A pandemia mostrou como a falta de infraestrutura básica agrava as crises humanitária e econômica. Como podemos nos preparar?
O Brasil vive a fase mais aguda da pandemia. Recordes de mortes, colapso nos hospitais, cenas de horrores nas UTIs, sofrimento, comércio fechado, prejuízo para as empresas e perspectivas de que o cenário pode ficar ainda pior se medidas urgentes não forem tomadas. Na região Norte, a situação é ainda mais grave, um reflexo da baixa qualidade dos serviços e falta de infraestrutura na região.
A Amazônia tem os piores indicadores de qualidade de vida, e isso fica mais evidente quando o país todo está sob pressão pela pandemia. Postos de saúde, hospitais, água tratada, saneamento básico, transporte para levar vacinas, galões de oxigênio, profissionais e doentes. Tudo isso ainda falta nos estados cujos sistemas de saúde foram os primeiros a colapsar. Isso sem falar na falta de infraestrutura de energia, que causou blecautes no Acre e no Amapá.
Um grupo de organizações e associações do Brasil se organiza para exigir medidas emergenciais nas próximas semanas. A ideia é chamar atenção para a necessidade de uma série de medidas contra a pandemia, como mais vacinas, auxílio emergencial maior e lockdown nacional durante o mês de abril. Todas têm uma coisa em comum: o Brasil precisa de mais infraestrutura. Sem ela, todos os setores perdem.
O pano de fundo da campanha é a precariedade geral do país para enfrentar a crise de saúde e de economia e a mobilização mostra o papel fundamental das organizações não-governamentais, que representam a vontade da sociedade, para organizar momentos próprios e fazer o que os governos ou empresas não fazem.
Está na hora de usarmos esse momento crítico e prestar atenção no que ele revela. Precisamos aproveitar a indignação e transformar o sofrimento em ação. Para isso, a população é fundamental em seu poder de pressionar os gestores públicos eleitos e os legisladores. Cobrar deles medidas para melhorar a qualidade de vida das pessoas, em todo o país.
A pandemia mostrou, claramente, que, mais do que grandes obras faraônicas de infraestrutura, as pessoas da região Norte precisam de projetos mais fundamentais, que sejam pensados para as pessoas que vivem nas regiões onde eles serão implantados. São as infraestruturas básicas que dão condições para que as pessoas enfrentem os momentos mais difíceis.
Essa crise sanitária é só um exemplo. “Tudo o que a gente pede ajudaria as populações, especialmente de comunidades mais vulneráveis, a atravessarem esse momento com menos dificuldades, o que, certamente, significaria menos vítimas fatais”, afirma Sérgio Guimarães, secretário executivo do GT Infraestrutura, uma rede com mais de 40 organizações que trabalham para garantir que os projetos sejam pensados para a Amazônia e não apenas na Amazônia.
Precisamos identificar casos exemplares de outros países que estão atravessando esse momento com menos perdas humanas e econômicas. Se olharmos para os melhores exemplos, todos eles investiram, antes, em infraestrutura. “A pandemia veio evidenciar os nossos graves níveis de desigualdade. Não podemos sair da crise sanitária e voltar para essa outra, porque já ficou claro que ela só dificulta as coisas, em qualquer cenário”, afirma Glaucia Barros, diretora programática da Avina Brasil, uma das organizações que estão à frente da mobilização para exigir uma gestão mais responsável da pandemia.
Essa união das organizações da sociedade civil é um dos caminhos para essa mudança, uma construção que deveria ficar para além da pandemia. “Nosso papel é escutar as dores da população e procurar traduzir isso numa política de gestão da crise para aqueles atores que podem e devem fazer alguma coisa. O objetivo de todo esse esforço agora tem que estar, além de fazer mais robusta essa infraestrutura cívica, informar sobre as prioridades de agenda no médio e longo prazo”, destaca Glaucia. Esse é o assunto do décimo episódio do podcast Infraestrutura Sustentável, do qual ela é a convidada.
A pandemia é uma tragédia nacional. Está nos jogando numa recessão. Reduzindo a renda da população. Gerando insegurança nos investidores e consumidores. Mas se aprendermos com o que ela revela, construiremos um país mais resiliente para os negócios e melhor para os brasileiros.
Esse texto foi escrito por Angélica Queiroz e Alexandre Mansur e publicado na coluna Ideias Renováveis, da Revista Exame.
Foto: Projeto Asas de Emergência, do Greenpeace, transportou mais de 63 toneladas de equipamentos e insumos de saúde para populações indígenas da região Norte (Greenpeace/Divulgação)