar combustíveis renováveis. Ou seja, responderam que usam etanol ou eletricidade ou que não usam veículo motorizado próprio. Isso significa que aproximadamente 70% da elite do conservacionismo brasileiro
queima combustível fóssil em seu veículo. Uma das pessoas responsáveis por auxiliar o preenchimento dos questionários disse que muitos dos respondentes disseram que usavam diesel. SUVs ou picapes a diesel, para ser mais exato. Pode ser que esse índice reflita a elevada proporção de agentes de parques ou de batalhões florestais, que andam de jipe por razões profissionais. Mas ainda assim é uma taxa alta de combustível fóssil.
Quem está envolvido com meio ambiente no Brasil pode ser dividido em dois grandes grupos: a turma das mudanças climáticas e a da conservação. Embora algumas pessoas e instituições atuem nos dois campos, são duas turmas bem diferentes. Os ativistas do clima muitas vezes vêm da área de negócios, vários trabalham em empresas. É comum encontrar quem têm formação em física ou alguma outra ciência equivalente. Predominam os argumentos científicos e econômicos em seus discursos. Já a galera da conservação tem uma alma mais hippie. Um grande número vem da biologia, da engenharia florestal ou de áreas próximas. Falam do valor intrínseco, da beleza dos ecossistemas e da biodiversidade, e de como uma experiência emocionante numa reserva natural pode transformar nossa vida. Talvez essa diferença de perspectiva entre esses grupos ajude a explicar a resposta no CBUC. Ou talvez seja outro fator. Provavelmente, os dois grupos precisam conversar mais.