Iniciativa ajuda a identificar se produção de carne bovina causou desmatamento na Amazônia

Pelo segundo ano, indicador Radar Verde vai revelar se frigoríficos e supermercados conseguem aplicar políticas ambientais na cadeia produtiva

por Bruna de Alencar

As empresas frigoríficas e varejistas do Brasil serão convidadas novamente esse ano para participar do novo ciclo de pesquisa do Radar Verde, indicador público de transparência e controle da cadeia de produção e comercialização de carne bovina no país, com o objetivo de identificar a origem da carne na Amazônia Legal e o quanto essas empresas conseguem aplicar políticas contra o desmatamento. O segundo ciclo da pesquisa foi lançado nesta quarta-feira (28/6) em evento online no Youtube.

A Amazônia concentra 43% do rebanho bovino do Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e, atualmente, a criação de gado é o principal motor do desmatamento nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e Maranhão. Cerca de 90% da área total desmatada na região está coberta por pastos e mais de 90% dos desmatamentos novos são ilegais.

Em 2022, o Radar Verde convidou 90 frigoríficos e 69 redes varejistas a comprovar que suas políticas garantem que a carne que compram e vendem não está associada ao desmatamento na Amazônia. Nenhuma delas demonstrou como evita o desmatamento na cadeia. Apenas 5% das empresas aceitaram participar e nenhuma autorizou a divulgação de sua classificação final. O resultado revela o status do setor no Brasil. É o único indicador independente. Para 2023, a Metodologia da pesquisa apresenta novidades, como a identificação do Grau de Exposição ao Risco de Desmatamento, no caso dos frigoríficos, e do Grau de Transparência Pública, tanto para frigoríficos quanto para varejistas.

O Grau de Exposição ao Risco de Desmatamento é uma metodologia desenvolvida pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) que, baseada em informações sobre o local onde o gado é adquirido, existência de vias terrestres ou fluviais, distância da fazenda, entre outros, mede o grau de exposição ao desmatamento de cada frigorífico da região. Já o Grau de Transparência Pública vai considerar se as informações disponibilizadas no site das empresas revelam a política de controle do desmatamento na cadeia da carne e qual a eficácia dessa política, identificada por meio de auditorias independentes. Por isso, mesmo as empresas que não responderem à pesquisa Radar Verde 2023, que avalia o Grau de Controle da Cadeia, serão avaliadas e classificadas de acordo com os dados públicos disponíveis.

Lançamento 2023

O Radar Verde é uma iniciativa conjunta do Imazon e do Instituto o Mundo Que Queremos. O lançamento do segundo ciclo da pesquisa contou com a participação especial da superintendente de Gestão Ambiental da Reitoria da Universidade de São Paulo (USP), Patrícia Iglecias, do ex-presidente do Banco Central e signatário da Convergência pelo Brasil, Gustavo Loyola, e do professor, climatologista e renomado cientista brasileiro, Carlos Nobre.

Patrícia Iglecias destacou a importância de dar visibilidade para as empresas comprometidas com o combate ao desmatamento na Amazônia Legal. “Isso é não só desejável, mas impositivo no momento atual”, afirmou. “A criação e divulgação de um indicador é fundamental para orientar os stakeholders em relação ao comprometimento dos frigoríficos e dos varejistas. É importante que esse tipo de avaliação seja feito por uma instituição independente”, completou Gustavo Loyola. “A gente torce muito para que a pecuária se torne cada vez mais verde, porque hoje ela não é”, provocou Carlos Nobre. 

 

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