Adaptação aos riscos climáticos oferece oportunidades nas cidades da América Latina

Países latino-americanos encontram oportunidades financeiras em planos para uma recuperação econômica que incluem soluções baseadas na natureza

O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)1 publicado em fevereiro de 2022, não nos traz alento. A partir dele constatamos que, apesar dos esforços para reduzir os riscos, as mudanças climáticas ainda ocasionam consequências sérias e negativas na natureza, atingindo grande parte da população mundial, pois entre 3,3 e 3,6 bilhões de pessoas vivem em áreas vulneráveis aos eventos extremos. No contexto local, o Brasil tem sido impactado por fortes chuvas que, além de perdas econômicas, resultaram em perdas de vidas humanas. Segundo estudo da Confederação Nacional de Municípios (CNM), nos últimos três anos as inundações contabilizaram um prejuízo de R$ 55 bilhões2, e nesse período, 637 pessoas morreram por causa dos desastres ocorridos na mesma intensidade que as chuvas registradas.

É possível ter expectativas de que algo mudará? De fato, vimos que as mudanças do clima também nos trazem oportunidades financeiras, algo importante em um cenário de recessão mundial causada pela pandemia de Covid-19. Alguns países latino-americanos traçam planos para uma recuperação econômica que incluem soluções baseadas na natureza. Temos como exemplo a Colômbia, que trabalham para restauração de áreas degradadas, arborização urbana e redução do desmatamento, além de empregar US$ 4,7 bilhões para acelerar 27 projetos de energia renovável, criando 55 mil novos empregos. No Brasil, o plano de recuperação verde traria em 2030 um aumento acumulado de até R$ 2,8 trilhões no PIB, comparando com a tendência atual (business as usual)4.

Está claro que os riscos climáticos impactam fortemente os países na América Latina. Em 2021, 297 municípios utilizaram o CDP-ICLEI Track para divulgar seus perigos e oportunidades relacionados à mudança do clima. Essas cidades concentram cerca de 163 milhões de habitantes, o que significa 25% da população da América Latina e Caribe5.

Desse total, 274 municípios reportaram pelo menos uma ameaça, totalizando 1.188 riscos relacionados à mudança do clima. Alguns foram agrupados, diferindo-se do questionário original, para permitir um olhar mais amplo de quais são as vulnerabilidades latino-americanas. E assim, tempestades (30%), inundações (15%), calor extremo (14%), escassez hídrica e secas (14%) e perigos biológicos (9%) foram elencados como os riscos mais iminentes na região.

E como as cidades da América Latina estão aproveitando as oportunidades? Ao menos 224 cidades mencionaram 871 oportunidades, exemplificando novos modelos de negócios sustentáveis. A maioria dessas melhorias foram identificadas em categorias como Gestão de resíduos (13%), Eficiência energética (10%), Projetos de resiliência climática (10%), Gestão da água (9%) e Risco reduzido para o capital natural (8%).

Foram essas análises, baseadas nas informações divulgadas pelas cidades no CDP-ICLEI Track, assim como os resultados do último relatório do IPCC, que nos mostraram como os municípios da América Latina têm um papel importantíssimo na busca de soluções e o quanto são capazes de suportar esses impactos, trazendo soluções sustentáveis que contribuam para que alcancemos a neutralidade de carbono até 2050.

Este artigo foi escrito por Andreia Banhe, gerente-sênior e Hannah Corina é assistente de Cidades, Estados e Regiões de CDP América Latina. Publicado, originalmente, na coluna Ideias Renováveis, da Exame.
Imagem: (Prefeitura de Itu/Divulgação)

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