Aceleradora divulga finalistas em seleção que apoia negócios inovadores e sustentáveis para a Amazônia

Grupo de empreendedores se reúne em outubro, em Manaus, para imersão de atividades voltadas a desenvolver plano de negócio e tese de impacto socioambiental 

POR AMAZ,  PARA COALIZÃO VERDE (1 PAPO RETONEO MONDO E O MUNDO QUE QUEREMOS)

A AMAZ aceleradora de impacto promoverá, de 16 a 20 de outubro, em Manaus (AM), uma jornada de imersão de empreendedores de nove negócios que atuam com soluções inovadoras para o desenvolvimento de produtos e serviços em cadeias de valor estratégicas para a conservação da Amazônia. Trata-se de um processo de pré-aceleração, em que eles irão desenvolver planos de negócios e uma tese de impacto socioambiental na região. O desempenho dos negócios nesse período definirá aqueles que serão acelerados e receberão investimento em 2024. 

A pré-aceleração se inicia com o encontro presencial e prossegue ao longo de um mês, virtualmente, com acesso a assessorias, mentorias e apoio técnico da equipe da AMAZ e do Idesam (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia). “Essa é a etapa final do processo de seleção, mas é também onde começamos a entender as necessidades dos negócios para traçar a jornada da aceleração para aqueles que forem selecionados. Todos os 9 que chegaram até aqui receberão nosso apoio durante um mês na fase de pré-aceleração, o que os qualifica para buscar novos apoios ou ingressar em outros processos de aceleração, como também no desenho de suas teses de impacto”, explica Rafael Moreira Ribeiro, responsável pela seleção de negócios da AMAZ. 

De um total de 112 inscritos, os nove negócios são finalistas da Chamada 2023 e trabalham nas áreas de reflorestamento e produção agroflorestal, agricultura, pecuária e produção rural sustentável, produtos da sociobiodiversidade e cosméticos. As iniciativas estão localizadas nos estados do Pará, Amazonas, Amapá, Maranhão, São Paulo e em Santa Mônica, na Califórnia (EUA). A Chamada 2023 possibilitou a inscrição de negócios cuja atuação se dá na Amazônia Legal, mas que poderiam também estar baseados em outras regiões do país. 

A seleção da AMAZ teve o olhar focado em negócios em estágio inicial (“early stage”) que tenham já validado seu produto ou serviço no mercado e de preferência já estejam faturando mais de R$ 500 mil por ano.  A maioria dos negócios está em fase de tração e organização. Alguns empreendimentos em estágios anteriores foram selecionados pela apresentação de soluções inovadoras e com potencial de ganhar escala pós-aceleração. Os empreendimentos selecionados para aceleração e investimento em 2024 serão anunciados em dezembro. 

 Conheça os negócios selecionados para a pré-aceleração

Amaz amazon Super Plants – Atua com a criação de bebidas feitas com ingredientes sustentáveis que contribuem para a regeneração do planeta e para o bem-estar das pessoas. A startup foi construída em torno da Agrofloresta Regenerativa e do apoio à biodiversidade na Floresta Amazônica, utilizando ingredientes como erva-mate, Raiz de Suma, cogumelos da Floresta Yanomami e casca de Muirapuama e guaraná. Está sediada em Santa Mônica, Califórnia (EUA).  

 Apoena – Busca melhorar as condições de trabalho das quebradeiras de babaçu, aumentar o potencial econômico e mercadológico do Coco Babaçu e a geração de renda das pessoas envolvidas. Atua no estado do Maranhão. 

 BioAmazon – Empresa de base tecnológica com foco no desenvolvimento de novos bioinsumos para o agronegócio. Disponibiliza a seus clientes uma plataforma de Bioprocesso como um Serviço (BPaaS). Busca entregar ao agricultor rural praticidade e segurança na produção dos microrganismos por meio da produção própria de bioinsumos. Local de atuação: estado do Amazonas. 

 Flor da Samaúma – Atua em bioeconomia e ecoturismo e busca a ampliação da capacidade produtiva de vinhos de açaí, cupuaçu e taperebá na fazenda em que está instalada uma vinícola desses produtos. Local de atuação: estado do Amapá. 

Zeno Nativo – Produção de amêndoas de cacau nativo fino e castanhas do Pará de alta qualidade.  O projeto busca expandir a produção e venda de amêndoas de cacau e castanhas. Local de atuação: estado do Pará. 

 ATLAS Florestal – Empresa de restauração florestal produtiva. Planeja, modela, implanta e monitora florestas produtivas, com um conselho técnico multidisciplinar capaz de desenvolver ações regenerativas e personalizadas. Atua em toda cadeia da restauração florestal e agroflorestas. Está sediada no estado de São Paulo. 

 Coordenada Rural – Consiste na proposta de atendimento socioprodutivo a agricultores familiares que possuem no cultivo do cacau em Sistema Agroflorestal e bovinocultura dupla aptidão como suas principais fontes de renda, a fim de possibilitar a execução de ações que visam à melhoria da qualidade de vida com o aumento da produtividade e geração de renda aos produtores rurais. Local de atuação: estado do Pará. 

 FarFarm – Consultoria que ajuda empresas a potencializarem suas cadeias produtivas como protagonistas das marcas, por meio de relacionamento com comunidades da Amazônia. Local de atuação: estados do Pará e Mato Grosso. 

 MOMA – Cosméticos naturais elaborados com insumos de óleos amazônicos e embalagens 100% compostáveis, que buscam fortalecer suas cadeias de valor através do comércio justo e capacitação de fornecedores. Está sediada em São Paulo. Locais de atuação: estados de Pará, Amazonas, Acre e Amapá. 

 Sobre a AMAZ  

A AMAZ aceleradora de impacto é coordenada pelo Idesam , e conta com um fundo de financiamento híbrido (blended finance) de R$ 25 milhões para investimento em negócios de impacto nos próximos cinco anos, o primeiro voltado exclusivamente para a região.    

 Tem como fundadores e parceiros estratégicos Fundo Vale, Instituto Humanize, ICS (Instituto Clima e Sociedade), Good Energies Foundation, Fundo JBS pela Amazônia e PPA (Plataforma Parceiros pela Amazônia). Conta também com uma ampla rede de parceiros como Move.Social, Sense-Lab, ICE, Climate Ventures, SBSA Advogados, Mercado Livre, Costa Brasil e investidores privados.   

Fotos: divulgação AMAZ

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Sistemas agroflorestais incentivam agricultores familiares do Pará a conservarem a Amazônia

Projeto Acelerador de Agroflorestas e Restauração possibilita transformar áreas improdutivas ou degradadas das propriedades de agricultores familiares, das regiões Nordeste e Sudeste do Estado, em fonte de renda

POR – REDAÇÃO O MUNDO QUE QUEREMOS,  PARA COALIZÃO VERDE (1 PAPO RETONEO MONDO E O MUNDO QUE QUEREMOS)

Cacau, açaí, cupuaçu, cajá, acerola, cumaru e andiroba. Em um sistema agroflorestal, também conhecido pela sigla SAF, várias espécies como essas essas convivem juntas, ajudando a recuperar áreas degradadas na região amazônica. O modelo, que é um exemplo de como restaurar a floresta e, ao mesmo tempo, diversificar a produção e aumentar a renda das famílias, é incentivado no Pará pelo Projeto Acelerador de Agroflorestas e Restauração. Lançado em 2021, a iniciativa vem sendo implantada no Sudeste do Pará, pela The Nature Conservancy (TNC) Brasil, e no Nordeste do estado pelo Centro de Pesquisa Florestal Internacional e Centro Internacional de Pesquisa  Agroflorestal (CIFOR-ICRAF Brasil).

“Numa região onde a atividade principal ainda é a pecuária extensiva, logo o pasto fica degradado e a renda é prejudicada. Mas, com a implementação do SAF, é possível recuperar essas áreas, ser mais produtivo, contribuir com o meio ambiente e ganhar mais dinheiro”, explica Clarismar Oliveira, coordenador de Adesões e Relações Institucionais da TNC Brasil, que trabalha na implementação do projeto. Ele explica que os sistemas agroflorestais ajudam as pequenas propriedades a se tornarem sustentáveis, tanto do ponto de vista ambiental quanto econômico.

No SAF, são introduzidas, além das plantas de roça, espécies florestais. Além de aumentar a floresta e a variedade de plantas, o que significa mais equilíbrio para a natureza e para o clima, esse modelo traz vantagens diretas para a família porque gera renda em vários períodos diferentes. “No começo, com o plantio de espécies de roça, depois, com espécies como maracujá e pimenta; em seguida com cacau e açaí; e mais na frente ainda pode gerar renda se forem plantadas espécies madeireiras para manejo. Isso sem falar de todos os alimentos para a família e de trabalhar em um ambiente mais agradável, na sombra, por exemplo”, explica Jimi Amaral, coordenador de Transição Agroecológica do CIFOR-ICRAF Brasil.

O projeto ainda viabiliza mecanismos para a participação desses produtores no mercado de créditos de carbono florestal, que também traz retornos financeiros. “As árvores captam o carbono que está no ar e fixam na madeira, tirando esse carbono ruim da natureza. Muitas empresas têm interesse em comprar esse carbono para cuidar do meio ambiente. O projeto Acelerador traz para os agricultores essa certificação para que eles possam se beneficiar da venda de créditos de carbono”, explica Jimi Amaral. “Cada dia mais o apelo ambiental se faz presente e o mercado de carbono é muito promissor, tanto para renda quanto para ajudar a mitigar o problema das mudanças climáticas”, complementa Clarismar Oliveira.

Os produtores que começaram a trabalhar com o modelo já estão experimentando mudanças, não só do ponto de vista ecológico e financeiro, mas também de mentalidade. Dono de uma pequena propriedade em Tucumã, José Alcides, 63 anos, conta que sua intenção inicial era criar gado, mas se apaixonou pelo cultivo de cacau e, ao conhecer o sistema agroflorestal, descobriu que a diversidade de espécies era melhor não só para o bolso, mas que também trazia resultados ambientais visíveis. 

“Hoje tenho seis corredores ecológicos, com várias nascentes de água e já vejo resultado na melhoria da vegetação. Os pássaros chegaram e, junto com eles, vários animais, como jacu, garça, jacaré, capivara, jabuti, macaco e tatu. É um relacionamento fantástico com a natureza”. Pai de três e avô de cinco, José se sente colaborando também para o futuro de seus descendentes e faz questão de dividir com eles o que aprendeu. “A questão climática é algo visível para quem já viveu tanto tempo quanto eu e faço questão de conscientizar a todos. Quando a gente trabalha com a terra tem que pensar no longo prazo”, afirma. 

O que são os SAFs?

Os Sistemas Agroflorestais ou agroflorestas (ambos chamados de SAFs) são uma forma de uso do solo que combina em uma mesma área e por determinado tempo, o cultivo de espécies arbóreas, arbustivas, frutíferas, hortícolas, madeiráveis ou adubadeiras. Nos SAFs, é possível ter diversos tipos de plantios, como mandioca, açaí e cacau, juntamente com árvores, arbustos e palmeiras. Trata-se de uma forma de manejo que também pode ser usada para recuperar áreas degradadas ou improdutivas, pois ao combinar diferentes plantas promove-se uma interação positiva (biodiversidade) que  recupera o solo, com a retenção de mais água e nutrientes, além de possibilitar uma produção diversificada ao longo do ano, entre outros benefícios. Com o tempo, a área garante mais oportunidades de comercialização e renda. Os Sistemas Agroflorestais também ajudam a mitigar os impactos negativos das mudanças climáticas e, ao longo do tempo, podem gerar créditos de carbono. 

O que são créditos de carbono?

O crédito de carbono funciona como uma moeda de troca que objetiva compensar a quantidade de gases do efeito estufa, principalmente o gás carbônico (CO2) liberado na atmosfera por atividades humanas, como por exemplo a queima de combustíveis fósseis e outras práticas industriais. Árvores possuem a capacidade de retirar CO2 da atmosfera através da fotossíntese, transformando-o em carbono, que compõe toda estrutura da árvore, como na madeira de galhos, troncos e raízes. Através dos créditos de carbono, é possível que empresas dispostas a compensar suas emissões apoiem  projetos de plantios de árvores visando a retirada do CO2 da atmosfera, o que colabora na mitigação dos impactos negativos do aquecimento global, além de ser uma oportunidade de apoio para produtores(as) rurais e agricultores(as) familiares que venham a participar de tais projetos. 

Foto: divulgação CIFOR-ICRAF

 

Salvador (BA) sedia a II Conferência Oceânica do Brasil

POR – REDAÇÃO NEO MONDO, ESPECIAL PARA COALIZÃO VERDE (1 PAPO RETONEO MONDO E O MUNDO QUE QUEREMOS)

Salvador sediará pelo segundo ano a Conferência Oceânica do Brasil. O evento acontece de forma gratuita, nos dias 06 e 07 de setembro, no teatro da Universidade Estadual da Bahia (Uneb), das 09 às 17h.

A Conferência esta inserida dentro da programação do X Festival das Baleias, que acontece de 06 a 10 de setembro na capital. O objetivo é mobilizar a sociedade civil sobre a Cultura Oceânica, Eventos climáticos e Racismo Ambiental.

Promovido pelo Instituto Redemar Brasil, essa Conferência contará com a participação de cientistas, membros das organizações do clima e meio ambiente do Brasil, estudantes, professores e a sociedade civil interessada nos problemas dos oceanos.

Serão abordados temas como: Oceano enquanto Agenda Política, Pesca Sustentável e Gestão de Recursos Pesqueiros, Gestão e Certificação de Praias, Turismo Sustentável em Ambiente Marinho e Planos Municipais de Gerenciamento.

A curadoria dessa Conferência é de responsabilidade de William Freitas, um ativista ambiental e presidente do Instituto Redemar Brasil (instituição cuja as frentes de trabalho estão voltadas às ações de preservação e educação ambiental).

“É preciso impulsionar os diálogos sobre a vida e a preservação dos oceanos. Trazer para Salvador uma conferência como essa, já é um privilégio. Aqui estarão os grandes nomes da ciência e representações ligadas ao meio ambiente e clima. Por isso, é importante a participação de todos, para que juntos possamos entender, dialogar e fomentar políticas públicas de sustentabilidade oceânica”, disse William Freitas.

Na Conferência os diálogos terão como moderadores nomes já conhecidos dentro da comunidade científica, acadêmica e social brasileira como: Simone Siag Oigman Pszczol, a cientista do Instituto Brasileiro de Biodiversidade, Helio Valdinei Coelho, secretário de biodiversidade da prefeitura do Rio de Janeiro, Carmynie Barros, mestre em desenvolvimento rural e sustentabilidade, Maurício Bacelar, secretário estadual de Turismo do Estado da Bahia, Vitor Bandeira, coordenador Projeto Baleias Soteropilitanas, Rosario de Almeida, educadora ambiental, entre outros nomes do país.

Contempla nas ações do X Festival das Baleias, atividades de educação ambiental na praia de Piatã e uma expedição a bordo do Catamarã para avistagem de baleias na costa soteropolitana.

Para o encerramento das atividades no dia (10), haverá shows de atrações musicais.

A Conferência conta com o apoio do Governo do Estado da Bahia através da Secretaria de Turismo e Meio Ambiente, UNEB, Federação das Industrias do Estado da Bahia (FIEB), A Secretaria Municipal de Sustentabilidade, Inovação e Resiliência( SECIS), Universidade Federal de Alagoas, Laboratotio de Itiologia e Conservação, UNB GERM, UNIFSP Mare de Ciências, Projeto Voz dos Oceanos, Anamma, Museu do Mar, IF Baiano, ICMBio.

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Foto: divulgação

Qual é o lugar da Amazônia na maior feira de carne do Brasil

Fomos à maior feira de negócios de proteína do animal do país, a TecnoCarne, para saber se e como os profissionais relacionam a pecuária com o desmatamento

No início dos anos noventa, se alguém fosse às ruas perguntar para as pessoas se o desmatamento que começava a crescer desenfreadamente no Brasil estava relacionado à pecuária praticada na época, certamente a resposta seria não. Três décadas depois, essa relação é bastante direta e estabelecida. Especialmente na Amazônia Legal, onde estão 4 de cada 10 das mais de 224 milhões de cabeças de gado do país, que hoje é o maior exportador de carne bovina do mundo. Pastos para o gado cobrem cerca de 90% da área total desmatada e mais de 90% do desmatamento total é ilegal, segundo dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Ou seja, a carne e os subprodutos que saem da região, comercializados em território nacional e em outros países, podem estar relacionados à destruição da floresta amazônica.

Mas, para quem é ou transita pela cadeia da carne, qual é a relação entre o desmatamento da Amazônia e a pecuária? Essa foi a principal pergunta que fizemos a participantes da TecnoCarne, a maior feira do setor de proteína do Brasil, realizada na última semana de junho, em São Paulo.

Com palestras e estandes cheios, o evento reuniu visitantes de todos os tipos, desde consumidores de carne a curiosos sobre as novas tecnologias do setor e empresários do ramo. Aproveitamos a movimentação para entender como as pessoas que circulam por este universo enxergam espontaneamente o desafio ambiental da pecuária em relação ao desmatamento da floresta amazônica. As respostas delas são um bom termômetro do que o próprio setor pensa sobre o assunto.

Diante de tantas evidências, alguns participantes da feira reconhecem que desmatamento na Amazônia e pecuária estão, de fato, diretamente associados. “Existe uma relação entre o desmatamento na Amazônia e a pecuária”, disse a nutricionista Diva Rauen. A estudante Victória Gomes, complementa: “Desmatam a floresta e fazem uma produção em massa para criar gado”.

Há também quem compreenda a gravidade da questão para o próprio setor. O churrasqueiro Alexandre Minamitani levanta, por exemplo, um ponto ligado à rastreabilidade da carne. Hoje em dia muita gente tem falado de sustentabilidade, muito por conta dos movimentos vegano e vegetariano esse assunto está vindo mais à toa. Antigamente esse não era um assunto tão relevante e hoje percebo que a sociedade está mais atenta. Infelizmente, não vejo muita gente comentando sobre isso. As pessoas compram carne e não sabem a procedência, não sabem de onde vem, nem o que o animal passou”, disse.

No Brasil, as empresas da cadeia de carne bovina, principalmente as que estão em atividade na Amazônia, são resistentes em revelar informações das etapas de produção, embora a região concentre 43% do rebanho bovino do país, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Um sinal disso é  o resultado  do primeiro ano do Radar Verde, primeiro indicador de transparência da cadeia produtiva da carne.

Por outro lado, apesar das evidências, vários entrevistados na feira afirmaram que não existiria relação relevante entre desmatamento e pecuária. “É um equívoco enorme [relacionar desmatamento na Amazônia e pecuária], porque é uma mata que se regenera. Na verdade o que é existe é a falta do pessoal pegar um voo São Paulo – Miami (EUA) durante o dia e ver o tamanho que a Amazônia é, você fica simplesmente sobrevoando, no mínimo, 1h30 de pura mata. Hoje em dia, é bom defender uma causa como essa na Europa e em alguns outros países, mas aqui isso não é verdade”, disse o gerente da América Latina de uma empresa que atua no setor da carne. “Se olharmos a parte legal, uma coisa não tem relação com a outra”, disse um pesquisador da cadeia.

Alguns até afirmam que o assunto não passa de “uma polêmica midiática”. “Tem muito de uma mídia jogando contra [a pecuária]. Acho que tem outros fatores de desmatamento, vejo que até o tráfico de drogas tem a ver com isso, então não é só a pecuária que está contribuindo com isso, eu acredito que não. Sem falar da agricultura, que está desmatando para ter mais área para plantio”, disse um cozinheiro que assistia a uma palestra sobre a cadeia.

Cerca de 21% da Amazônia já foi desmatada, uma área de mais de 830 mil km2, equivalente quase ao tamanho da Alemanha e da França juntas. Pelo menos dois terços da cobertura florestal remanescente – aquela que se vê do avião – já não é mais floresta intacta. São áreas que tiveram exploração predatória de madeira, algum tipo de fogo e abertura de estradas. Podem estar no início do processo de desmatamento. E boa parte dessa devastação ocorre em terras que não são propriedade privada, mas sim florestas públicas. Essa destruição foi impulsionada, principalmente, pela falta de fiscalização, grilagem e avanço de áreas de pastagem.

Mesmo as pessoas que conseguem estabelecer a relação entre a pecuária e o desmatamento escorregam em algumas desinformações. A primeira delas é que o desmatamento ocorreria para plantio de ração para o gado. “Eu acho que acabam desmatando mais na produção do alimento do animal”, disse uma estudante. A ideia a qual ela se refere é que desmataria-se para plantio de ração – baseada em outras culturas, como milho e soja, como acontece em países onde o gado vive confinado. Na Amazônia, isso não existe. O gado é criado pastando diretamente o capim plantado.

Pouca gente sabe que um  dos principais fatores que levam ao desmatamento da Amazônia é o roubo de terras públicas. A região é vista historicamente como território a ser ocupado e explorado e não para ser desenvolvido. Hoje, o maior obstáculo para uma pecuária produtiva e lucrativa na região amazônica é a competição desigual com a criação de gado para grilagem. Quem adota técnicas de melhoria do solo para aumentar a concentração de cabeças de gado na propriedade legal precisa competir com outros que plantam capim sobre as cinzas nutritivas de florestas públicas invadidas e queimadas ilegalmente.

Na prática, a cadeia da grilagem na Amazônia funciona da seguinte maneira: invasores ocupam florestas públicas para roubar madeira, ouro e fazer especulação imobiliária. Na tentativa de maquiar os crimes e regularizar uma terra roubada, usam gado para preencher a área invadida. Eles espalham os bois o máximo possível, ocupando o espaço desmatado. O gado criado nessas áreas ainda entra na cadeia de produção e passa a ser vendido para grandes frigoríficos do Brasil, sujando a imagem da pecuária nacional e internacionalmente. E financiando os criminosos.

Neste sentido, muitos participantes da feira entendem que o desmatamento está associado a uma parte da pecuária, mas não conseguem ver uma alternativa. Para eles, é necessário abrir espaço novo para mais pastos e atender à crescente demanda. “O boi precisa de muito espaço para crescer e, por isso, usam da má fé para desmatar e abrir pasto. Muitas empresas são conscientes, mas muitas outras fazem ilegalmente, e é onde acontece aqueles grandes buracos na floresta amazônica”, disse a nutricionista Diva.

“Não tenho um conhecimento total [sobre o assunto], mas acho que uma parte sempre tem relação com a outra, porque a América Latina é um continente posicionado como um dos principais provedores de alimento do mundo e para criar proteína animal precisa-se de espaço”, disse o gerente de uma empresa que atua na cadeia da carne no Brasil e países vizinhos.

“Existe uma relação muito incisiva, porém quando pensamos que os animais precisam de rações ali, isso traz uma demanda por mais espaço e, para isso, acaba-se desmatando. A consequência disso é a retirada de algumas árvores da região amazônica”, disse o sócio de uma grande corporação que investe em empresas da cadeia da carne.

Para alguns, o desafio não é ambiental, mas garantir a alimentação de todo o planeta. “A indústria da carne não está aqui para destruir nada, mas sim alimentar o mundo. Hoje o Brasil é o segundo do mundo em produção de proteína animal e abastece praticamente o mundo inteiro, estamos enquadrados em toda classe de exportação de proteína”, disse o gerente da América Latina de uma empresa que atua no setor da carne.

“Temos um crescimento muito grande da população mundial, chegando a quase 8 bilhões de pessoas e todas precisam de alimento. O problema raiz, ao meu ver, é o crescimento exponencial da população do mundo. Acho que o desmatamento é uma preocupação do setor sim, mas não tem como, tampouco ideias, de como frear o consumo, porque é da nossa natureza [comer carne]”, disse o gerente de uma empresa que atua na cadeia da carne no Brasil e países vizinhos.

Já para o sócio de uma grande corporação que investe em empresas da cadeia da carne o desafio ambiental é “não deixar que nós, consumidores, tenhamos carnes de baixa qualidade na mesa, o que tem muito a ver com o tratamento que é dado aos animais”.

Além disso, quem gostaria de ver uma solução para o problema acredita que a saída está necessariamente na redução do consumo de carne. “Acredito que o maior desafio ambiental da cadeia é fazer com que a população em geral diminua o consumo de carne, pelo menos duas vezes na semana.

Não precisa tirar toda a carne, mas dá para diminuir e equilibrar. Hoje em dia esse assunto está na mídia, então é possível. Como consumidora, eu acho que essa é uma preocupação para algumas empresas, mas infelizmente ainda não é para a maioria”, defende uma participante da feira.

Estudos mostram que não há relação causal entre o aumento na demanda de comida ou carne e o desmatamento. E que é possível produzir toda carne do mundo para atender a demanda dos brasileiro e para exportar sem desmatar. Ao contrário, reduzindo a área usada para pastagens hoje.

A própria Tereza Cristina, quando era ministra de uma gestão que não ficou famosa pela preocupação ambiental, declarou, em 2020, que: “A intensificação da produção de comida no Brasil para atender mercados internacionais é uma forma de otimizar o uso global de recursos naturais. Tudo isso sem ser necessário derrubar uma árvore sequer”.

Ao contrário do que muitos pensam, o Brasil não precisa desmatar mais para dar conta da crescente demanda por carne. Do total de 86 milhões de hectares desmatados, a pecuária ocupa 63 milhões de hectares, 73% do total. A segunda maior porção das áreas desmatadas – 15 milhões de hectares – é uma vegetação secundária que surge depois do abandono ou degradação dessas áreas pela pecuária extensiva. Estudo do projeto Amazônia 2030 mostra que essa imensa área de 84 a 86 milhões de hectares já desmatada pode abrigar toda a demanda projetada pelo próprio Ministério da Agricultura do governo brasileiro para a produção agropecuária até 2030.

Com um aumento de produtividade na pecuária, será possível atender essa demanda com menos área de pastagens, deixando um total de 37 milhões de hectares livres. Ou seja, ainda sobrariam áreas para outros usos, sobretudo para o promissor mercado de restauração florestal (plantio de árvores nativas em áreas desmatadas para recuperar a floresta original).

A diversidade de entendimentos mostra o quanto ainda é preciso fazer um esforço para levar todo o setor a compreender a natureza do desafio. Isso é fundamental para a defesa da própria agricultura do Brasil. Principalmente da pecuária, que é importante para nossa economia, empregos e exportação.

O agro faz parte da nossa história e de nossa identidade. Hoje o agronegócio está ligado é relevante para nossas exportações e para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Por isso, é importante estar a par do desafio e enfrentá-lo de verdade. Ao contrário do que muitos pensam, isso tornará o agro brasileiro mais forte.

Este artigo foi escrito por Camila Cecílio e Alexandre Mansur e publicado na coluna Ideias Renováveis, da Exame.

Foto: depositphotos

Seguradoras são pouco transparentes para divulgar critérios e práticas socioambientais

Conclusão é do terceiro ciclo do RASA e será apresentada em live em 31 de agosto

A falta de transparência na divulgação de critérios e práticas socioambientais é uma das conclusões do terceiro ciclo do Ranking de Atuação Socioambiental de Instituições Financeiras (RASA), que será divulgado no dia 31 de agosto, das 9h30 às 11h. Trata-se da primeira iniciativa já desenvolvida no Brasil para avaliar seguradoras (que, além de proteger atividades empresariais de riscos, são grandes investidoras) quanto a esses temas.

Para realizar esse levantamento, foram consultadas fontes públicas de informações sobre os itens avaliados na Metodologia do RASA com relação às 13 principais seguradoras em atuação no Brasil, incluindo sites, com suas políticas e relatórios, questionários CDP, formulários de referência CVM e também relatórios PRI (Principles for Responsible Investment) e PSI (Principles for Sustainable Insurance), quando existentes.

As informações coletadas foram enviadas para as seguradoras para que, caso tivessem informações adicionais que pudessem complementar o levantamento, as enviassem para eventual acréscimo na nota. As seguradoras tiveram três semanas para responder.

Os critérios de avaliação incluem: temas ASG abrangidos nas políticas, fontes de informação consultadas para avaliar riscos ambientais, sociais e climáticos, como isso influencia na gestão de investimentos e na definição da cobertura de riscos por seguros, grau de risco socioambiental e climático das carteiras de investimentos e ações de mitigação de riscos socioambientais e climáticos adotadas com relação às empresas investidas, oferta de produtos financeiros com impacto ambiental, social ou climático positivo, governança da sustentabilidade, entre outras. Mas, de modo geral, foram encontradas muito poucas informações.

Durante a apresentação do ranking que será feita em um evento online, no dia 31 de agosto, Luciane Moessa, Diretora Executiva e Técnica da Associação SIS (Soluções Inclusivas Sustentáveis), que coordena a iniciativa, vai explicar os resultados e debatê-los com um time de especialistas em sustentabilidade, alguns também com bastante expertise no setor financeiro. São eles: Tatiana Assali, Coordenadora Executiva da iniciativa Investidores pelo Clima (IPC); Alexandre Mansur, fundador do Instituto O Mundo que Queremos/Radar Verde; Carine Lacerda, Coordenadora de Iniciativa Redirecionamento de Investimentos do portfólio de Economia de Baixo Carbono, do Instituto Clima e Sociedade, e Letícia Lorentz, Coordenadora da Câmara Técnica de Clima do CEBDS.

Desenvolvido pela Associação Soluções Inclusivas Sustentáveis (SIS), o ranking que avaliou as seguradoras nesta fase também já analisou os dados dos bancos comerciais e dos bancos de desenvolvimento e agências de fomento. Os próximos ciclos vão contemplar entidades de previdência e gestoras de investimentos, além de uma nova rodada de avaliação dos bancos avaliados em 2022. O objetivo é fortalecer a agenda socioambiental e climática no setor financeiro, gerando uma competição positiva entre as instituições financeiras avaliadas.

As inscrições para o evento de apresentação do RASA, que será transmitido pelo canal do YouTube da SIS, podem ser feitas até 30 de agosto pelo e-mail: contato@sis.org.br.

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Cartões e maquininhas geraram mais de 15 mil toneladas de plástico nos últimos anos no Brasil, aponta estudo

Relatório “Dinheiro sem Plástico”, produzido pela agência O Mundo Queremos, aponta que o volume de resíduos da última década equivale a 14 vezes o peso do Cristo Redentor. Total de cartões poderia dar uma volta ao mundo se enfileirados

por Bruna de Alencar

SÃO PAULO, 21 de agosto de 2023 – Nos últimos 10 anos, foram emitidos cerca de 450 milhões de cartões de crédito e débito e produzidas 95 milhões de maquininhas no Brasil. Isso representa um volume de plástico de mais de 15 mil toneladas, equivalente a 14 vezes o peso do Cristo Redentor. A estimativa, feita com base em dados do Banco Central (BC), mostra que, apesar de termos um dos sistemas bancários mais sofisticados do mundo, precisamos de iniciativas mais agressivas para diminuir o uso de plástico no setor de pagamentos. Esse é um dos apontamentos do relatório Dinheiro Sem Plástico, lançado pela consultoria O Mundo Que Queremos, com o apoio da InfinitePay, plataforma de serviços financeiros da fintech brasileira CloudWalk.

Segundo o relatório Dinheiro Sem Plástico, enfileirados, os cartões emitidos no Brasil na última década seriam capazes de dar pouco mais de uma volta ao redor do planeta na linha do Equador. A área ocupada pelos cartões e maquininhas juntos é equivalente a 20 estádios do Maracanã. Só em 2022, foram produzidas mais de 20 milhões de maquininhas no Brasil, um aumento de 494% se comparado com o total de 2012.

O plástico pode demorar mais de 600 anos para se degradar e já é encontrado até no fundo dos oceanos e no leite materno. Além do lixo, sua produção alimenta a crise climática, pois mais de 99% de seus componentes derivam da indústria de combustíveis fósseis. No entanto, apesar dos alertas da comunidade científica e do esforço da Organização das Nações Unidas (ONU), que está preparando um tratado global para reduzir a poluição por plástico, o mundo continua produzindo milhões de toneladas do material por ano. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) estima que os custos sociais e ambientais dessa produção desenfreada chegam a US$ 1,3 trilhão.

“Temos a oportunidade de sair na frente nessa limpeza, pois contamos com um dos sistemas financeiros mais sofisticados do mundo”, diz o texto do relatório, lembrando que o impacto ambiental provocado por cartões e maquininhas nos últimos anos pode ser evitado com o uso de tecnologias que já estão disponíveis para a maior parte da  população, já que boa parte das transações do Brasil já é digitalizada.

O estudo sugere como evidência a rápida adoção do Pix no Brasil nos últimos anos. Apenas no ano passado, de acordo com dados da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), foram realizadas 163,3 bilhões transações bancárias via Pix. Os próximos passos naturais, segundo a análise, seriam a adoção de cartões 100% digitais, presentes em carteiras digitais e a popularização da tecnologia “Tap to Pay”, que transforma smartphones em maquininhas. São inovações que estão se popularizando juntamente ao pagamento por aproximação. Pesquisa realizada em julho pelo Instituto Datafolha a pedido da Abecs, associação que representa o setor de meios eletrônicos de pagamento, revela que 54% dos consumidores brasileiros costumam realizar pagamentos por aproximação usando seu cartão, celular, relógio ou outro dispositivo.

Clique aqui para baixar o relatório em português.


Clique aqui para baixar o relatório em inglês.

Fintech de maquininhas propõe o fim das maquininhas

A InfinitePay, plataforma de serviços financeiros que tem entre seus produtos uma maquininha, está assumindo uma postura mais forte frente ao desafio de eliminar todos os plásticos de seus pagamentos. Para conscientizar a indústria e inspirar essa mudança, a empresa está lançando a iniciativa “O Fim do Plástico nos Pagamentos: um convite para repensarmos a utilização do plástico e começarmos a construir esse futuro sustentável agora“.

A principal ação da empresa neste sentido é o InfiniteTap, uma tecnologia que possibilita “transformar smartphones em maquininhas”. Para isso, basta baixar o aplicativo InfinitePay, de forma gratuita, e começar a receber pagamentos por aproximação, sem a necessidade de adquirir aparelhos adicionais. “Desde 2019, quando desenvolvemos a nossa primeira maquininha da InfinitePay, sabíamos que essa era uma tecnologia de transição e que eventualmente iria sumir. Algo similar aconteceu com as câmeras digitais mais simples ou os aparelhos de GPS: ambos substituídos pelos smartphones”, explica Luis Silva, fundador e CEO da CloudWalk.”Temos observado uma rápida adoção do InfiniteTap por clientes que antes usavam maquininha. Desde novembro de 2022, o número de comerciantes cresceu em média 123% ao mês”.

Como ainda vê esse movimento de transição, a empresa ainda produz maquininhas de plástico, mas essas já contam com 30% de matéria prima reciclada. A empresa também sempre investiu no uso de cartões apenas no formato digital, poupando a emissão de cartões de plástico. Acreditamos que o futuro dos pagamentos pode ser mais rápido, sustentável e democrático, e que podemos acelerar essa mudança com tecnologias que já usamos todos os dias. Por isso, decidimos liderar o movimento de acabar com o uso de plásticos nos sistemas de pagamento.”

A iniciativa mostra como o Brasil pode ser líder nessa transformação do sistema financeiro. “Eliminar esses materiais aponta para o caminho que devemos seguir para continuar vivendo num planeta viável. Precisamos pensar em serviços e produtos que gerem negócios e ofereçam qualidade de vida para as pessoas, substituindo objetos físicos por bens digitais, que não exigem a extração de matéria-prima da natureza. Essa transição virtuosa é chamada de desmaterialização da economia”, afirma Alexandre Mansur, diretor de projetos do Mundo Que Queremos. “Tirar os plásticos e as maquininhas do sistema financeiro é uma dessas oportunidades de reduzir um impacto ambiental significativo sem exigir grandes mudanças no estilo de vida das pessoas e com ganhos de eficiência econômica para o país”, completa.

Coalizão Verde é a união dos portais de notícias 1 Papo Reto, Neo Mondo e O Mundo que Queremos com o objetivo de maximizar os esforços na cobertura de temas ligados à agenda ESG

Campanha Pare o Tsunami de Plástico impulsiona Projeto de Lei que reduzirá poluição

A ministra do Meio Ambiente Marina Silva, o presidente do Senado Rodrigo Pacheco e a relatora do PL 2524/2022, Zenaide Maia, comprometeram-se em acelerar a votação da matéria que regulamenta a Economia Circular do Plástico

Organizada pela Oceana e mais de 60 organizações da sociedade civil (veja toda a relação abaixo) a campanha Pare o Tsunami de Plástico, lançada oficialmente nesta terça-feira (15.8), no Salão Nobre da Câmara dos Deputados, foi abraçada por um sentimento de urgência tanto pelas autoridades dos poderes Executivo e Legislativo quanto por representantes de diversos segmentos do terceiro setor. 

No mesmo dia em que foi aberta a petição online em apoio ao Projeto de Lei  (PL) 2524/2022 (clique aqui para assinar), para que a sociedade brasileira se mobilize pela redução da produção excessiva de plástico descartável, autoridades como a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, anunciaram apoio ao PL.  Além disso e ainda mais importante, ambos se comprometeram com medidas que irão fazer com que esta proposta, que já está em tramitação no Senado, avance no Congresso e se torne lei, alinhando o país ao combate global contra a segunda maior ameaça ambiental ao planeta, segundo declara a Organização das Nações Unidas (ONU).

“Se o microplástico já chegou ao coração humano e se as evidências mostram que os oceanos não suportam mais receber esse tipo de resíduo poluente, precisamos de imediato apoiar a aprovação desse Projeto de Lei que, especialmente, chega às instâncias do Poder Público trazido pelas mãos da sociedade civil”, apontou a ministra Marina Silva, cuja equipe já prepara uma Nota Técnica favorável à aprovação do Projeto – apelidado pelas organizações de “Lei do Oceano Sem Plástico”. 

Comprometendo-se em levar o PL 2524 ao Colégio de Líderes do Senado para acelerar o trâmite de sua aprovação, o senador Rodrigo Pacheco reiterou o compromisso daquela Casa em tratar os temas ambientais com a responsabilidade que eles merecem. “Temos que ter um olhar minucioso sobre as propostas que tornam as atividades econômicas mais sustentáveis e, assim, combatermos a poluição dos nossos oceanos e dos biomas de maneira geral”, destacou ele.

Impactada com os números que envolvem a poluição por plástico no Brasil, a senadora e relatora do PL 2524, Zenaide Maia, defendeu a urgência de votação desse tema por considerá-lo também uma questão de saúde. “Sou médica e recebi da Oceana esse Projeto de Lei que aponta uma situação muito complexa, envolvendo esses plásticos não recicláveis que matam a nossa biodiversidade e espalham-se pelos nossos corpos. Há um argumento muito forte: 50% do plástico encontrado no mar foi produzido nos últimos 20 anos. Precisamos legislar sobre essa produção, que me parece desenfreada. Estou debruçada na construção de um relatório robusto para levar esse Projeto de Lei para votação na na Comissão de Assuntos Sociais (CAS)”.

DE BRAÇOS DADOS

Diretor-geral da Oceana, o oceanólogo Ademilson Zamboni está otimista com o lançamento da campanha Pare o Tsunami de Plástico. “A demanda pela rápida tramitação do PL 2524/2022 foi bem aceita no Senado.  O apoio do Ministério do Meio Ambiente, manifestado pela ministra Marina Silva, também revela a importância dessa pauta, visto que já ultrapassamos todos os limites aceitáveis para conviver com o nível de poluição imposta pela produção e oferta excessiva de plásticos.  Seu impacto se dá não só no ambiente, ameaçando a vida marinha, mas também afeta outras atividades, como o turismo e a pesca, por exemplo; e mais, por estar presente no corpo humano pode provocar efeitos que ainda nem conhecemos.  É um problema complexo que requer soluções à altura. Portanto, avançar com o PL 2524 é urgente”. 

Além de representantes das organizações que assinam a campanha, integrantes de diversos segmentos também vieram para o lançamento da campanha em Brasília. Maya Gabeira, surfista recordista de ondas gigantes, Campeã da Unesco para o Oceano e a Juventude e membro do Conselho Diretor da Oceana; Laila Zaid, atriz e ativista socioambiental; Ronei Alves, representante do Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR); Daniel da Veiga Oliveira, pescador artesanal do Rio Grande do Sul; Ana Toni, Secretária Nacional de Mudança do Clima do MMA; e Gustau Mañez, do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (Pnuma) compartilharam em uma Roda de Conversa, cada um em sua perspectiva, o quanto a poluição por plástico é uma ameaça devastadora ao planeta. 

Maya Gabeira contou que, até em lugares paradisíacos, a exemplo das Ilhas Maldivas, há muito lixo boiando no oceano. “Perdi a conta de quantas vezes tive que remover do mar chinelos, fraldas, sacos plásticos e garrafas para seguir remando. Nós, consumidores, precisamos encontrar soluções alternativas acessíveis ao plástico, porque estamos diante de uma indústria poderosa que não quer parar de produzir e enriquecer”.

Ela destaca um dos pontos mais elogiados do Projeto de Lei 2524: a transferência da responsabilidade da poluição do consumidor para a indústria produtora. Esse ponto, em especial, chamou atenção também da ministra Marina Silva, que considerou essa abordagem um avanço no debate nacional.  

Lidando diariamente com milhares de seguidores nas redes sociais, a atriz Laila Zaid sente, em suas postagens, que o consumidor quer essa mudança e não tolera mais tanto descaso com o meio-ambiente e o aumento da poluição por plásticos. “As pessoas só não sabem como fazer, justamente porque não há uma regulamentação para esse problema”, declara.

A ausência de um marco regulatório para a Economia Circular do Plástico afeta diretamente catadores e catadoras de materiais recicláveis, que arcam com o custo da destinação dos plásticos não recicláveis. “Uma quantidade enorme de itens que chegam até as cooperativas não vale absolutamente nada, e muito do que se vende nos mercados como embalagem reciclável não tem reúso algum. A indústria tenta enganar o consumidor com embalagens de design sedutor que acabam no lixo”, aponta Ronei Alves.

Desde que se tornou pescador em Palmares do Sul, Daniel da Veiga Oliveira recolhe em sua rede plásticos de todos os tipos e nacionalidades. Alguns danificaram o seu material de trabalho e lhe causaram prejuízos financeiros, já que o custo de uma rede gira em torno de três mil reais. Montando uma espécie de “museu do lixo plástico”, Daniel já catalogou detritos de 30 países, que ele expõe, como uma forma de protesto, em sua peixaria. “Muitos animais que chegam mortos à beira-mar, sobretudo, as tartarugas, são recolhidos pelos órgãos ambientais e passam por autópsias. Quando se abre o estômago, está lá o plástico”, denúncia.

Gerente de advocacy e estratégia da Oceana, Lara Iwanicki, acredita que a aprovação do PL 2524/2022 reposiciona o Brasil no bloco de países que trata a crise do plástico como prioridade e possui legislações que vão no cerne do problema: a redução da produção de itens plásticos de uso único que são completamente evitáveis no dia o dia da população, como talheres, copos, sacolas e canudos – para os quais já temos outras soluções no mercado. 

“Estou acompanhando a construção do Tratado Global contra a Poluição de Plásticos. O escopo do PL 2524/2022 está completamente afinado com a legislação internacional e também com a realidade do nosso país. A aprovação desse PL recoloca o Brasil no papel de protagonista na defesa das causas ambientais no mundo e abre espaço para uma economia mais moderna e sustentável”, contextualiza Iwanicki.   

Cinco motivos para assinar a petição Pare o Tsunami de Plástico1

  1. A poluição por plásticos é hoje a segunda maior ameaça ambiental ao planeta, segundo a ONU.
  2. Um em cada dez animais que aparecem mortos na costa brasileira ingeriram plásticos.
  3. A cada minuto, dois caminhões de lixo plástico são despejados no oceano, globalmente.
  4. O Brasil lança ao menos 325 milhões de quilos de resíduos plásticos todos os anos no oceano.
  5. Cientistas já encontraram microplástico no leite, na placenta, no pulmão, no coração e no sangue humanos.

Conheça o Projeto de Lei 2524/2022

O Projeto de Lei foi construído a partir do conceito de Economia Circular e propõe a eliminação de todos os itens plásticos desnecessários e problemáticos; a promoção de inovação direcionada para que todos os itens plásticos sejam reutilizáveis, retornáveis, recicláveis ou comprovadamente compostáveis; e a garantia da circularidade dos itens plásticos, para mantê-los dentro do sistema e fora do ambiente natural. 

Construído de maneira coletiva, com organizações da sociedade civil, representantes de movimentos sociais e de associações das indústrias de materiais alternativos ao plástico, o PL 2524/2022 foca na raiz do problema: o atual modelo de produção do plástico.

Seu texto está em sintonia com as práticas globais mais avançadas, mas sem desconsiderar a nossa realidade. Um dos seus objetivos, que reforça sua sintonia com o contexto local, é o reconhecimento do protagonismo de catadoras e catadores de materiais recicláveis para avançarmos com soluções para a poluição por plásticos, junto a uma proposta de sua inclusão no Programa Federal de Pagamento por Serviços Ambientais.

Organizações que assinam a campanha Pare o Tsunami de Plástico

  1. 350.org
  2. ACT – Promoção à Saúde
  3. Aliança Resíduo Zero Brasil (ARZB)
  4. Apoena Socioambiental
  5. Aquário de Ubatuba
  6. Arayara Instituto Internacional 
  7. Associação Civil Alternativa Terrazul
  8.     Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi)
  9.     Associação de Proteção a Ecossistemas Costeiros (Aprec)
  10. Associação Mico Leão Dourado
  11. Associação Nacional dos Órgãos Municipais de Meio Ambiente (Anamma)
  12. Break Free From Plastic
  13. BVRio
  14. Cataki
  15. Centro de Inteligência Urbana de Porto Alegre (Ciupoa)
  16. Centro de Trabalho Indigenista (CTI)
  17. Climate Smart Institute
  18. Coalizão Não Fracking Brasil (Coesus)
  19. Escoteiros do Brasil
  20. Força, Ação e Defesa Ambiental (Fada)
  21. Fridays for Future
  22. Fundação Ellen MacArthur
  23. Fundación Arayara
  24. Gaia
  25. Geração Oceano X
  26. Greenpeace
  27. Instituto 5 Elementos
  28. Instituto Água e Saneamento (IAS)
  29. Instituto Alana
  30. Instituto Aqualung
  31. Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec)
  32. Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema)
  33. Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora)
  34. Instituto de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS)
  35. Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ)
  36. Instituto Ecosurf
  37. Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB)
  38. Instituto Linha D’Água
  39. Instituto Mar Urbano (IMU)
  40. Instituto Perifa Sustentável
  41. Instituto Pólis
  42. Instituto Salve Mar
  43. Instituto Talanoa
  44. Liga das Mulheres pelo Oceano
  45. Litiga – Litigância Climática 
  46. Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais
  47. Movimento Jovens pelo Clima
  48. Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR)
  49. Movimento Salve Maracaípe
  50. Não Fracking Brasil 
  51. Núcleo de Caracterização de Materiais (NucMat) – Unisinos
  52. O Mundo que Queremos
  53. Observatório do Clima (OC)
  54. Observatório do Petróleo e Gás (OPG)
  55. Oceana
  56. Pimp My Carroça
  57. Projeto Hospitais Saudáveis (PHS)
  58. Rare
  59. Rede Fé, Paz e Clima
  60. SOS Amazônia
  61. SOS Mata Atlântica
  62. Uma Gota no Oceano
  63. Unicatadores
  64. Voz dos Oceanos
  65. WWF
  66. Xô Plástico

Foto: Oceana / Hugo Lira – representantes de diversas organizações que assinam a campanha Pare o Tsunami de Plástico foram a Brasília para participar do seu evento de lançamento

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Chamada de Novos Negócios 2023 busca empreendimentos comprometidos com a preservação da Amazônia

Iniciativas podem ser inscritas até 31 de julho. O objetivo do projeto, que é realizado pelo Idesam, AMAZ e Climate Ventures, é selecionar até 50 negócios de impacto

O projeto “Amazônia em Casa, Floresta em Pé” anuncia a abertura das inscrições para a Chamada de Novos Negócios 2023. Essa iniciativa inovadora tem como objetivo selecionar até 50 negócios de impacto que atuem com produtos e insumos da sociobiodiversidade amazônica e que estejam comprometidos com a preservação da floresta em pé.

Os selecionados terão a oportunidade de participar do próximo ciclo de atividades do projeto, que contará com programa de impulsionamento voltado para áreas como comercialização, divulgação de marca e logística, participação em campanhas, feiras e eventos, acesso à plataforma de e-commerce e fulfillment do Mercado Livre, além de outros benefícios.

Em 2022, o projeto ACFP trabalhou com 33 negócios de cinco estados brasileiros que participaram de um programa de impulsionamento dividido em quatro módulos: logística, comercialização B2B, comercialização B2C e mensuração de impacto. Além disso, foi oferecida uma trilha específica para nove negócios de base comunitária, com oficinas de comunicação e precificação. O projeto também realizou duas campanhas, participou de nove feiras e eventos, e estabeleceu parcerias logísticas com companhias aéreas. As vendas das marcas participantes alcançaram o valor de 1,5 milhão.

A iniciativa visa fortalecer a comunidade de negócios amazônicos e criar uma rede de aprendizagem, promovendo soluções inovadoras e estratégias comerciais para levar os sabores e saberes tradicionais da Amazônia até a casa dos consumidores brasileiros, ao mesmo tempo em que preservamos a floresta e geramos renda para as populações locais.

As inscrições para a Chamada de Novos Negócios 2023 estão abertas até 31 de julho de 2023. Os interessados podem se inscrever acessando o link www.amazoniaemcasa.org.br/chamada-2023. A inscrição nesta chamada é totalmente gratuita, assim como a participação nas ações do projeto.

O cronograma para a Chamada de Novos Negócios 2023:

  • Período de inscrições: 17 a 31 de julho de 2023
  • Etapa eliminatória: 01 a 04 de agosto de 2023
  • Etapa classificatória: 07 a 10 de agosto de 2023
  • Divulgação do resultado: 11 de agosto de 2023
  • Assinatura do Termo de Adesão: 14 a 18 de agosto de 2023
  • Boas-vindas aos novos negócios: 21 de agosto de 2023

O projeto ACFP é uma realização do Idesam, AMAZ e Climate Ventures, correalizado pelo Fundo Vale, ICS e CLUA, com o apoio do Mercado Livre, Mercado Pago, GIZ, Fundo JBS pela Amazônia e Humanize.

Para mais informações e esclarecimento de dúvidas, entre em contato pelo e-mail contato@amazoniaemcasa.org.br.

Sobre o projeto “Amazônia em Casa, Floresta em Pé”

O projeto “Amazônia em Casa, Floresta em Pé” tem como objetivo promover o desenvolvimento sustentável na Amazônia por meio do apoio e fortalecimento de negócios que atuem com produtos da sociobiodiversidade. Ao conectar esses empreendedores a novos mercados, a iniciativa busca gerar renda para as populações locais, valorizar os saberes tradicionais e contribuir para a conservação da floresta amazônica. Desde o seu lançamento em 20202, o projeto tem se destacado como uma referência na promoção de negócios sustentáveis na região. Para mais informações, visite o site do projeto www.amazoniaemcasa.org.br.

Foto: divulgação/ Fiis 2022

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Que tipo de PAC o Brasil precisa

O país deve mudar o jeito de decidir que projetos priorizar para melhorar a qualidade de vida das pessoas e atrair investimentos

O Brasil tem um déficit enorme de infraestrutura em várias áreas e essa carência atrapalha não só a qualidade de vida dos brasileiros, mas também o desenvolvimento de negócios. De modo geral, nossas estradas são ruins, não temos portos suficientes, nem ferrovias, nem transporte de energia, nem telecomunicações adequadas, até a nossa infraestrutura de aeroportos é insuficiente.

Isso sem falar em itens básicos, como rede de água e esgoto, hospitais e escolas. Não por acaso, muitas empresas alegam que o custo de operação no Brasil é muito alto. Se as estradas são ruins, transportar mercadoria é caro. Se as escolas são ruins, é mais difícil encontrar mão de obra qualificada. Se a segurança é insuficiente, operar em alguns lugares se torna menos atrativo e assim por diante.

Precisamos caminhar para a resolução desses problemas, mas, antes de darmos os primeiros passos, é essencial saber para onde estamos indo. Os projetos  precisam considerar desde o início qual é o problema que querem resolver e propor soluções que levem em conta não só uma proposta específica, muitas vezes sugerida para atender um lobby particular.

O planejador público precisa considerar os custos e oportunidades do ponto de vista econômico, social e ambiental. Essas dimensões precisam andar juntas para tomarmos as melhores decisões para o país como um todo. Embora o desafio seja enorme, também existe aí uma oportunidade. Os investimentos certos geram retornos certos. Resolver nossos gargalos de infraestrutura é urgente, mas, antes de fazer, temos que nos fazer algumas perguntas.

Nos últimos meses, o presidente Lula tem falado bastante no assunto e tudo indica que um programa de investimentos em infraestrutura, que tem sido chamado de Novo PAC, será lançado nos últimos dias. A notícia pode ser positiva, mas é importante lembrar que não basta ter dinheiro público, é preciso investi-lo com inteligência. Esse modelo de desenvolvimento baseado em megaprojetos, por exemplo, precisa ser repensado.

Na Amazônia, isso é vital. Tais obras podem até empregar um monte de gente, mas também atraem toda sorte de oportunistas e quase sempre não resolvem os problemas reais de quem vive na região. Para dar um exemplo, a população do entorno da Usina Hidrelétrica de Tucuruí só recebeu energia elétrica cerca de 20 anos depois de sua construção. Historicamente, os projetos colocados na frente da fila de prioridade não têm sido aqueles que mais vão beneficiar as pessoas que vivem naquelas regiões, mas os que atendem aos interesses de gente influente.

Precisamos mudar o nosso jeito de decidir as coisas e um bom jeito é partir da pergunta. Por exemplo, se é preciso aumentar a capacidade de transporte de produtos de uma região: onde está a população a ser atendida? Talvez fique claro que, mais do que construir uma estrada nova, é necessário melhorar a infraestrutura das estradas mais usadas para carga geral, produtos que a população consome no dia a dia e circulam, principalmente, nas grandes rodovias. Para melhorar a qualidade de vida das pessoas das regiões mais carentes, o mais importante a priorizar é o saneamento básico, a saúde, a educação, antes de qualquer outra coisa.

É urgente uma reflexão sobre quais critérios são utilizados para selecionar essas obras. É o que propõe uma nota técnica, que acaba de ser lançada, pelo Instituto Brasileiro de Auditoria de Obras Públicas (Ibraop), a Transparência Internacional – Brasil, Instituto Socioambiental (ISA), Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) e GT Infraestrutura e Justiça Socioambiental.

Essas organizações, que já alertam há anos sobre a necessidade de repensar as prioridades do Brasil para a infraestrutura, trazem no documento um conjunto de critérios para a análise prévia de alternativas de investimentos, contribuindo para o fortalecimento dos procedimentos e normas que disciplinam a governança, o planejamento, a seleção e a avaliação dos investimentos em infraestrutura no país.

“A elaboração de cenários alternativos de infraestrutura que incorporem critérios socioambientais e econômicos transparentes na comparação de projetos, com ampla participação da sociedade, deveriam fundamentar a seleção dos investimentos que estruturam tanto o orçamento público como as Parcerias Público Privadas (PPI)”, explica André Luis Ferreira, diretor-presidente do IEMA. “Historicamente, o planejamento de infraestrutura no país enxerga os danos aos povos e comunidades tradicionais e locais como ‘sacrifícios necessários’ para o desenvolvimento dos projetos, e isso não é mais aceitável”, ressalta Mariel Nakane, do Instituto Socioambiental (ISA).

Especialmente se falamos da Amazônia, uma das grandes preocupações das organizações acima, o Brasil precisa mudar o seu olhar.  Muito do que se pensa para a região ainda não é para o seu desenvolvimento, mas para a sua exploração. Alguns brasileiros ainda têm uma visão de ocupação e invasão, como se lá fosse um território vazio. Na verdade, para preservar a floresta, que é um patrimônio, precisamos cuidar das pessoas que vivem lá.

E elas precisam de coisas muito diferentes do que quem está sentado em um escritório em Brasília ou São Paulo pensa. Por exemplo, que trata-se de uma região bastante heterogênea, como mostra o estudo “As 5 Amazônias”, do projeto Amazônia 2030. Precisamos ter esse olhar na etapa inicial de planejamento de qualquer projeto. Porque, depois, só podemos reduzir danos. E não é assim que vamos avançar e atrair mais investimentos para o país.

Este artigo foi escrito por Angélica Queiroz e Alexandre Mansur e publicado na coluna Ideias Renováveis, da Exame.

Foto: depositphotos

AstraZeneca irá investir mais de R$ 350 milhões em reflorestamento no Brasil

Serão plantadas 12 milhões de árvores nativas (148 espécies) numa área de 6 mil hectares, o equivalente a 6 mil campos de futebol

POR – OSCAR LOPES, ESPECIAL PARA COALIZÃO VERDE (1 PAPO RETO, NEO MONDO E O MUNDO QUE QUEREMOS)

AstraZeneca anunciou investimento de mais de R$ 350 milhões na restauração florestal da Mata Atlântica através do Projeto AR Corredores de Vida, eleito o melhor projeto de créditos de carbono do mundo pelo Environmental Finance 2022. Para tal façanha, a AstraZeneca firmou parceria com a Biofílica Ambipar e o IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas), através desta iniciativa serão plantadas 12 milhões de árvores, em mais de 6 mil hectares ou o equivalente a 6 mil campos de futebol, gerando 400 empregos diretos, além de proporcionar mais segurança para a fauna e flora ameaçadas de extinção.

A iniciativa da biofarmacêutica global está alinhada ao Plano Estadual de Meio Ambiente do Governo de São Paulo, que prevê investimentos de mais de R$ 2,1 bilhões em ações de sustentabilidade nos próximos quatro anos.

O Plano Estadual de Meio Ambiente prevê 21 ações em seis eixos até o final de 2026: Biodiversidade; Bioeconomia e Finanças Verdes; Parques Estaduais; Educação e Conscientização Ambiental; Fortalecimento Institucional; e Resiliência e Adaptação Climática. A iniciativa foi lançada pelo governador Tarcísio de Freitas em 5 de junho, Dia Internacional do Meio Ambiente.

O maior investimento do Plano Estadual é previsto no eixo da Biodiversidade, com estimativa de R$ 1 bilhão. Até 2026, 37,5 mil hectares de vegetação serão restaurados por meio de seis programas já em execução, como o Refloresta São Paulo e o Conexão Mata Atlântica, além de iniciativas do setor privado, como a anunciada nesta quinta.

O objetivo do projeto é criar corredores ecológicos por meio da restauração da vegetação nativa da Mata Atlântica e promover a conectividade entre os fragmentos florestais remanescentes localizados na região do Pontal do Paranapanema, no extremo oeste do Estado de São Paulo. A priori esse reflorestamento será focado em áreas privadas, podendo ser realizado futuramente em áreas públicas. A iniciativa vai ao encontro da proposta do Governo de São Paulo, que também prioriza a formação de ecossistemas que ligam áreas florestais fragmentadas, facilitam a cobertura vegetal nativa e ampliam a proteção da fauna.

A cerimônia do anúncio oficial da parceria entre AstraZeneca, Biofílica Ambipar e IPÊ no Projeto AR Corredores de Vida aconteceu nesta quinta (6) no Palácio dos Bandeirantes, sede do Governo do Estado de São Paulo com a presença do Vice-Governador do Estado de São Paulo, Felício Ramuth, dos secretários estaduais Natália Resende (Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística), Jorge Lima (Desenvolvimento Econômico), executivos da farmacêutica Carlos Sánchez (vice-presidente, AstraZeneca América Latina), Olavo Corrêa (diretor-geral, AstraZeneca Brasil), Jorge Mazzei (diretor-executivo de Relações Corporativas da AstraZenica Brasil), Plínio Ribeiro (fundador da Biofílica Ambipar) e Eduardo Ditt (diretor-executivo do IPÊ).

A iniciativa local é parte do projeto global AZ Forest, cujo objetivo é plantar mais de 200 milhões de árvores em todo o planeta até o final de 2030 a fim de ajudar a combater as mudanças climáticas que afeta todo o ecossistema mundial.

Confira o que disseram os representantes das empresas envolvidas no projeto:

Olavo Corrêa (diretor-geral, AstraZeneca Brasil) – “O investimento da AstraZeneca no AR Corredores da Vida visa ajudar no combate às mudanças climáticas, melhorando a saúde das pessoas, das comunidades e do planeta, que ao nosso ver estão intrinsicamente ligadas. Mais do que Corredores da Vida, estamos contribuindo para Corredores da Saúde”.

Plínio Ribeiro (CEO da Ambifílica Ambipar) – ” O projeto de restauração no Pontal do Paranapanema existe há mais de 20 anos, mas é um processo caro e que depende de investimento contínuo para ser viabilizado e, principalmente, ganhar escala. O financiamento da iniciativa privada via carbono é hoje a melhor alternativa, pois permite que grandes companhias como a AstraZeneca possa contribuir nesse processo. O investimento será revertido no plantio de 6 mil hectares de floresta na Mata Atlântica até 2025″.

Eduardo Ditt (diretor-executivo do IPÊ) – “O IPÊ tem mais de 30 anos de atuação no Pontal do Paranapanema e começamos a implantação de corredores como uma estratégia de conservação da paisagem e de espécies ameaçadas como o mico-leão-preto. Ao longo do processo, vários parceiros foram se reunindo conosco para alavancar essa restauração florestal da Mata Atlântica, inclusive o setor privado. A nova parceria vai contribuir ainda mais com esse projeto e para a conexão da paisagem, em um bioma que é um dos mais desmatados do Brasil”.

Atualmente, São Paulo registra queda de 82% no índice de desmatamento para vegetação destruída, entre 2021 e 2022, de acordo com o Painel Verde – plataforma da gestão paulista que combina dados de satélite e autuações feitas pela Polícia Militar Ambiental.

Em cerimônia no Palácio dos Bandeirantes nesta quinta (6), executivos da AstraZeneca anunciaram investimento privado de R$ 350 milhões para o plantio de 12 milhões de árvores  –Foto: Divulgação

Foto de capa:  iStock

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